21/03/2022 às 06h32min - Atualizada em 21/03/2022 às 06h32min

​ESTÁ SE ACHANDO VELHO?

NO FUTURO NÃO HAVERÁ VELHICE.

 
Sem dúvida, o combate ao envelhecimento é uma fixação do ser humano. Ao longo dos séculos, o homem tem conseguido avançar – mas agora surge uma luz maior: 'A ciência conseguirá curar o envelhecimento no futuro', diz o especialista em longevidade João Pedro de Magalhães, Professor da Universidade de Liverpool, dedicado a frear o envelhecimento. Ele fala sobre como o avanço da ciência pode acabar com o limite imposto pela biologia para a longevidade humana, em entrevista para Giulia Vidale – que vale a pena ler, esfregando as mãos de felicidade...

O biólogo português João Pedro de Magalhães lidera o Laboratório de Genômica Integrativa do Grupo de Envelhecimento, que investiga os mecanismos genéticos, celulares e moleculares associado ao passar dos anos. Ele defende que a tecnologia poderá acabar com o limite imposto pela biologia para a longevidade humana e fala sobre as principais promessas da medicina para conter os efeitos da idade.
 
Qual é o limite da expectativa humana hoje? 
Por enquanto, o limite da expectativa de vida humana parece ser de 122 anos, que é o recorde atual da longevidade. Ele pertence à francesa Jeanne Calmant. Mas, em termos de futuro, quais são os limites de como a tecnologia poderá impactar nossa capacidade? Eu acho que devemos ser muito humildes sobre como a tecnologia progride. Se alguém voltasse 200 anos ou mesmo 100 anos atrás e dissesse às pessoas daquela época que no futuro haverá um pequeno dispositivo, que cabe no bolso, e que permite nos comunicar instantaneamente com outra pessoa, em qualquer lugar do mundo ou até mesmo no espaço. Se dissessem isso a alguém que vive em um mundo de 100 anos atrás, essa pessoa diria que você é louco. Que isso não seria possível. Mas hoje sabemos que é possível porque temos smartphones.
 
O senhor acredita que um dia será possível aumentar a expectativa de vida de maneira indeterminada?  
Não há dúvida que existe um limite biológico para a longevidade humana. Mas isso é como dizer que há um limite para o quanto conseguimos pular ou que há limites físicos que nos impedem de voar, por exemplo. Nós não podemos voar. Mas podemos construir aviões e usá-los para voar. Da mesma forma, podemos utilizar a tecnologia para superar nossos limites biológicos. A civilização, a tecnologia e a ciência trabalham justamente para superar esses limites. E a partir das últimas descobertas, vejo que teremos muitos avanços no campo do envelhecimento. No futuro, se realmente conseguir redesenhar biologicamente os humanos, a ciência conseguirá não ter mais um limite biológico para a longevidade e irá curar o envelhecimento. É claro que as pessoas ainda morreriam de acidentes, por exemplo. Mas chegaríamos em um ponto em que as pessoas poderiam viver milhares de anos e os riscos para a longevidade seriam o aquecimento global e as armas nucleares, não questões biológicas.
 
O senhor não acha que viver tanto assim seria antinatural?
Sim, com certeza isso seria muito antinatural. Da mesma forma que me comunicar via internet com alguém no Brasil não é natural. Do mesmo jeito que usar óculos para enxergar, como é o meu caso, não é natural. Quando eu tinha sete anos de idade, eu tive pneumonia. Quando alguém tem pneumonia, o natural seria essa pessoa morrer e é exatamente isso o que aconteceria há 100 anos. Felizmente, hoje nós temos meios não naturais de curar doenças como a pneumonia, graças ao desenvolvimento de antibióticos. Recebi injeções extremamente doloridas de antibióticos, mas que salvaram a minha vida. Então acredito que a civilização e a tecnologia são sobre superar nossos limites naturais. E eu não estou dizendo que isso é bom em qualquer circunstância, mas, muitas vezes, isso é benéfico. Em especial quando ficamos doentes e há diversas opções de tratamento que foram desenvolvidas a  partir da ideia de fazer as pessoas viverem o máximo possível, o mais saudável possível. Isso é superar as barreiras naturais. É artificialmente intervir na biologia humana para nos deixar mais saudáveis e eu acho isso fantástico.
 
Nós vemos isso com a Covid, certo? Se não fossem as vacinas ou os tratamentos, a letalidade da doença seria muito maior.  
Exato. As vacinas de RNA mensageiro não são nada naturais, mas eu estou muito feliz e agradecido que nós as temos.
 
E seria possível frear ou reverter o envelhecimento?  
Em animais, incluindo roedores, nós conseguimos retardar o envelhecimento e estender a longevidade. Algumas manipulações genéticas e dietéticas em camundongos e ratos podem prolongar a expectativa de vida desses animais em até 50%. Mas ainda não sabemos como reverter o envelhecimento em mamíferos, dado que esse é um aspecto intrínseco da nossa biologia. Eu acredito que um caminho para fazer isso seria pela manipulação genética. Nós teríamos que redesenhar os humanos, redesenhar nosso DNA para evitar o envelhecimento. Mas hoje, não sabemos como fazer isso. A Altos Labs, empresa que tem por trás grandes nomes como o Jeff Bezos, busca estudar a reprogramação celular, que é um método que permite reverter alguns aspectos do envelhecimento celular. A limitação é que ninguém sabe se isso funciona em um organismo como um todo. Mas temos muitas drogas, dietas e alterações de estilo de vida que se mostraram capazes de retardar o envelhecimento em modelos animais.
 
Alterações no estilo de vida também podem ajudar quanto?
Eu diria que, neste momento, você deve seguir o conselho da sua mãe e ter um estilo de vida mais saudável. A maioria das intervenções que podemos fazer hoje está associada ao estilo de vida. Mas é preciso lembrar que a genética desempenha um grande papel na determinação de nosso estilo de vida, não no que fazemos, mas no sentido de determinar nossa expectativa de vida e taxas de envelhecimento. Nós sabemos que a principal razão para as pessoas se tornarem centenárias é a genética. O problema é que, obviamente, não podemos escolher nossos pais ou avós. Então, o que podemos fazer são alterações no estilo de vida. Mas estou otimista de que, no futuro, com novas tecnologias e o desenvolvimento de terapias genéticas, será possível fazer mais intervenções. Seremos capazes de aproveitar o que estamos descobrindo no nível genético para beneficiar os humanos porque, atualmente, mesmo que consigamos descobrir qual gene modula ou determina a longevidade humana, não podemos alterá-lo.
 
Além da manipulação genética, quais outros avanços podem desempenhar um papel importante no objetivo de aumentar a longevidade?  
Com certeza, os medicamentos são um ponto importante. Muitos deles já contribuem para vivermos mais ao tratar doenças, por exemplo. Também já há muitos avanços na descoberta e desenvolvimento de novos medicamentos para a longevidade. Há também outros avanços como biossensores que possibilitam um melhor diagnóstico ou prever o desenvolvimento de doenças. Há também a medicina personalizada, que busca identificar a melhor droga ou intervenção no estilo de vida para determinada pessoa.   
 
Seria possível tornar as pessoas resistentes a doenças?  
Na teoria, sim, é possível. Existem animais e até mesmo pessoas resistentes à doenças. Fizemos um trabalho com ratos-toupeira-pelados, que são roedores de vida longa, muito resistentes ao câncer. Mas, na prática, isso é muito mais complicado porque nem sempre está claro quais são os mecanismos que levam a essa resistência. Depois de identificar esses mecanismos nesses organismos resistentes, é preciso aplicá-los aos humanos e isso também é um desafio. Então essa é uma linha de pesquisa interessante e promissora, mas ainda há muito trabalho a ser feito.
 
Leia também no Globo/Giulia Vidale

 
Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »