30/12/2020 às 14h49min - Atualizada em 30/12/2020 às 14h49min

​COMO CALCULAR CATACLISMOS?

COMO EVITAR PANDEMIAS ATERRADORAS?


2020 teve de tudo. Desde previsões aterrorizantes até a minimização da gravidade da pandemia. Isso sem contar o pior de tudo, o bolsonavírus, que por enquanto vamos deixar de lado.
 
O Brasil ficou em turbilhão mental, graças às projeções de mortes pela doença, feitas por cientistas e algumas “autoridades”. Teve um estudo que chegou a estimar até um milhão de óbitos no país e Bolsonaro afirmou em março que o número não chegaria a 800. Hoje, oficialmente, são quase 200 mil.
 
O que não é provável não é impossível, e os cientistas encontram um bom exemplo disso nos cisnes. Conta-se que, durante muito tempo, acreditava-se que, em todo o mundo, existiam apenas cisnes brancos, já que nenhum cisne de outra cor tinha sido visto ou relatado até então. Foi apenas no século XVIII que foi descoberta uma raça de cisnes negros, na Austrália, derrubando de vez a crença da civilização na inexistência de cisnes não brancos.
 
Essa história, que aborda a ocorrência de eventos raros entre eventos corriqueiros, regulares, serviu de inspiração, na atualidade, para a formulação da Teoria do Cisne Preto, concebida pelo matemático libanês Nassim Nicholas Taleb, grande investidor do mercado financeiro e professor do Instituto Politécnico da Universidade de Nova York.
 
Essa teoria, utilizada principalmente na economia e nas finanças, trata da importância de acontecimentos inesperados ou pouco prováveis - os chamados "cisnes negros" - e suas consequências de grande impacto, como guerras, descobertas ou o surgimento de uma nova tecnologia. A pandemia da Covid-19 pode ser um bom exemplo de “cisne negro”, já que, fora do mundo científico, pouco se considerava a chance de ocorrência de um evento como esse em 2020, com consequências que poderão continuar pelos próximos anos.
 
É surpreendente basicamente para os leigos. Entre os cientistas, desde o início do século, vinham surgindo sinais, com base em estimativas, sobre o risco iminente de uma pandemia, mas pouco foi feito efetivamente para tentar impedi-la, pois a chance de algo do tipo ocorrer acabou sendo minimizada por autoridades de todo o mundo. Como assim, “minimizadas”? Algo assim jamais pode ser minizado, da mesma forma que não pode ser superdimensionado!
 
Vejam o que aconteceu. Temos um vírus tresloucado, fora de controle e fazendo vítimas em todas as partes do mundo, com alguns governantes que ainda se atrevem a não levar a sério as orientações dos pesquisadores em relação ao surto do novo coronavírus. Mas como são feitas essas previsões e o que explica a disparidade entre algumas estimativas?
 
A matemática da pandemia: nada se soma, tudo se multiplica...
"Todos os métodos estatísticos são baseados em modelos que, por sua vez, são formas como o pesquisador imagina que a realidade funciona. Mas a realidade é medida apenas indiretamente por meio dos dados que somos capazes de coletar. O pesquisador então confronta o seu modelo com os dados observados e para entender melhor a realidade. Você pode pensar que os dados alimentam os modelos ou que os modelos são uma forma de filtrar algum tipo de impureza que vem junto com os dados observados para que se possa melhor entender o verdadeiro mecanismo que está gerando os dados – entendeu? O professor Wagner Bonat, docente do Departamento de Estatística da Universidade Federal do Paraná (UFPR), exlica.
 
Bonat é membro do Laboratório de Estatística e Geoinformação e tem acompanhado de perto o desenvolvimento da pandemia no Brasil. Ele afirma que, quando se trata da transmissão de doenças como a Covid-19, o que se observa, basicamente, são os números de casos e óbitos.
Para propor um modelo para descrever como a natureza está gerando esses dados, nós precisamos pensar como um novo caso é gerado. Uma estratégia padrão em epidemiologia, segundo o especialista, é usar o método chamado, sem trocadilho, de DOPS: Duração, Oportunidade, Probabilidade e Suscetibilidade.

Duração: é o tempo da transmissibilidade. Significa quanto tempo uma pessoa infectada fica apta a transmitir o vírus. Não se sabe exatamente quanto tempo uma pessoa fica transmitindo a Covid-19. O que se sabe é baseado em alguns estudos internacionais e gira em torno de cinco dias.
Oportunidade: é o número de ocasiões que uma pessoa contaminada tem para transmitir o vírus. Também não temos dados diretos sobre isso. A única fonte de dados indiretos sobre isso corresponde aos índices de mobilidade divulgados por empresas como Google, Apple e algumas operadoras telefônicas. Mas ainda é uma informação bastante limitada.
Probabilidade: obviamente, é a probabilidade de ser contaminado após contato com uma pessoa infectada. É importante destacar que não é porque alguém teve contato com uma pessoa contaminada que será infectada também. Estudos sugerem algo entre 0,05 e 0,10 para essa probabilidade.
Suscetibilidade: número de pessoas disponíveis para ser contaminadas. Em geral, supõ-se que toda a população de um país está suscetível. Mas pode não ser verdade.
 
De acordo com o professor Bonat, reunindo esses quatro aspectos, é possível, por meio de um modelo estatístico, fazer a previsão de como será a trajetória futura da doença em uma determinada localização geográfica.
Outros aspectos que também influenciam são a fonte de dados e as pressões políticas que, por vezes, fazem com que alguns órgãos apresentem suposições mais ou menos otimistas para mudar as previsões. Mas o estatístico da UFPR diz não saber até que ponto isso poderia estar acontecendo no Brasil. Essas causas não entram nos modelos e, portanto, não são mensuráveis.
"Na prática, o que a maioria dos pesquisadores está fazendo é fixar alguns valores sobre esses quatro aspectos e, baseado nisso, traçando cenários para a trajetória da doença. Assim, também fica claro que diferentes pesquisadores podem fazer diferentes suposições e, consequentemente, obter trajetórias diferentes. Essa é a explicação técnica – e óbvia – do motivo de podermos obter previsões diferentes. Além disso, é importante destacar que, muitas vezes, o que é reportado pelas mídias como projeções são, na verdade, cenários futuros. No caso, o pesquisador faz uma suposição, por exemplo, sobre as 'oportunidades', e traça o cenário futuro caso aquela suposição seja realizada."
 
Um dos indicadores usados com frequência no caso da pandemia é a taxa de transmissibilidade (Rt), também chamada, segundo Bonat, de número de reprodução. Para o Brasil, a Rt está ligeiramente abaixo de zero, o que é um bom indicativo. Se continuar assim, os números de óbitos e casos podem diminuir nas próximas semanas. Porém, por causa dos feriados de final de ano, é pouco provável que as condições de isolamento vistas em outubro, novembro e no começo de dezembro se mantenham, o que deve impactar negativamente nessa taxa, fazendo com que ela suba.
 
Fio condutor da ciência moderna: assim como a estatística tem sido fundamental para o acompanhamento da pandemia da Covid-19, ajudando a prever cenários mais ou menos críticos, ela é também utilizada praticamente em todas as áreas do conhecimento, sendo considerada, de acordo com o professor Hugo Bonat, o "fio condutor da ciência moderna".
"Para citar alguns exemplos interessantes, hoje, é possível traçar cenários para a rota de furacões, tornados e similares. Todo mundo acompanha as previsões do tempo relacionadas a temperatura e possibilidade de chuva. Aplicações clássicas no mercado de ações prevendo crises financeiras. Previsão de demanda de alimentos, produtividade das safras, etc. Hoje, tudo é medido e, em algum grau, predito via modelos estatísticos."
 
O inacreditável é que, com todo esse avanço na ciência, não conseguimos prever e evitar o bolsonavírus. Permitimos, como se estivéssemos de olhos fortemente vendados, que ele infeccionasse os meios digitais e, com isso, contaminasse a política no Brasil. Ele precisa ser vacinado e isolado do meio político brasileiro.
 
Leia também na SputnikNews.

 
Nota: qual a probabilidade de se escrever “cataclismo” ou “cataclisma”?
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