O Brasil está mergulhado na maior polêmica sobre propostas para a compra de vacinas que foram ignoradas e está com dificuldades para manter a produção de doses. Apesar disso, o governo brasileiro afirmou na OMS, nesta terça-feira, 25, que o país está "pronto" para fornecer vacinas aos países mais pobres. O discurso do Itamaraty foi no segundo dia da Assembleia Mundial da Saúde, o principal encontro da OMS no ano e que determina as estratégias de combate ao vírus.
"O Brasil está pronto para contribuir com os esforços globais contra a Covid-19, por meio do fornecimento de doses de vacinas produzidas localmente", disse a delegação brasileira. Mas não houve qualquer referência sobre quando isso poderia ocorrer, nem quais seriam os destinos das doses. Mas a coluna de Jamil Chade apurou que o caminho avaliado seria por meio da Covax, instrumento criado pela OMS para distribuir vacinas aos países mais pobres.
Acontece que o país ainda está longe de garantr abastecimento de doses para a população brasileira!!! Na semana passada, a Fiocruz e o Instituto Butantan ficaram sem insumos para produzir vacinas, milhões de pessoas tiveram a segunda dose atrasada e metas de imunização não foram cumpridas nos últimos meses!!!
Além disso, não há uma vacina nacional autorizada. "Neste momento, falar algo assim é delírio", afirmou o senador Humberto Costa, ex-ministro da Saúde. Ele não descarta que isso possa ocorrer no futuro, principalmente por meio do Instituto Butantan.
Números inflacionados Nessa segunda-feira, 24, ao abrir a Assembleia Mundial da Saúde, o ministro Marcelo Queiroga apresentou um cenário de vacinação no país que não tem nada a ver com o levantamento realizado diariamente pelo Consórcio de Imprensa. "Hoje, nossa maior esperança para permitir o retorno gradual e seguro à normalidade é a ampla vacinação. Até o momento, o SUS já distribuiu mais de 90 milhões de doses de vacinas e vacinou mais de 55 milhões de pessoas, dentre as quais mais de 80% dos indígenas", disse o ministro na OMS.
Mas, nos números do Consórcio, são 41,9 milhões de brasileiros que receberam pelo menos uma dose de imunizante. Até o momento, 20,6 milhões de pessoas foram beneficiadas por duas doses, o que leva a pensar que Queiroga trocou vacinas por pessoas – ou vice-versa...
A OMS sabe que o mecanismo internacional de distribuição de doses corre o risco de não conseguir atingir sua meta de vacinar 20% da população dos países mais pobres até o final do ano, por causa da crise sanitária na Índia e o atraso no fornecimento de doses por parte das grandes empresas. O apelo da OMS, portanto, é para que governos que tenham doses extras possam destinar uma parcela de seus estoques para também vacinar os países mais pobres. O alerta da agência é de que, enquanto a disparidade vingar, a ameaça da pandemia continuará para todos, inclusive para os países com elevadas taxas de vacinação. Durante a reunião na manhã desta terça-feira, 25, a Anvisa destacou como, nos países ricos, a taxa de vacinação era 75 vezes os números registrados nos países mais pobres do mundo e alertou que essa disparidade precisava ser superada.
Em março e em abril, em reuniões com ministros brasileiros, a cúpula da OMS fez um apelo para que o Brasil volte a assumir sua "liderança histórica" em saúde. O chamado não foi por acaso. A agência acredita que a atual capacidade de produção de vacinas não será suficiente para abastecer o mundo em 2021 e que, portanto, o fornecimento de doses terá de ser diversificado. Uma das apostas, principalmente para o final de 2021 e 2022, seria a produção doméstica brasileira e um fornecimento para a região latino-americana e outros destinos entre os países em desenvolvimento.
Tomara que o governo Bolsonaro esteja bem vacinado e atenda esse apelo da OMS...