14/06/2021 às 11h41min - Atualizada em 14/06/2021 às 11h41min

BOLSONARO QUERIA ESCOLHER A VACINA

NÃO QUERIA EPIDEMIOLOGISTA ESCOLHENDO


Ethel Maciel é epidemiologista da UFES (Universidade do Espírito Santo) e participou do comitê de cientistas que assessorou o PNI (Plano Nacional de Imunização contra Covid-19). Na noite deste domingo, 13, ela deu entrevista exclusiva à TV247 revelando que governo Bolsonaro tentou impor um plano só com vacina da AstraZeneca, sem cobertura universal.

Ethel participou do comitê como indicada da Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva). Ela relatou que o comitê, que deveria ter sido instalado logo nos primeiros sinais da pandemia, em fevereiro-março de 2020, “demorou muito” e começou seus trabalhos apenas em fins de setembro. “Muitos técnicos experientes não estavam mais no PNI, o que atrasou demais os trabalhos”, relatou.

Disse ela que as reuniões eram marcadas por grande tensão no grupo responsável por definir os grupos prioritários à vacinação, “porque até dezembro o governo não tinha plano e só tinha o acordo com a AstraZeneca-Oxford – nem o acordo com o Butantan estava feito". Segundo Ethel, havia enorme constrangimento nas reuniões, porque os técnicos do Butantan participavam das reuniões e “começou uma série de desentendimentos entre os consultores e os técnicos do governo”.

Em 1º de dezembro, na primeira reunião com a participação de Pazuello, o general que era ministro da Saúde, os cientistas foram informados de que não havia seringas para vacinação.  “Foi um choque! Corríamos o risco de ter vacinas e não ter seringas”. Ou seja, uma situação kafkiana. E mais: o governo queria um Plano Nacional de Imunização restrito à AstraZeneca, o que seria insuficiente para vacinar a população. Os cientistas argumentavam que eles é que deveriam dizer como o plano deveria ser feito para ser universalizante e ao governo caberia buscar as vacinas.

“Em seguida, começou outro impasse, sobre os grupos prioritários para vacinação”, contou a infectologista. Ela disse que o governo, por motivos ideológicos, tirou a população carcerária dos grupos prioritários, contrariando todo o conhecimento científico acumulado em epidemias. “Não tem como vacinar as forças de segurança e não vacinar as pessoas privadas de liberdade” afirmou a cientista – mas, infelizmente, foi assim que foi feito. 

O confronto entre os cientistas e o governo chegou ao seu ponto máximo em 11 de dezembro, quando o governo Bolsonaro enviou ao STF, por exigência da Corte, o Plano Nacional de Imunização e informou que os cientistas do comitê de assessoramento haviam aprovado o plano de imunização. “Foi um choque, ficamos sabendo pela imprensa de um plano com nossos nomes como elaboradores e que nunca tínhamos visto e sobre o qual tínhamos discordâncias importantes”. Os 36 cientistas soltaram imediatamente uma nota denunciando a farsa. “Trabalho com pesquisa desde 1994 e nunca vivenciei uma situação de desrespeito como essa”, relatou Ethel.
A epidemiologista Ethel Maciel é pós-doutora em Epidemiologia (pela Johns Hopkins University) e professora titular da UFES. Em março de 2020, foi eleita reitora da UFES, com o voto da comunidade e do Conselho Universitário, mas não foi nomeada por Bolsonaro.

Já Bolsonaro tem doutorado em desgoverno...

Veja mais na TV247, com a participação também do virologista Eurico Arruda (coordenador do Laboratório de Patogênese Viral da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto – FMRP/USP) e da matemática Elenira Vilela, professora do Instituto Federal de Santa Catarina.


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