18/09/2021 às 11h54min - Atualizada em 18/09/2021 às 11h54min

FAÇA-SE IMPEACHMENT.

FAÇA-SE JUSTIÇA.


Lembra daquele ato golpista que Bolsonaro convocou para o 7 de Setembro? Foi quando ele afirmou que não cumpriria as ordens judiciais do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes. Se ele fizer isso, é porque está querendo sofrer impeachment. É crime de responsabilidade, passível de processo de impeachment. Mas não é só isso: 76% dos brasileiros concordam que, se Bolsonaro não cumprir as ordens do STF, tem que ser iniciado o processo de impeachment.

Foi isso que o Datafolha mostrou, em pesquisa nacional feita em 190 cidades com 3.667 eleitores de 13 a 15 de setembro. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou menos.
Apenas 21% não concordam com a punição e 3% preferiram fechar o bico.

Num dia em que participou de dois grandes protestos golpistas contra o Supremo (particularmente contra Moraes, o relator do inquérito das fake news que pode causar problemas para ele mesmo, familiares e apoiadores), Bolsonaro cresceu nas ameaças.
Primeiro, em Brasília, disse que o presidente do Supremo, Luiz Fux, deveria enquadrar Moraes, sob pena de ver uma intervenção em seu poder. Em São Paulo, à tarde, estimulou a desobediência judicial.
"Nós devemos, sim, porque eu falo em nome de vocês, determinar que todos os presos políticos sejam postos em liberdade. Quero dizer a vocês que qualquer decisão do senhor ​Alexandre de Moraes, esse presidente não mais cumprirá. A paciência do nosso povo já se esgotou", afirmou Bolsonaro na avenida Paulista.

Sobre essa pretensão golpista de Bolsonaro, são 86% dos jovens de 16 a 24 anos que defendem o impeachment. 82% dos mais pobres também defendem. E, naturalmente, 94% dos que já reprovam Bolsonaro também defendem o impeachment.
Os mais ricos são mais tolerantes com o desrespeito legal: eles (32%) não veem necessidade de um processo, assim como os empresários (39%) e os que aprovam o desempenho presidencial (59%).

O 7 de Setembro foi o ponto alto de uma crise provocada durante meses por Bolsonaro, e gerou reações. Bolsonaro recorreu então ao senador e ex-presidente Temer (MDB), que o ajudou a fazer uma nota de recuo em que não retirava a discordância de Moraes, mas dizia que suas palavras duras eram resultado do "calor do momento" e que o ministro era um "jurista e professor" (e não "canalha" que havia proferido).

"Nunca tive nenhuma intenção de agredir quaisquer dos Poderes. A harmonia entre eles não é vontade minha, mas determinação constitucional que todos, sem exceção, devem respeitar", disse Bolsonaro, para quem quis acreditar — basicamente o Centrão, que sustenta o governo e tem as chaves da abertura de um processo de impeachment nas mãos do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).

A classe política tem certeza que essa moderação bolsonarista é transitória, principalmente agora, com o agravamento da situação econômica e o aumento da rejeição registrada em pesquisas, o que dificulta sua tentativa de reeleição no ano que vem. Mas não interessa. Seja batendo o pezinho ou baixando a cabeça, Bolsonaro perdeu o rumo. A justiça não é cega e já está piscando para o impeachment.

Leia também na Folha.
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