Eu morei em Tóquio por cerca de 6 meses nos anos 80 e ficava sempre impressionado com a limpeza das ruas e a higiene dos japoneses. Não havia bituca de cigarro ou qualquer outro detrito jogado no chão. Os motoristas de táxi usavam luvas brancas e todas as pessoas portavam máscaras, nas ruas ou no metrô. Ao entrar em banheiros de bares ou restaurantes, notava sempre a presença do funcionário de limpeza do lado de fora, que entrava após a saída de um usuário para higienizar o vaso, o piso e paredes do banheiro.
As pessoas nunca se cumprimentavam com beijinhos no rosto, mas lavavam as mãos constantemente. Quando era cumprimentado nos escritórios ou nas ruas, retribuía o terno cumprimento de mãos postas movimentando a cabeça levemente com um sorriso. Nunca observei cenas de violência nas ruas e os lugares públicos eram silenciosos.
O Japão exibia então uma prosperidade impressionante, com sua economia estável, com pleno emprego e baixíssimos índices de inflação. O país estava inteiramente reconstruído, com indústrias e empresas multinacionais que exportavam bens de consumo para o mundo inteiro, há apenas alguns anos do pós-guerra e da devastação das bombas atômicas que haviam destruído Hiroshima e Nagasaki.
Sempre que descrevia a beleza do meu país aos japoneses, falando sobre a imensidão dos nossos recursos minerais e agrícolas, eles comentavam com um olhar de humildade, uma frase que repetiam educadamente: "Japan has no natural resources". Eu ficava muito intrigado com a insistência com que me repetiam essa frase e me questionava, ao lembrar do nosso subdesenvolvimento, da sujeira das nossas ruas e da violência das cidades do Brasil: "Tudo que temos são recursos sendo explorados até serem extintos, má educação e uma prepotência de que somos os maiorais na música e no futebol."
Agora nós somos apenas uma nação dilacerada por essa pandemia, olhando para o futuro com a resignação de um país pobre, com uma população apreensiva, com o medo das incertezas evidentes e da decadência econômica que o país enfrentará após essa pandemia. Como estará o Japão, com a sua limpeza, higiene e o dinamismo atual de sua economia?... Aguardarei ansioso o espetáculo da abertura dos Jogos Olímpicos, que foram adiados para 2021.
José Carlos Alcântara