18/03/2020 às 13h10min - Atualizada em 18/03/2020 às 13h10min

​SITUAÇÃO É MAIS GRAVE DO QUE FOI NA ITÁLIA

BRASIL JÁ TEM 350 INFECTADOS COM O CORONAVÍRUS


A diretora-assistente da Organização Mundial de Saúde para a área de medicamentos e produtos de saúde, a médica brasileira Mariângela Simão, afirmou, nessa quarta-feira, que o Brasil não está levando a sério a contaminação do coronavírus. Em entrevista à Folha de São Paulo, a médica mostrou preocupação com o que tem visto nas ruas e nas redes sociais. “Eu tenho visto muito nas redes sociais, no Brasil, pessoas minimizarem o risco. Tenho visto um pouco de descaso no sentido de que só afeta pessoas acima de 65 anos. Não é verdade”. A médica reafirmou o alerta, após ver as fotos de praias lotadas no Rio de Janeiro. “O brasileiro devia levar mais a sério a pandemia”.

As medidas para evitar a contaminação do coronavírus chegaram à sede da OMS, em Genebra. Mariângela Simão e os companheiros estão trabalhando de casa e as reuniões para avaliar a situação mundial são feitas por teleconferência. “É irreal pensar que a crise vai acabar logo”, reafirmou. A médica, que é também especialista em Aids, está na OMS desde 2017. Hoje é a brasileira mais graduada no trabalho mundial de combate à pandemia. Mariângela concorda com a estratégia de isolamento adotada por muitos países, elogia o trabalho da China para enfrentar a crise e considera o SUS uma vantagem para o Brasil nesse momento. “Uma estrutura de vigilância epidemiológica razoavelmente eficiente, e que tem uma espinha dorsal para enfrentar uma situação mais grave”, analisou positivamente o Sistema Único de Saúde. A diretora-assistente da OMS evitou criticar o posicionamento do presidente Jair Bolsonaro frente à grave crise sanitária mundial. “É uma questão interna do Brasil. Como as pessoas adotam as recomendações é uma questão individual”, ressaltou Margarida Simão.

E a maioria do povo brasileiro está mesmo decidindo como enfrentar o coronavírus sem seguir o que Jair Bolsonaro está falando. Os últimos números da contaminação no Brasil mostram que essa é uma decisão acertada. Segundo os especialistas, a situação no Brasil está mais grave do que foi na Itália no início. Com os dados do ministério da Saúde e das secretarias de saúde dos estados, já são três mortes e 350 infectados confirmados no país. Segundo o ministério, são quase 8 mil casos suspeitos e 18 pessoas internadas. Só na comitiva do presidente Jair Bolsonaro que foi aos Estados Unidos recentemente, já são 17 casos confirmados. O último a receber o resultado positivo foi o ministro chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno. Na Itália, no início da contaminação, eram três pessoas contaminadas. Nessa terça-feira, o número de mortos chegou a 2.503, um aumento de 345 vítimas em 24 horas. Já são 26.062 casos de infecção confirmados.

Nem a gravidade da situação é capaz de mudar a atitude do presidente Jair Bolsonaro diante da pandemia. Incomodado com o protagonismo que o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, vem assumindo na crise - aliás é o que deve fazer a pessoa que ocupa o ministério da Saúde -, Bolsonaro acusa Mandetta de gerar “histeria” e cobra um discurso político mais afinado com o governo. Jair Bolsonaro quer que Mandetta faça uma defesa para que a economia não pare e tem mais: o presidente quer que o ministro da Saúde apoie o direito do cidadão de participar de protestos. As multidões são desaprovadas por todos os protocolos internacionais de saúde púbica no combate à pandemia do coronavírus. Viagens e longos deslocamentos também são desaconselhados, mas o presidente Jair Bolsonaro mostra que essa não é a preocupação dele.

Nessa quarta-feira, o Brasil acordou sabendo que o presidente já tem planos para a Semana Santa. O presidente vai viajar para o arquipélago paradisíaco de Fernando de Noronha. Vai curtir aquele paraíso no momento em que Pernambuco tem 19 casos confirmados e 357 suspeitos de contaminação - entre eles, um é em Fernando de Noronha. Bolsonaro desconhece que a autoridade sanitária do estado recomendou o fechamento do aeroporto de Fernando de Noronha para turistas a partir desse sábado, 21 de março, para que todos que estejam lá possam sair?

O presidente Jair Bolsonaro e seus aliados deveriam prestar bastante atenção ao vídeo que os moradores da Itália gravaram para alertar os outros países sobre como devem se preocupar com o coronavírus. Confinados desde o início de março, eles têm a triste e dolorida experiência dessa pandemia que está aterrorizando o mundo.





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