16/02/2020 às 12h10min - Atualizada em 16/02/2020 às 12h10min

BOLSONARO ESTÁ ENROLANDO MORO?

OU SERÁ QUE É O CONTRÁRIO?


A advogada Rosângela Moro é esposa do ministro da Justiça, Sergio Moro, e faz questão de afirmar que seu marido e Jair Bolsonaro representam uma coisa só. “Sou pró-governo federal. Eu não vejo o Bolsonaro, o Sérgio Moro (como coisas separadas). Eu vejo o Sérgio Moro no governo do presidente Jair Bolsonaro, eu vejo uma coisa só”, afirmou, em entrevista ao jornal Estado de S. Paulo. “O ministro (no caso, o marido dela) até brincou esses dias: ‘Ah, vou tatuar na testa que não vou ser o presidente’. O ministro é da equipe do presidente Jair Bolsonaro, dá total apoio para o presidente, inclusive no futuro aí, na reeleição”, disse ela.
 
Em 2016, no auge da Operação Lava Jato, Rosângela Wolff Moro chegou a criar uma página no Facebook chamada “Eu moro com ele”. Queria reunir ali as homenagens feitas às investigações e, especialmente, os elogios direcionados ao seu marido, o então juiz federal Sérgio Moro, que cuidava dos casos em Curitiba. A página acabou desativada com a proximidade das eleições de 2018, mas o casal continua com forte presença nas redes sociais. Atualmente, Rosângela tem 305 mil seguidores no seu perfil. Lá, publica fotos de viagens, registros de encontros com o marido, e faz comentários sobre questões como a criação do juiz de garantias e o entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF) que derrubou a possibilidade de prisão após condenação em segunda instância.
Ela é especializada em Direito Tributário e rejeita o rótulo de “digital influencer”, mas gosta de ser considerada a “fã número 1” do marido.
 
Em entrevista na última quarta-feira, ela reclamou do clima de radicalização política no País. Acha que não dá para levar tudo “a ferro e fogo” na internet. “Tem pessoas que respondem com vocabulário mais pesado, num tom mais de ‘vamos comprar uma briga’, mas não é o meu objetivo perder energia nisso”, disse.
 
É muito religiosa e é só elogios sobre o governo, inclusive à campanha da ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, que traz a abstinência sexual como uma das formas de evitar a gravidez precoce.
Sobre Bolsonaro, avalia que, ao contrário dos antecessores, o presidente não fez loteamento político dos cargos e evitou o “toma lá, dá cá” (nessa hora, certamente Moro olhou para o teto e pigarreou discretamente...), o que seria lugar comum na política.
 
No mês passado, Bolsonaro deu a entender que esvaziaria o Ministério da Justiça e Segurança Pública. Teria até ameaçado tirar funções de Moro, mas não foi adiante. Isso aconteceu no momento em que a popularidade de Moro tinha ultrapassado a dele, como eventual candidato ao Palácio do Planalto em 2022.
 
Rosângela trata de pôr panos quentes e garantir que Moro e o Bolsonaro formam um time. “O ministro até brincou esses dias: ‘Ah, vou tatuar na testa que não vou ser o presidente’. O ministro é da equipe do presidente Jair Bolsonaro, dá total apoio para o presidente, inclusive no futuro aí, na reeleição”, disse.
 
Quando perguntam como se define, bolsonarista ou morista, ela mostra que é vaselina: “Sou pró-governo federal. Eu não vejo o Bolsonaro e o Sérgio Moro como coisas separadas. Eu vejo o Sérgio Moro no governo do presidente Jair Bolsonaro, eu vejo uma coisa só”, respondeu.
 
Para a advogada, a derrubada da execução antecipada de pena, que abriu caminho para a soltura de Lula, e a criação do juiz de garantias – medida que acabou suspensa pelo STF – não representaram uma derrota de Moro, mas, sim, da sociedade. Mas, na verdade, que ela não quer admitir, foi, sim, derrota de Moro e de toda a direita.

“Conhecendo a história do Judiciário, a exigência de dois juízes pode ser uma grande dificuldade, na medida em que há comarcas que não têm nenhum”, afirmou Rosângela. Quando o ministro Luiz Fux, do STF, suspendeu o dispositivo, ela escreveu no Instagram: “We trust em Fux”. Repetindo a mensagem vazada pelo site The Intercept Brasil que Moro enviou ao coordenador da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, Deltan Dallagnol.
 
Diante da pergunta se há expectativa sobre a vaga no STF, que vai ser aberta em novembro, ela sai espertamente pela tangente: “Melhor ele concluir o trabalho dele como ministro da Justiça. (...) O presidente vai decidir na hora certa o que pretende para o País”. Demonstrou apenas que é boa política.
 
A mulher de Moro se define como liberal na economia – defende interferência mínima do Estado – e conservadora nos costumes, mas sabe espertamente arranjar um jeitinho de contornar certas questões. Por exemplo, é contra o aborto - ma non troppo... “Sou contra o aborto. Agora, eu acho que você penalizar, criminalizar, talvez não seja a saída, porque as mulheres pobres, que se submetem a condições desumanas, acabam sendo criminalizadas”, afirmou de forma nada conservadora.
 
Ela gosta quando o marido abre a porta do carro para ela, vendo nisso um gesto de gentileza. Diz que o verdadeiro feminismo consiste em dar o direito de escolha para cada mulher ser quem quiser. “Quem quiser trabalhar só em casa, que seja feliz. Não dá para ter radicalismo nisso”, resumiu. Nas horas livres, acompanha documentários e seriados. Abandonou, porém, O Mecanismo (série de TV inspirada nos bastidores da Operação Lava Jato, criada por José Padilha e Elena Soarez, dirigida por José Padilha, Felipe Prado, Marcos Prado e com roteiros de Elena Soárez). Ela considera, obviamente, que “perderam a oportunidade de contar uma história incrível.”

Leia também no Estadão e no Brasil247.
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