17/08/2020 às 18h50min - Atualizada em 17/08/2020 às 18h50min

​MENINA VÍTIMA DE ESTUPRO ESTÁ “BEM ALIVIADA”

QUEBRA DO SIGILO FOI “UMA SEGUNDA VIOLÊNCIA”, DIZ O MÉDICO

 
O médico Olímpio Barbosa de Moraes Filho, diretor do Centro Integrado de Saúde Amaury de Madeiros, no Recife, onde a criança de 10 anos que engravidou vítima de um estupro expeliu o feto espontaneamente, nesta segunda-feira, 17, após a indução iniciada na noite de domingo, desabafou : “Ela está bem aliviada. O sofrimento nesses últimos dias foi terrível, as ameaças que ela sofreu. Eu espero que esse sofrimento daqui para a frente seja atenuado, e vai depender muito de como o caso vai ser conduzido, respeitando o sigilo, para que ela possa recuperar a sua vida”, disse o médico à Globo News.

Ele disse que a menina está em um quarto, acompanhada da avó e de uma assistente social do Espírito Santo. A autorização para a interrupção da gravidez, que já é lei, foi expedida pela Justiça capixaba, mas os médicos de um hospital não quiseram fazer a operação. Segundo a coordenadora de enfermagem do Cisam, Benita Spinelli, a menina passou por uma avaliação multiprofissional para determinar se seria feito uma curetagem. O médico Olímpio Barbosa de Moraes Filho elogiou a equipe do hospital e os cuidados com a paciente. O diretor também  fez duras críticas ao vazamento do nome da menina e do hospital onde seria tratada. A garota foi estuprada durante anos pelo tio dela, de 33 anos, que está foragido.
A quebra do sigilo decretado pela Justiça começou a invadir as redes sociais, nesse domingo, 16, através da militante de extrema direita, Sara Fernanda Giromini, conhecida Sara Winter. Mesmo já tendo sido presa por determinação do STF, e esteja usando até tornozeleira eletrônica, a militante convocou os apoiadores, pelo Twitter,  para fazer manifestações na porta do hospital do Recife. “Neste caso houve uma segunda violência, que foi a quebra do sigilo da identidade da criança, e isso não deve acontecer. Temos que proteger a criança. Ela tem um futuro de vida pela frente, não pode ser exposta”, reagiu o diretor.

O médico também falou sobre a recusa dos profissionais do Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes, do Espírito Santo, para  realizar o procedimento, alegando falta de protocolo para interromper uma gravidez no sexto mês. “O código de ética médico permite a objeção de consciência verdadeira, isso acontece. Mas ele, o médico, tem a obrigação também de não inviabilizar o direito à saúde. Deve ser dada uma opção, não pode ser negada”, defendeu Dr. Olímpio.
A Secretaria de Saúde de Pernambuco afirmou, em nota, que a unidade onde a menina foi atendida é referência estadual nesse tipo de procedimento e de acolhimento às vítimas e que “todos os parâmetros legais estão sendo rigidamente seguidos”.
A coordenadora de enfermagem, Benita Spinelli, também reagiu às manifestações fascistas contra a garota. Para ela foi uma "balbúrdia” e  que tentaram impedir que a menina ouvisse os protestos contra o aborto, na noite de domingo. “Uma coisa completamente contraditória; pessoas fazendo esse tipo de atividade na porta de um hospital, que é um local que requer silêncio, tranquilidade, ainda mais por ser uma criança de 10 anos, que há quatro anos era estuprada, que teve de sair para outro estado para ter o seu direito garantido", disse a coordenadora
“Nós temos que poupar ela dessa balbúrdia que foi feita ontem na porta de um hospital. É uma menina de bastante vulnerabilidade, que foi protegida da melhor forma que a gente pôde, para não ouvir as atrocidades que foram ditas do lado de fora”, falou a enfermeira.

Nesta segunda-feira, a Justiça do Espírito Santo determinou um basta aos protestos de Sara Winter e seus apoiadores. Uma liminar mandou que o Facebook, o Twitter e o Google Brasil retirem do ar postagens do grupo. As  plataformas têm até 24 horas para obedecer. Caso a medida não seja cumprida, as empresas vão pagar uma multa diária de R$ 50 mil.
Na entrevista ao UOL, o médico Olímpio Barbosa de Moraes Filho considerou um “ato de tortura” manter a gravidez de uma criança contra a sua vontade e a vontade da família. “Colocaria em risco a vida da paciente, ou no mínimo a sua saúde mental”. E fez um alerta. “Infelizmente, o estupro é muito comum no Brasil e, mais triste ainda, com crianças. Lamento muito que muitas pessoas não tenham acesso a informação. Então tem crianças sendo violentadas, engravidando e levando a gravidez até o termo. Muitas vezes só ficamos sabendo por causa de complicações. É sabido também que a principal causa de suicídio em adolescentes é a gravidez indesejada”.

O diretor do CISAM do Recife tem mesmo razão ao chamar a atenção para a gravidade da situação. Nesse final de semana, outro caso de estupro envolvendo uma menina foi solucionado no Piauí. Depois de 4 anos do crime, o exame de DNA indicou que o tio engravidou a sobrinha de 13 anos, portadora da síndrome de Down. O processo começou em 2016. A menina teve a criança e só agora foi confirmado que o pai é mesmo o marido da tia. Segundo a Polícia do Piauí, o suspeito vai ser indiciado por crime de estupro de vulnerável.


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