27/05/2021 às 11h29min - Atualizada em 27/05/2021 às 11h29min

​CORONAVÍRUS EXPLODE NA ARGENTINA

8% DA POPULAÇÃO JÁ FOI ATINGIDA


O presidente Alberto Fernández está garantindo 100% de atendimento a todos, mas está cada vez mais difícil.  O chefe de gabinete, Santiago Cafiero declarou recentemente: "Podem criticar nossas medidas de combate à pandemia, mas o certo é que não há imagens de gente morrendo em filas, de caminhões frigoríficos ou de valas comuns, como se viu em outros países, como Equador e Peru". Comparação desnecessária, porque o vírus não tem pátria e o mundo inteiro tem que se apoiar nesse momento. O trágico é termos que reconhecer que o mundo, apesar da vacinação, ainda está perdendo feio para o vírus.

O dono de um dos principais planos de saúde (Swiss Medical) da Argentina, Claudio Belocopitt, declarou: "Nós já estamos operando na capacidade máxima e com enfermeiros e médicos extenuados. Essas imagens não vão demorar a ser cada vez mais frequentes".

Os dados confirmam uma segunda onda muito mais grave que a primeira, no ano passado. Na terça-feira, 25, data em que os argentinos costumavam celebrar o dia da pátria em família, o país ultrapassou a marca das 75 mil mortes e registrou 576 óbitos num só dia.
Mesmo sendo abaixo do recorde diário (foram 745 mortes em 18 de maio), a média móvel dos últimos sete dias é de 470 — altíssima para um país com 44,9 milhões de habitantes. Desde o início da pandemia, foram registrados 3.586.736 infectados e 75.056 mortos.

Na sexta-feira passada, 21, o governo decretou um lockdown válido até o próximo dia 30, com volta à fase inicial do enfrentamento da crise nas regiões consideradas mais críticas. As medidas valem para a região metropolitana de Buenos Aires, Rosário, Santa Fé, Córdoba, Mendoza e outras. Apenas atividades essenciais são permitidas e só os trabalhadores dessas áreas podem usar o transporte público. As aulas foram suspensas e os restaurantes operam apenas com delivery. Também é proibido circular entre 18h e 6h da manhã.

O governo ainda fechou 11 dos 17 grandes acesos à cidade de Buenos Aires e colocou controle de tráfego nas que estão abertas. Para entrar ou sair, é preciso mostrar uma permissão do governo, que nem todos têm. As penalidades aos infratores vão de uma multa ao confisco do veículo.
A diferença em relação às regras adotadas em 2020 é que, naquela época, oposição e governo trabalharam e comunicaram as decisões em conjunto. Agora, o presidente e os peronistas (que governam também a província de Buenos Aires e têm maioria no Congresso) estão muito mais debilitados politicamente.
Fernández, que ultrapassava os 60% de aprovação com as primeiras medidas duras contra a pandemia, agora tem apenas 36,7% e enfrenta manifestações quase diárias no centro da capital. Os protestos reúnem vários grupos de insatisfeitos – sindicatos contra a perda de empregos, enfermeiros do sistema público reclamando de atraso nos salários e organizações sociais pedindo mais planos de ajuda aos que não podem trabalhar por conta do confinamento.
Segundo o ex-ministro da Saúde, dr. Adolfo Rubinstein,  quem vai às ruas na Argentina não nega a gravidade da situação. "Não vemos muito negacionismo, como há no Brasil", diz ele. "Aqui as pessoas estão cansadas com as longas quarentenas, com a situação econômica, com a falta de vacinas. Mas os conspiradores que são antivacina e anticiência são minoria." O que é uma maravilha saber que o ‘efeito Bolsonaro’ não chegou até lá.

Entre os erros apontados pelos que são contrários às medidas de Fernández, estão o fato de o governo não ter assinado um contrato para compras de vacinas da Pfizer, no ano passado, e a opção por uma aposta quase única no laboratório russo Gamaleya, que está atrasando a entrega dos 10 milhões de doses do imunizante Sputnik.
São questionados também a falta de recursos para ajudar os comércios fechados pela quarentena e o baixo valor pago aos trabalhadores mais pobres. O atual valor da cesta básica no país – alimentos e serviços e bens básicos – para uma família com um casal e três filhos é de AR$ 64.000 (R$ 3.734), conforme calculado pelo Instituto Nacional de Estatísticas e Censos.

O aumento do custo de vida no país preocupa especialmente em relação ao segmento de alimentos e bebidas e o consequente impacto nos setores mais vulneráveis. Atualmente, a Argentina possui um índice de 42% de pessoas em situação de pobreza, equivalente a 12 milhões de pessoas, das quais cerca de 3 milhões estão abaixo da linha da indigência (que não alcançam a cesta básica total com sua renda).


Para completar, há revolta pelo escândalo do desvio de vacinas a políticos, no caso que ficou conhecido como "vacina-gate". O governo frafilizou-se com isso. Após o anúncio do novo confinamento, milhares de pessoas resolveram deixar a cidade para ir à praia ou ao campo. A ministra de Segurança, Sabina Frederic, em reação, anunciou que eles não poderiam voltar até o fim das restrições — mas ela foi desautorizada pela própria população, que voltou assim mesmo e não houve meios para controlar o enorme fluxo.

Leia também na Folha.


Apenas para ter noção, algumas comparações com o Brasil.

Brasil
Casos: 16.600.000
Mortes: 454.000
População: 211.000.000
Relação casos/população: 7,8%
Relação mortes/população:  0,21%

Argentina
Casos: 3.620.000
Mortes: 75.588
População: 45.000.000

Relação casos/população: 8%
Relação mortes/população:  0,17%

 
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