27/04/2020 às 16h48min - Atualizada em 27/04/2020 às 16h48min

​DIRETOR- GERAL DA OMS RESPONDE AOS ATAQUES DE BOLSONARO

“OS QUE NOS OUVIRAM ESTÃO EM MELHOR SITUAÇÃO HOJE”.


A semana não começou nada bem para o presidente Jair Bolsonaro. Além da  crise política interna agravada com a saída de Sergio Moro do ministério da Justiça, problemas com organizações internacionais, que vêm sendo atacadas por Bolsonaro, tiveram destaques, nesta segunda-feira, 27. Ao responder a pergunta do correspondente da UOL, em Genebra, Jamil Chade, sobre o problema das subnoticações nos casos de coronavírus e os ataques de Jair Bolsonaro à Organização Mundial de Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, não poupou críticas ao presidente brasileiro, sem citar o nome dele. Thedros afirmou que os que seguiram os conselhos da OMS estão em melhor situação hoje, em comparação com aqueles que não escutaram. “Na OMS, só podemos dar conselhos. Não temos mandato para impor nada. Cabe a cada país aceitar ou não”, disse. “Mas o que garantimos é que damos nossas orientações com base nas melhores evidências e ciência”, acrescentou.

Segundo o último relatório do ministério da Saúde, divulgado nesse domingo, no Brasil já foram registradas 4,2 mil mortes provocadas pelo coronavírus e 60 mil casos confirmados em todo o país.
Na semana passada, em mais um “round” contra a OMS, Bolsonaro afirmou que não seguiria a organização porque Tedros Adhanon nem médico era. Antes de atacar, Bolsonaro e a assessoria dele deveriam ter se informado melhor para evitar mais um vexame internacional. O diretor-geral da OMS é biólogo, com mestrado e doutorado em saúde pública. Tedros foi ministro da Saúde do país dele, a Etiópia.

Durante a coletiva dessa segunda-feira, o diretor-geral da OMS fez questão de mostrar como alertaram o mundo, desde o início, sobre a gravidade do coronavírus, já em janeiro deste ano. “No dia 30, declaramos emergência global. Naquele momento, só existiam 82 casos fora da China. Nenhum caso na América Latina nem na África. Nada. Portanto, o mundo deveria ter escutado a OMS cuidadosamente”, disse. Ele também reforçou a importância dos países escutar os conselhos da OMS. “Quem seguiu está em melhor posição que outros. Isso é fato. Damos a melhor recomendação possível. Cabe aos países aceitarem ou rejeitarem. É responsabilidade de cada um. Não temos poder de impor a vontade ao país. Espero que isso seja muito claro para todos os países”, uma resposta direta ao governo brasileiro.

O diretor de operações da OMS, Michael Ryan, citou um aumento de 50% ou 60% de casos registrados no Brasil em uma semana. Segundo ele, o número de casos e mortes não pode ser o único critério para relaxar medidas de restrição. Segundo o último relatório do ministério da Saúde, divulgado nesse domingo, no Brasil já foram registradas 4,2 mil mortes e 60 mil casos confirmados provocados pelo coronavírus em todo o país.
No mundo, o número de casos já se aproxima de 3 milhões, segundo a Universidade Johns Hopikns, nos Estados Unidos, país com o maior número de infectados. Quase 207.000 já morreram por causa da Covid-19.

Tedros Adhanon, alertou que, apesar da queda nos números do coronavírus na Europa, a OMS estima que existe um fenômeno importante de sub-notificações na América Latina. Segundo ele, a pandemia está “longe de terminar”.

Também em Genebra, na Suíça, o Alto Comissariado da Nações para os Direitos Humanos (ACNUDH)  mostrou, nesta segunda-feira, forte preocupação com a postura do governo Bolsonaro diante da pandemia do coronavírus. O alerta foi dado pela diretora de operações do comissariado, Georgete Gagnon, que exemplicou: “Mensagens conflitantes das autoridades, às vezes subestimando a seriedade da situação, o que pode prejudicar os esforços do Brasil para combater a pandemia, com possíveis consequências nefastas”. Outro ponto destacado foi “o impacto do vírus na população brasileira, é claro, em particular em pessoas e grupos com enormes vulnerabilidades, como moradores de rua, comunidades indígenas, pessoas privadas de liberdade e pessoas que vivem em instituições”, afirmou Georgete Gagnon.

Leia mais na coluna de Jamil Chade, no UOL
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