21/06/2020 às 18h36min - Atualizada em 21/06/2020 às 18h36min

CURUMINS MORREM MAIS QUE AS OUTRAS CRIANÇAS

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Não é fácil ser índio. Pior ainda em tempos de coronavírus. O índice de mortalidade entre crianças indígenas ficou tão alto que o Tribunal de Contas da União (TCU) determinou que o governo federal informe quais ações de saúde foram adotadas entre 2018 e 2020 e principalmente agora, em tempos de pandemia.
 
O subprocurador geral do Ministério Público de Contas, Paulo Bugarin, aponta que já existia "invisibilidade sanitária" dessas populações pela falta de estatísticas mais precisas na área de saúde – e agora, com a pandemia, "pode ficar ainda pior". O que é um absurdo total, uma falta de respeito ao ser humano, uma desumanidade completa!
A partir da determinação, o ministro relator Benjamin Zymler autorizou uma série de diligências com foco nas aldeias onde morrem mais crianças, como entre yanomamis e xavantes.
 
O pior de tudo é que as equipe de saúde podem ser as principais culpadas pelas contaminações nas aldeias. A ex-secretária de saúde indígena, Silvia Wayapi, afirmou à CNN: "As contaminações vieram pelas equipes de saúde. No início, as orientações sobre uso de máscaras não estavam sendo seguidas. Não vou mascarar as coisas. Eu, enquanto mulher, enquanto indígena, preciso falar disso. Vemos vários índios morrendo contaminados. Não respeitaram nenhuma quarentena para entrar em aldeia indígena".
 
A atual gestão da Secretaria Especial de Saúde Indígena, órgão ligado ao Ministério da Saúde, rebateu as afirmações da ex-secretária. Hoje a unidade é chefiada por Robson Santos. Por meio da assessoria, o órgão respondeu que tem se esforçado no combate ao coronavírus (Covid-19) em aldeias e que não é verdade que profissionais da área tenham entrado contaminados em áreas indígenas. Afirma também que não há subnotificação nos dados.
 
Neste fim de semana, a secretaria fez entrega de equipamentos e medicamentos, em Atalaia do Norte, no Vale do Javari, onde também foi inaugurada uma ala hospitalar para o atendimento de índios.
A situação, antes do coronavírus, já não era fácil. Crianças indígenas têm duas vezes mais risco de morrerem antes de completarem 1 ano de vida do que as outras crianças brasileiras, de acordo com dados oficiais. A desnutrição é altamente responsável. De acordo com o Ministério da Saúde, 65% dessas mortes são decorrentes de doenças respiratórias, parasitárias e nutricionais. Alguns bebês não sobrevivem mais do que alguns dias, após o nascimento.
Enquanto o índice de mortalidade infantil é de 12 mortos a cada mil nascidos na população em geral, nas comunidades indígenas, esse indicador pode chegar a 49.
"O Brasil pode ter diminuído as taxas de mortalidade infantil indígena, mas os números ainda demonstram o abismo entre a realidade sanitária indígena infantil e realidade sanitária da população não indígena", afirma o subprocurador.
 
Além do fornecimento de dados atualizados sobre o número de mortes, o governo federal deve repassar informações sobre os contratos de compra de combustível e locação de carros e embarcações para saber se os custos com logística são compatíveis com o resultado das ações - o que para o Ministério Público está aquém do necessário.
Não cuidar dos nossos índios não é coisa de “homem branco” – é algo desumano.

Leia também na CNN Brasil
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