Nesta quinta-feira (20), foi realizado novo exame do ex-policial militar Adriano da Nóbrega, no Instituto Médico Legal (IML) do Rio de Janeiro. Não foram apontados sinais evidentes de tortura. A informação é do médico legista Talvane de Moraes, que acompanhou a necrópsia como convidado de dois legistas contratados pela família de Adriano: Francisco Moraes Silva e Ari Fontana, que vieram do Paraná.
“Não há sinais de tortura. Que eu tivesse visto, não”, disse o perito. Destacou, porém, que os resultados finais vão depender de exames complementares. “Eu não observei isto. Eu fiquei fora, não trabalhei com o corpo, fiquei só observando. A perícia do corpo terminou, mas agora vem o resultado do laboratório para complementar”, acrescentou.
O procedimento durou 6 horas e 30 minutos. E novo exame foi determinado pelo juiz da comarca de Esplanada (BA), Augusto Yuzo Jouti, que atendeu a pedidos do Ministério Público (MP) da Bahia e da defesa do ex-policial, morto no dia 9 de fevereiro durante confronto com policiais baianos. O laudo do novo exame deve ser apresentado à Justiça baiana em quinze dias. Mas isso não é tudo. No último dia 1º, Júlia Mello Lotufo, mulher do ex-capitão do Bope Adriano Magalhães da Nóbrega, disse que ele seria morto numa operação de “queima de arquivo” organizada pelo governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel. Na ocasião, não quis explicar por que Witzel se empenharia na morte do marido dela (que de fato aconteceu oito dias depois, durante operação realizada pela Polícia Militar da Bahia, com a ajuda da equipe de inteligência da polícia fluminense). Júlia obviamente está escondida. Assustada, confidenciou a pessoas próximas o medo de vingança de uma organização criminosa infiltrada na administração do Rio, caso revele o que sabe. E parece que ela sabe muito mais do que se imagina. Foram dez anos de relacionamento amoroso com Adriano da Nóbrega, o ex-policial que enriqueceu ao mergulhar no submundo do crime e foi acusado pelo Ministério Público de chefiar uma das mais temidas milícias do Rio. Viu muito, ouviu muito.
Foi a partir de conversas com parentes e pessoas do círculo íntimo de Adriano, que a revista Veja descobriu os motivos da manifestação pública de sua mulher. Enquanto estava foragido, ele confidenciou a ela ter dado 2 milhões de reais em dinheiro vivo à campanha de Witzel ao governo do Rio. Também revelou a ela quem pediu e quem recebeu as mochilas de dinheiro — que teria sido repassado como uma espécie de investimento, um seguro que garantiria proteção para tocar seus negócios clandestinos sem ser importunado pelas autoridades, especialmente a polícia. A propina selaria a paz entre as partes. Se isso é verdade, algo deu errado.
Em janeiro do ano passado, logo no primeiro mês de mandato de Witzel, o Ministério Público do Rio acusou Adriano de chefiar o Escritório do Crime e conseguiu uma ordem de prisão preventiva contra ele. Foragido, ativou sua rede de contatos e pediu socorro, invocando a ajuda financeira que prestara na campanha. Os amigos disseram a ele que Witzel queria usá-lo como um troféu, como prova da eficácia de sua política de segurança. Ele não acreditou. Verdade ou não verdade, ele dançou.