30/11/2017 às 15h22min - Atualizada em 30/11/2017 às 15h22min

LUTA CONTRA A AIDS: MINHA SAÚDE, MEU DIREITO

Hayle Gadelha

 

 

Na semana em que o mundo se mobiliza contra a Aids (1° de dezembro é o dia Internacional da Luta Contra a Aids), a Organização Mundial de Saúde faz um alerta: em 2016, 160 mil pessoas foram diagnosticadas com o vírus HIV na Europa, 80% dos casos no Leste Europeu.

 

“É o maior número de casos registrados num só ano”, diz a diretora para a Europa da Organização Mundial de Saúde, Zsuzsanna Jakab. "Se essa tendência persistir, nós não cumpriremos a nossa meta de erradicar a epidemia do HIV até 2030.

Mas a UNAIDS, órgão das Nações Unidas que trabalha no combate e controle da doença, também reconhece que houve avanços. No ano passado, cerca de 1,8 milhão de pessoas foram infectadas pelo HIV, uma diminuição de 39% em relação aos 3 milhões que se infectaram no pico da epidemia no final dos anos 90. Na África Subsaariana, o número de novas infecções por HIV caiu 48% desde 2000.

 

Apesar desses números, na mensagem sobre o Dia Internacional da Luta contra a Aids, o diretor executivo do UNAIDS, Michel Sidibé,  afirma que  “ a África Ocidental e Central ainda está sendo deixada para trás. Duas em cada três pessoas estão sem acesso ao tratamento. Não podemos ter uma abordagem de dois pesos e duas medidas para acabar com a epidemia de AIDS.”

    

Preconceito, uma barreira a ser derrubada

 

As pessoas mais marginalizadas da sociedade, incluindo profissionais do sexo, travestis e pessoas trans, pessoas que usam drogas injetáveis, gays e outros homens que fazem sexo com homens, pessoas nas prisões e migrantes, geralmente são menos capazes de acessar seu direito à saúde - e são os mais vulneráveis ao HIV.

Por isso, a campanha desse ano para mobilizar a sociedade para o Dia Internacional na Luta Contra a Aids é Minha Saúde, Meu Direito.

 

A campanha reafirma os desafios que as pessoas em todo o mundo enfrentam no exercício dos seus direitos.

 A enfermeira e professora efetiva da Universidade Federal Fluminense, Isabel Cruz, coordena o Núcleo de Estudos de Saúde de Etnia Negra. O grupo monitora o atendimento da população no SUS.

 

Ela lembra que o Brasil é um dos poucos países no mundo onde, por lei, a saúde pública é universal, para todos, e  faz uma triste constatação : “O nosso programa de combate à Aids é muito bom, mas a doença é secundária. A cor, a condição social, a localização onde mora e a orientação sexual são de alta discriminação social. Se um morador de rua entrar numa unidade de saúde e pedir um preservativo, vão exigir até atestado de residência para saber se ele pode ser atendido lá”.

 

Na Escola de Enfermagem da UFF, Isabel Cruz ensina a disciplina Diversidades, Equidade e Cuidados em Saúde. E faz um alerta: “As instituições de ensino, pesquisadores, gestores das unidades de saúde precisam verificar se os processos de trabalho dos profissionais direcionam os cuidados necessários para as atividades de triagem, atendimento e gerenciamento para resultados de melhor qualidade”. E a professora vai além. “É preciso derrubar as barreiras. Uma pessoa que atende ao usuário do SUS a partir de um viés racial causa um dano enorme, causa até a mortalidade. E o paciente nem sabe porque está sendo tratado daquela maneira. Não tem defesa. É muito pior que o preconceito. O nome disso é violência”.

 

Para Isabel Cruz, datas como o Dia Internacional da Luta contra a Aids também são muito importantes para alertar contra as outras doenças transmissíveis. E revela números assustadores. “Os últimos levantamentos sobre o atendimento nos hospitais públicos da Região Metropolitana do Rio registram o nascimento de 100 crianças, todo mês, com a sífilis congênita, doença herdada pelos pais infectados pela sífilis. O gestor que não se preocupa em comprar Benzetacil para o tratamento da sífilis também é omisso”.

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