05/05/2021 às 10h08min - Atualizada em 05/05/2021 às 10h08min

​UM 4 DE MAIO PARA O BRASIL NÃO ESQUECER

DEPOIMENTO DE MANDETTA E MORTE DE PAULO GUSTAVO


O dia político começou quente, foi esquentando ainda mais com o passar das horas e começou a ferver com o depoimento de Henrique Mandetta na CPI da Covid. Foi sem dúvida um evento de grande impacto, que durou mais de sete horas, ininterrupto, com alta taxa de informação e de emoção o tempo inteiro.
Mandetta veio para acontecer. Sabia o material explosivo que tinha nas mãos e sabia muito bem como usá-lo, graças à sua indesculpável temporada bolsonariana. Tinha como alvo unicamente Jair Bolsonaro e sua ‘família Tropa’. Ergueu o dedo indicador e apontou o presidente como principal culpado pelas centenas de milhares de mortes e milhões de infectados pelo coronavírus. Ele e ninguém mais. Com isso, Mandetta procurou livrar a própria cara do erro que cometeu, sendo ministro da Saúde de um genocida...

Mandetta foi detalhista. Começou pela lista de medidas que adotou nos três meses em que estava à frente do ministério da Saúde no enfrentamento da Covid, precisamente de janeiro a abril de 2020. Citou a entrega a estados e municípios de 15 mil UTIs com respiradores e a aprovação pelo Congresso de uma lei com regras para aplicação da quarentena no país e com medida de isolamento social. Lembrou que havia apresentado a Bolsonaro uma avaliação que previa a morte de 180 mil pessoas até o fim de 2020: “Alertei sistematicamente, inclusive fazendo as projeções. A projeção de 180 mil óbitos até 31 de dezembro, na verdade nós tivemos 191 mil, nós erramos por 11 mil. Eu dei por estado e por cidade.”

Teve tempo um para momento de grande ironia. Foi quando o senador Ciro Nogueira leu a pergunta: “Em sua gestão, o senhor chegou a recomendar que as pessoas com sintomas da doença não procurassem atendimento médico. Elas deveriam permanecer em casa e a frase um pouco difícil para pessoas que querem acreditar na ciência: ‘fazendo orações, tomando chá e canja de galinha’. O hospital ou posto de saúde somente deveria ser procurado em caso de febre alta ou desconforto respiratório.” Mandetta já esperava essa pergunta e respondeu:
“Senador Ciro Nogueira, ontem eu recebi essa pergunta exatamente nessa íntegra do ministro Fábio Faria. Acho que ele inadvertidamente mandou para mim a pergunta e, quando eu ia responder, ele apagou a mensagem. Olha, quando a gente tem uma doença viral, você tem alguns princípios. Primeiro é, temos vacina? Não temos. Temos medicamento retroviral? Não temos. Como vamos conduzir? Vamos observar o paciente, vamos vê-lo, vamos cuidar desse paciente. Ontem, até por conta dessa pergunta, eu fui ver qual é a recomendação da OMS e do Ministério da Saúde. Ela é exatamente: entre em contato com seu provedor de saúde imediatamente se você sentir os sinais de perigo: dificuldade de respirar, perda da capacidade de fala, confusão, dor no peito. De cada 100 pessoas, 85 vão evoluir bem”.
Mandetta  só não se saiu melhor porque não existe justificativa na face da terra para alguém aceitar ser ministro da Saúde de um Bolsonaro. Indesculpável.
Os Bolsonaristas é que, definitivamente, se deram muito mal. E só não se deram pior porque a sessão foi encerrada.

O péssimo enfrentamento do coronavírus não se encerra com a CPI. É verdade que a chegada da vacina (a contragosto de Bolsonaro) significa um passo imenso no sentido de – talvez um dia – derrotar o vírus. Mas, infelizmente, apesar das curvas de contaminações e de mortes em queda, a ameaça ainda é grande e ainda haverá muito sofrimento pela frente.

Uma dor geral no país, além de cada uma das milhares de mortes que já aconteceram, foi a dor da morte de Paulo Gustavo, um dos atores mais populares do Brasil.
Morreu de Covid-19, aos 42 anos, na noite dessa terça-feira, 4. Já estava hospitalizado desde o dia 13 de março (data inesquecível, porque, há 57 anos, foi realizado o grande Comício das Reformas, na Central do Brasil, no Rio de Janeiro, com a presença de João Goulart, Brizola, Arraes e Prestes). O boletim médico divulgado pela assessoria de imprensa de Paulo Gustavo apontou "irreversibilidade do quadro" do ator.
“Após a constatação da embolia gasosa disseminada ocorrida no último domingo, em decorrência de fístula brônquio-venosa, o estado de saúde do paciente vem se deteriorando de forma importante. Apesar da irreversibilidade do quadro, o paciente ainda se encontra com sinais vitais presentes”, disse o boletim.

Paulo Gustavo foi um dos grandes nomes do cinema popular no Brasil com a série de filmes "Minha Mãe é Uma Peça”, entre outros filmes, e também se popularizou na sitcom brasileira “Vai Que Cola”, produzida e exibida pelo canal Multishow. Seu personagem mais famoso, Dona Hermínia, foi no final de 2004, quando atuava na peça “Surto”, ainda durante sua formação de ator na Casa das Artes de Laranjeiras (CAL).

4 de maio de 2021. Uma data que Bolsonaro será obrigado a lembrar eternamente.

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