14/07/2020 às 15h26min - Atualizada em 14/07/2020 às 15h26min

​MARICÁ ENFRENTA A PANDEMIA GARANTINDO RENDA E SAÚDE

EQUIPES TESTAM POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA


A pandemia do coronavírus já causou a morte de 72.950 pessoas e infectou 1.888.889, segundo o relatório  do consórcio de veículos de imprensa, divulgado na manhã desta terça-feira, 14 de julho, sem que o Brasil conseguisse testar em massa a população, como orienta a Organização Mundial de Saúde.
Já foram muitas as promessas do governo Bolsonaro para distribuir aos estados os testes para detectar a contaminação e reduzir a subnotificação, de extrema importância para saber o número real da pandemia e planejar o combate à doença.  Segunda reportagem da Folha de São Paulo, a previsão de oferecer 46 milhões de testes até setembro está longe de se concretizar. Até agora, só 12,3 milhões desses testes foram distribuídos, quando a estimativa era que, até maio, 17 milhões seriam ofertados.

Estados e municípios tentam saídas para compensar a falta de apoio do governo federal. Maricá, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, mostrou o caminho para enfrentar a pandemia garantindo renda para o trabalhador e saúde para a população.
A prefeitura implementou programas que atendem mais de 20 mil pessoas, entre profissionais liberais, MEIs, autônomos e principalmente trabalhadores informais, que  recebem o auxílio de um salário mínimo mensal. O benefício começou a ser pago em abril e acabou de ser ampliado por mais três meses.

Para garantir o emprego, Maricá também paga um salário mínimo a cada funcionário de empresas da cidade, com até 49 empregados, o que abrange 90% do total. Administrado pelo PT desde 2009, o município reafirma que preservar o emprego durante a pandemia é possível e depende muito das prioridades dos gestores. Na fase mais crítica da pandemia, Maricá conseguiu manter até 2 mil empregos formais e pelo menos 200 empresas abertas, em troca de não serem feitas demissões. Segundo dados do Cadastro Geral de Empregos do Ministério do Trabalho, o município apresenta, pelo segundo mês consecutivo, um  resultado neutro ou positivo, prova que as medidas implantadas trouxeram estabilidade social durante a  suspensão das atividades econômicas, ao contrário da maior parte do Brasil.

Para o economista e professor associado da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Mauro Osório, a receita do acerto é simples: “Fazer o que precisa ser feito, que é política de isolamento sem gerar desemprego. Com isso, você preserva vidas e ao mesmo tempo mantém a economia estruturada”, avalia Osório, que também é doutor em Planejamento Urbano e Regional pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (IPPUR) da UFRJ. Ele  aponta a agilidade no uso da moeda social do município, a Mumbuca, como parte do sucesso, ao reter o dinheiro transferido girando a economia da cidade, e ao modelo do cadastramento sendo seguido nas novas iniciativas de enfrentamento da crise. “Ao contrário do governo federal, Maricá já tinha o cadastro do programa Renda Básica de Cidadania. Tanto deu resultado que em maio não teve queda de emprego, mas, sim, teve um pequeno crescimento”, afirmou o especialista. O Renda Básica também foi ampliado de 300 Mumbucas (equivalente a R$ 300) para as 40 mil pessoas que recebem o benefício mensal, injetando  R$ 12 milhões na economia local. “O pacote econômico que produzimos para proteção à economia local tem seus efeitos comprovados a partir dos resultados que já começamos a obter”, reafirma o responsável pela secretaria de Desenvolvimento Econômico, Comércio, Indústria e Portos, Magnum Amado.

A saúde da população também está sendo acompanhada pelas equipes da prefeitura, com a aplicação dos testes do coronavírus. As pessoas acima de 60 anos tiveram prioridade na testagem e os trabalhadores que estão em contato sistemático com o público e os profissionais de saúde fazem acompanhamento periódico. “Não é apenas testagem, começamos um acompanhamento epidemiológico em Maricá. A ideia de começar pelos idosos, nosso público mais vulnerável – por conta do nosso total de óbitos, que era de 77% em pessoas acima de 60 anos – foi cumprida com sucesso, protegendo a nossa população”, afirmou a secretária de Saúde do município, Simone Costa. Os idosos compareceram em massa para fazer o teste. “Para a nossa surpresa, a população esteve presente nas USFs de forma cuidadosa e seguindo nossas recomendações. Algumas unidades fizeram 70 testes em um único dia e, assim que conseguimos mapear os positivos, agimos para isolá-los, dar seguimento e acompanhar o tratamento após identificar se tinham anticorpos de longo ou curto prazo no sistema imunológico”, disse a secretária.
(foto teste idoso)
A população em situação de rua também está recebendo um cuidado especial da prefeitura. A testagem começou na semana passada e equipes da área de saúde vão percorrer os pontos onde se concentra esse público-alvo formado por 95 pessoas, segundo o cadastro municipal. “É importante realizar a testagem nessa população, pois estão o tempo todo em contato com outras pessoas, ou seja, com alto nível de contaminação”, explica  Simone Costa. Ela também ressaltou que as pessoas se deslocam constantemente e que vêm sendo atraídas para Maricá, pelo sistema de saúde que funciona.
“Caso tenhamos positivados para Covid-19, vamos dividir em duas etapas. Se possuir sintoma grave, será feita uma articulação para que esse paciente fique em internação e mantenha o cuidado integral; se tiver sintoma leve ou se for assintomático ficará em isolamento em um quarto específico em um abrigo. Serão feitos os testes de todos os usuários que estiverem na rua e que quiserem fazer”, esclarece a enfermeira Juliana Marins.

Segundo a prefeitura, a maioria da população em situação de rua veio de outras cidades, é composta por homens, com idade entre 30 a 45 anos, tem nível de escolaridade variado e está desempregada há muito tempo. Um dos testados foi o paraibano Severino Ramos, 57 anos. Ele veio do município de Areias e está em Maricá há 1 ano e 7 meses. Severino sobrevivia vendendo artesanato, antes das medidas restritivas. Ele está no abrigo criado pelo município e ainda ajuda financeiramente um dos filhos, que tem problemas renais e faz hemodiálise três vezes por semana. “Estou lidando bem com a situação que estamos passando, ainda mais porque encontrei um lugar em Maricá. Somos  bem tratados aqui e tenho fé em Deus que não vai acontecer nada comigo e meus amigos moradores de rua. Consegui o auxílio do governo e está me ajudando a passar por essa crise, sem contar o abrigo da prefeitura que me ajuda dando um lugar para ficar. Vendo meu artesanato à noite e nesses tempos as ruas estão vazias, mas estou confiante de que as coisas vão melhorar”, diz Severino.

Segundo o último boletim divulgado, nessa segunda-feira, Maricá já registrou 63 mortes causadas pelo coronavírus, 1.498 pessoas foram curadas e  1.759 contaminadas.
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