23/07/2020 às 15h20min - Atualizada em 23/07/2020 às 15h20min

MÁSCARA CONTRA O CORONAVÍRUS

USAR OU NÃO USAR?


Quando o personagem do livro Shogun, John Blackthorne, piloto inglês e capitão do navio holandês Erasmus, naufragou na costa do Japão, ele teve um choque de cultura, avançou no tempo, no espaço. Ele e poucos dos sobreviventes da embarcação holandesa foram capturados por ordem do samurai Omi-san que os manteve aprisionados por dias em um buraco, até que os marinheiros soubessem se comportar de forma civilizada (pelos olhos dos japoneses). Aos poucos Blackthorne foi melhorando sua fala japonesa e se adaptando aos japoneses e sua cultura, e muitas vezes aprendendo a respeitá-la. Percebeu que eles eram muito mais avançados do que os ocidentais em diversas coisas. Mais ou menos o mesmo o jornalista José Carlos Alcântara percebeu, quando morou em Tóquio, nos anos 80. Eis o seu relato.

Eu morei em Tóquio por cerca de 6 meses nos anos 80 e ficava sempre impressionado com a limpeza das ruas e a higiene dos japoneses. Não havia bituca de cigarro ou qualquer outro detrito jogado no chão. Os motoristas de táxi usavam luvas brancas e todas as pessoas portavam máscaras, nas ruas ou no metrô. Ao entrar em banheiros de bares ou restaurantes, notava sempre a presença do funcionário de limpeza do lado de fora, que entrava após a saída de um usuário para higienizar o vaso, o piso e paredes do banheiro.

As pessoas nunca se cumprimentavam com beijinhos no rosto, mas lavavam as mãos constantemente. Quando era cumprimentado nos escritórios ou nas ruas, retribuía o terno cumprimento de mãos postas movimentando a cabeça levemente com um sorriso. Nunca observei cenas de violência nas ruas e os lugares públicos eram silenciosos.

O Japão exibia então uma prosperidade impressionante, com sua economia estável, com pleno emprego e baixíssimos índices de inflação. O país estava inteiramente reconstruído, com indústrias e empresas multinacionais que exportavam bens de consumo para o mundo inteiro, há apenas alguns anos do pós-guerra e da devastação das bombas atômicas que haviam destruído Hiroshima e Nagasaki.

Sempre que descrevia a beleza do meu país aos japoneses, falando sobre a imensidão dos nossos recursos minerais e agrícolas, eles comentavam com um olhar de humildade, uma frase que repetiam educadamente: "Japan has no natural resources". Eu ficava muito intrigado com a insistência com que me repetiam essa frase e me questionava, ao lembrar do nosso subdesenvolvimento, da sujeira das nossas ruas e da violência das cidades do Brasil: "Tudo que temos são recursos sendo explorados até serem extintos, má educação e uma prepotência de que somos os maiorais na música e no futebol."

Agora nós somos apenas uma nação dilacerada por essa pandemia, olhando para o futuro com a resignação de um país pobre, com uma população apreensiva, com o medo das incertezas evidentes e da decadência econômica que o país enfrentará após essa pandemia. Como estará o Japão, com a sua limpeza, higiene e o dinamismo atual de sua economia?... Aguardarei ansioso o espetáculo da abertura dos Jogos Olímpicos, que foram adiados para 2021.

José Carlos Alcântara

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