02/04/2020 às 07h31min - Atualizada em 02/04/2020 às 07h31min

​PALAVRA DE SANITARISTA:

O QUE FALTA AO PAÍS É UM LÍDER COM A CABEÇA NO LUGAR


O Brasil já recebeu, nessa segunda-feira, dia 30, lotes de 500 mil testes rápidos do coronavírus, que já começaram a ser distribuídos. Mas o renomado médico sanitarista Gonzalo Vecina Neto, ex-diretor da Anvisa, acredita que o país precisa bem mais do que testes e equipamentos – o Brasil precisa de um líder responsável.

Os testes são doação da mineradora Vale. Outras 4,5 milhões de unidades já foram encomendadas da mesma empresa chinesa, a Wondfo. Com eles, em apenas 15 minutos é possível detectar o novo coronavírus (SARS-CoV-2).
Gonzalo Vecina Neto, que é professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), explica por que a chegada do 1º lote de testes é importante.
"Teremos que receber muito mais. Vamos ter que fazer grandes enquetes, grandes surveys, para identificar uma grande parte da população brasileira que já teve a doença. E vamos identificar isso através do teste rápido. Esses testes que chegaram são uma boa notícia, mas ainda é uma notícia parcial", disse ele.

Segundo a mais recente atualização do Ministério da Saúde, o Brasil soma 6.836 casos da doença e 240 mortes.

Gonzalo Vecina Neto recorda que para além dos testes há mais materiais importantes para o combate à pandemia no Brasil, que já soma quase 7 mil casos da doença e mais de 240 mortes. Segundo ele, já estão em falta equipamentos de proteção individual, fundamentais para o trabalho de profissionais de saúde. É o caso da máscara N95.
"No mundo inteiro há um tipo de máscara, que é a máscara que filtra o vírus. É uma máscara que nós chamamos de N95. Ela é composta de duas partes de tecido não tecido e no meio tem um filtro especial que filtra o vírus, é ela que os profissionais de saúde devem utilizar em ambientes em que temos aerossóis, emissão de partículas que ficam suspensas no ar", explica.
A máscara, porém, não está em falta somente no Brasil e há países, como no caso da Alemanha, que estão recomendando a reutilização do equipamento, pois a indústria mundial não tem dado conta da demanda, explica o sanitarista.
"Essa é uma recomendação que nós vamos até passar a discutir a partir de agora, que todo mundo use máscara. Vai para a rua? Põe máscara. Se tiver com alguma virose a chance de passar essa virose para alguém, usando máscara, diminui muito", diz.

O médico também cita a questão dos respiradores, que já estão em falta e serão necessários para o tratamento de pessoas em estado grave da doença.
"Temos falta ainda de respiradores para equipar as nossas Unidades de Tratamento Intensivo - UTIs. E agora nós vamos começar a subir o uso de leitos de UTI e espero que a gente consiga dar vazão para o número de pacientes", lembrando tambémque a alta demanda por leitos de UTI gerou caos em países como a Espanha e a Itália.
Para o ex-diretor da ANVISA o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, tem realizado um bom trabalho, porém, a relação com o presidente Jair Bolsonaro tem sido uma ameaça.
"Mandetta está com um cargo espinhoso, porque o chefe dele não acredita nele. Você trabalhar com uma pessoa que não acredita em você não é fácil. Eu já tive essa oportunidade na vida, é dificílimo. O cara [Bolsonaro] não acredita na ciência. Se ele não acredita na ciência, ele acredita em feitiçaria. Aí não tem jeito", aponta Vecina.
O médico sanitarista diz a Mandetta para não desistir do trabalho que vem desempenhando no combate à pandemia no Brasil.
"Não desista e proteja o povo brasileiro. Ajude a levar recursos para os estados e para os municípios, porque esses recursos são necessários. Nós precisamos de dinheiro para conseguir comprar material de proteção para os nossos trabalhadores da Saúde, para comprar mais testes, para comprar aparelho de respiração artificial, para contratar leitos de UTI. E precisamos que uma autoridade com a cabeça no lugar e proponha que as pessoas fiquem em casa durante esse período. Nós temos que continuar com a quarentena", aconselha o ex-secretário de Saúde de São Paulo.

SPUTNIKNEWS
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