22/02/2020 às 09h13min - Atualizada em 22/02/2020 às 09h13min

BRASILEIROS GO HOME

O SONHO AMERICANO VIROU PESADELO

 
Se você está pensando em largar o pesadelo brasileiro e partir em busca do sonho americano, é melhor despertar. O número de vistos negados a brasileiros sonhadores cresceu 45% no primeiro ano de Bolsonaro. A sua submissão a Donald Trump é total, mesmo que signifique não apoiar os sonhos de brasileiros.

A professora Graziele Soares, 35 anos, cheia de dívidas aqui na terrinha, ousou sonhar – e partiu para a fronteira mexicana, repetindo os passos de sua irmã há 16 anos. Mas bastou pisar na terra de um sonho distante, para ser presa. Segundo o seu relato, viveu “os piores dias” de sua vida no processo de deportação para o Brasil.
 
Entre outubro de 2018 e setembro de 2019 o número de vistos de turismo negados pelos Estado Unidos cresceu mais de 45% na comparação com o período entre outubro de 2017 e setembro de 2018 (governo Temer). Nesse último período, o número de brasileiros detidos pela imigração norte-americana ao tentar entrar irregularmente no país também cresceu loucamente, chegando a 17,9 mil presos nos centros de detenção do Departamento de Imigração.
 
O número de vistos negados não explica, mas se relaciona com o crescimento do número de pessoas detidas, no que parece ser uma estratégia para desincentivar novas tentativas de imigração de brasileiros aos EUA.
 
O aperto na política de imigração leva aos dois resultados, tanto para os que tentam o visto de forma legal e quanto para aqueles que, sem essa chance, querem entrar via México.
 
Os dados do Departamento de Estado, desde 2006, mostram que o número de vistos negados a brasileiros foi caindo rapidamente daquele ano, em que estava em torno de 13%, até 2014, quando chegou a 3,2%.
Em 2015, as negativas subiram um pouco, para 5,4%, possivelmente em função do início de uma crise econômica.
O salto começou em 2016, quando alcançou 16,7%, com o fim do governo do democrata Barack Obama.
Em 2017 e 2018, os vistos recusados ficaram um pouco acima de 12%, e agora saltaram para 18,5%.
 
Em El Paso, onde a maior parte dos brasileiros que tentam cruzar a fronteira irregularmente fica presa, o tratamento aos imigrantes é para dissuadir novas tentativas.
“Olha, a impressão que a gente tem é que tudo é feito para a gente se sentir humilhada e não querer mais voltar. E conseguiram. Foram os piores dias da minha vida”, contou a professora Graziele Soares, 35 anos, uma das brasileiras deportadas no voo que chegou ao Brasil no dia 8 deste mês.
 
Ela, como as demais mulheres ouvidas pela Reuters, conta que ficaram presas por cerca de 20 dias, até serem deportadas. Nesses dias, não tinham informação e só puderam tomar banho duas ou três vezes. Tiveram que pôr fora todos os seus pertences, com exceção dos documentos.
 
O Itamaraty estima que cerca de 1,7 milhão de cidadãos (brasileiros) vivam nos Estados Unidos hoje, entre regularizados e aqueles que estão lá irregularmente. Apesar de parecer alto, o número é pequeno na comparação com outros grupos de imigrantes. Dados do Bureau do Censo norte-americano apontavam, em 2016, o Brasil apenas como o 20º país com maior número de cidadãos vivendo nos EUA.
 
Atualmente, a autorização para os voos com deportados é dada pelo governo brasileiro que, desde 2006, não aceitava mais esse tipo de política.
No final de janeiro, o governo dos Estados Unidos, à revelia do Itamaraty, incluiu os brasileiros no MPP (Migrant Protection Protocols), o programa de Proteção ao imigrante, que leva para o México pessoas cruzando ilegalmente a fronteira para que esperem naquele país a audiência com um juiz, no caso de um pedido de asilo. Cerca de 50 brasileiros já foram enviados para Ciudad Juárez, do outro lado da fronteira com El Paso (Texas), para aguardarem uma decisão.
O endurecimento da política migratória do governo norte-americano não atingiu apenas o Brasil. Os dados obtidos pela Reuters mostram que os índices são praticamente os mesmos em todos os países em desenvolvimento e emergentes listados pelo Departamento de Estado.
 
Do lado brasileiro, tudo que se ouve é taoquei...

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