03/03/2020 às 12h34min - Atualizada em 03/03/2020 às 12h34min

ECONOMISTA E PESQUISADOR AMERICANO:

“OS ESTADOS UNIDOS FIZERAM USO CRIMINOSO DA LAVA-JATO”

 
Mark Weisbrot é economista americano, colunista e co-diretor, com Dean Baker, do Centro para Pesquisas Econômicas e de Políticas Públicas em Washington (Center for Economic and Policy Research - CEPR). É também comentarista em publicações como The New York Times, The Guardian e Folha de S. Paulo. Ele declarou: "Os Estados Unidos usaram a Lava Jato para atingir um 'objetivo da política externa, que era se livrar de Lula e Dilma Rousseff e avançar um pouco mais no processo de 'demolir' a independência dos países latino-americanos". A intenção principal sempre foi ter os países na América Latina alinhados à sua política externa. “É com isso que eles mais se preocupam agora.”
 
Mark Weisbrot reafirma o que pensa da Lava Jato: "não há dúvida de que o Departamento de Justiça americano – como sabemos por seus próprios discursos e documentos – está pesadamente envolvido nessa história. Acho que pode até ter tido alguma influência política também”.
 
Membros do Senado e da Câmara americanos, um mês atrás, fizeram várias perguntas ao Departamento de Justiça, expressando preocupação. Dizem no documento que estão muito preocupados com as notícias de ações em conluio entre o ex-juiz Moro e os procuradores do caso, que se basearam em evidências fracas. Que as crenças dos procuradores eram insuficientes para uma condenação, que Lula não teve um julgamento imparcial. E que isso deveria ser uma preocupação para o Departamento de Justiça.

Os parlamentares perguntam o que o Departamento de Justiça realmente sabe disso tudo, se eles sabiam dessa armação. “Qual foi seu papel?”, perguntam e pedem detalhes do que eles fizeram.

Sobre a democacia brasileira, o pesquisador diz: "os EUA tiveram um papel muito importante em legitimar e apoiar o golpe contra Dilma. E durante todo o caminho, até a prisão de Lula, eles davam apoio através do Departamento de Justiça e de outras agências dos EUA. O golpe, em si, foi muito apoiado".

Um dos grandes sinais foi quando, um ou dois dias depois que o Congresso votou pelo impeachment de Dilma, o senador Aloysio Nunes, que comandava a comissão de Relações Exteriores no Senado, voou para os EUA e se encontrou com Tom Shannon, o número 3 do Departamento de Estado na época, alguém que se envolveu em muitas atividades terríveis ao longo de sua carreira. A razão do encontro era demostrar claramente que os Estados Unidos estavam apoiando o golpe. Porque a votação do impeachment tinha sido vista ao redor do mundo como uma vergonha, que afetou a cobertura da imprensa aqui - que era majoritariamente a favor do processo de impeachment, mas começou a hesitar depois que viu o que os senadores estavam dizendo.
 
Shannon teve um papel crucial. Todo mundo sabe quem ele é. É um ex-embaixador no Brasil e o terceiro nome no comando do Departamento de Estado na época. O encontro dele com Nunes foi uma forma muito inteligente de mostrar o apoio dos Estados Unidos ao golpe.
Como se não fosse suficiente, em agosto, John Kerry viajou ao Brasil e falou em frente da embaixada dos Estados Unidos com José Serra – que na época era o ministro das Relações Exteriores do governo golpista – e deu todo o apoio ao novo governo. Disseram que iriam trabalhar juntos. Pouco antes disso, o Senado estava votando e preferiram não condenar Dilma à perda dos direitos políticos.

Foi uma demonstração do apoio dos EUA não só ao impeachment, mas para se livrar de Dilma. Todo mundo que prestou atenção entendeu, embora tenha sido ignorado pela mídia."
 
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