07/04/2021 às 06h46min - Atualizada em 07/04/2021 às 06h46min

​BRASIL DE BOLSONARO SEM CONTROLE

“É UM FUKUSHIMA BIOLÓGICO”


A reportagem do jornal britânico The Guardian Quarta, 7 de abril de 2021 07.48 BST // 03,48h no Brasil, é simplesmente arrasadora.
 
“A catástrofe do coronavírus no Brasil se aprofundou ainda mais depois que mais de 4.000 mortes diárias foram relatadas pela primeira vez desde o início do surto em fevereiro do ano passado”, diz o jornal, abrindo sua reportagem de hoje sobre o Brasil infectado de Bolsonaro. Fala das 4.195 pessoas relatadas que morreram na terça-feira, 6, elevando o número total de mortos no Brasil - o segundo maior do mundo depois dos EUA - para quase 337.000.
 
O Brasil também relatou 86.979 novas infecções. Especialistas temem que um record de 100.000 brasileiros podem morrer somente agora em abril, se nada for feito.
 
“É um reator nuclear que desencadeou uma reação em cadeia e está fora de controle. É um Fukushima biológico”, disse Miguel Nicolelis, um médico brasileiro e professor da Duke University, nos Estados Unidos, que acompanha de perto o vírus.
 
Apesar da crise crescente, o presidente de extrema direita do Brasil, Jair Bolsonaro, continua a resistir à ideia de um bloqueio (lockdown) e a minimizar a epidemia. “Em que país as pessoas não estão morrendo?” ele disse na semana passada.
 
O Brasil, que tem 212 milhões de habitantes, em comparação com os 328 milhões dos EUA, deve ultrapassar a média semanal americana de mortes diárias nos próximos dias.
Muitos governadores, prefeitos e juízes estão reabrindo partes da economia, apesar do caos persistente em hospitais superlotados e um sistema de saúde em colapso em várias partes do país. As autoridades locais em todo o país afirmam que o número de casos e hospitalizações está diminuindo após uma semana de paralisação parcial.
 
Miguel Lago, diretor executivo do Instituto de Estudos de Políticas de Saúde do Brasil, que assessora funcionários de saúde pública, disse que a reabertura foi um erro, que temia que viriam números ainda maiores de mortes e que acha improvável que isso seja revertido.
“O fato é que a narrativa anti-lockdown do presidente Jair Bolsonaro venceu”, disse Lago. “Prefeitos e governadores estão politicamente proibidos de reforçar as políticas de distanciamento social porque sabem que partidários do presidente, incluindo líderes empresariais, irão sabotá-lo.”
 
Bolsonaro, que há muito rejeitou os riscos do coronavírus, permanece totalmente contra os bloqueios porque seriam prejudiciais à economia.
Os pacientes da Covid-19 usam mais de 90% dos leitos em unidades de terapia intensiva na maioria dos estados brasileiros, embora os números tenham se estabilizado na última semana. Mesmo assim, centenas de pessoas estão morrendo enquanto esperam por cuidados e suprimentos básicos como oxigênio e sedativos em vários estados.
Menos de 3% dos 210 milhões de brasileiros receberam as duas doses de vacinas contra o coronavírus, de acordo com o Our World in Data (Nosso Mundo em Números), um site de pesquisa online.
 
No fim de semana, os juízes da Suprema Corte iniciaram uma disputa sobre a reabertura de templos religiosos, que foram fechados por muitas autoridades locais, apesar de uma decisão do governo federal de rotulá-los como serviços essenciais.
 
Algumas igrejas receberam seus fiéis no domingo de Páscoa, mas outras foram impedidas por prefeitos e governadores. A reabertura deles será decidida na Suprema Corte nesta quarta-feira, 7, mas algumas câmaras municipais, como a de Belo Horizonte, votaram na terça-feira para manter os prédios religiosos abertos.
 
Ainda na terça-feira, um juiz do Rio de Janeiro permitiu que as escolas reabrissem conforme o prefeito Eduardo Paes queria. Horas depois, os prefeitos de Campinas e Sorocaba, duas das cidades mais populosas do estado de São Paulo, concordaram em reabrir os negócios com um sistema de compra drive-through, após uma paralisação de 10 dias.
 
Executivos do futebol profissional em São Paulo disseram que esperavam jogar esta semana após uma interrupção de 15 dias, prometendo aos promotores locais que seguiriam protocolos de saúde mais rígidos.
 
Sintetizando, a economia alimenta-se de vírus e derrota a saúde.
 
Leia também em The Guardian.

 
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