08/01/2020 às 14h24min - Atualizada em 08/01/2020 às 14h24min

​LULA: “ISSO TÁ ME CHEIRANDO CAMPANHA ELEITORAL”.

EX-PRESIDENTE FALA SOBRE A CRISE EUA x IRÃ



Com a autoridade de quem já enfrentou o governo dos Estados Unidos ao negar apoio à guerra contra o Iraque para depor Saddam Russein e negociar com o Irã um acordo sobre o programa nuclear do país, para tentar evitar as sanções lideradas pelos americanos, o ex-presidente Lula falou, nesta quarta-feira, sobre a nova crise entre os dois países na entrevista ao vivo para o site Diário do Centro do Mundo, a primeira que concedeu em 2020.
Lula criticou os Estados Unidos em relação ao ataque ao Irã e disse que considera o acirramento do conflito parte da tentativa do presidente Donald Trump para se reeleger. “Os EUA precisam de inimigo sempre, isso está me cheirando a campanha eleitoral”, disparou. É que “os Estados Unidos gostam de criar confusão e de preferência longe do território deles. Não há necessidade de se “inventar terrorismo no Irã”.

O ex-presidente também criticou a posição do presidente Jair Bolsonaro sobre a crise, chamando Bolsonaro de “lambe botas” do  Trump.
“Não é época para o Brasil se meter em uma briga internacional. O Brasil precisa ser considerado um construtor de harmonia, de paz, porque é isso que é obrigado a ter de comportamento um país que tem fronteira com tantos países da América do Sul. O Brasil sempre teve uma política externa coerente e corajosa. Diferentemente dos EUA, que vivem procurando confusão, vivem querendo atirar pedra no quintal dos outros”, reafirmou o ex-presidente.

A diferença de postura do Brasil em relação aos Estados Unidos é sempre lembrada pelo ex-presidente Lula em encontros com a população. Nesse momento, ela ganha destaque. Na páginas oficiais do ex-presidente, Lula relembra o que ele falou para o ex-presidente Bush, no primeiro encontro que tiveram, em 2002, quando ele já era presidente eleito do Brasil. A discordância sobre as prioridades dos dois países foi o ponto principal da conversa. 
Ao contrário da política atual do governo brasileiro que bate continência para a bandeira dos Estados Unidos e que tem à frente do ministério das Relações Exteriores Ernesto Araújo (um chanceler que também tem Donald Trump como um líder), o Brasil já foi mediador para tentar resolver crises mundiais contra o Irã (em 2010, quando os Estados Unidos lideravam uma campanha sobre o programa nuclear iraniano). O ex-presidente Lula e o chanceler Celso Amorim, experiente diplomata, conseguiram o apoio da Turquia e negociaram com o governo iraniano. Em 17 de maio, o Irã assinou um acordo com o Brasil e a Turquia. O país concordou em enviar urânio para ser enriquecido no exterior, baseado na proposta da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA, órgão da ONU) que previa o enriquecimento do urânio iraniano em outro país em níveis que possibilitariam sua utilização para uso civil, não militar. Era a última tentativa para evitar que as grandes potências ampliassem as sanções ao Irã.

Hillary Clinton, secretária de Estado dos Estados Unidos na época, rapidamente organizou um isolamento diplomático contra o Irã e conseguiu apoio para que o Conselho de Segurança da ONU aprovasse mais sanções contra o Irã. O Brasil e a Turquia votaram contra e o Líbano se absteve. Vinte anos depois, a crise dos Estados Unidos contra o Irã leva o mundo ao estado de alerta máximo. Donald Trump é acusado de armar uma emboscada para matar o general Qassem Soleimani,  considerado herói do Irã, ao atacar com um drone perto do aeroporto de Bagdá, na sexta-feira, 3 de janeiro. Ao mesmo tempo que o corpo do general era enterrado no cemitério da cidade de Kernan, na “seção dos mártires”, o governo iraniano revidava ao disparar mísseis contra duas bases americanas no Iraque.

Dessa vez, o Brasil nem quis saber e apoiou o ataque de Trump. A inabilidade do governo brasileiro contra um dos principais parceiros comerciais no Oriente Médio já levou os aiatolás a pedir explicações duas vezes sobre a posição do governo de Bolsonaro. As consequências estão a caminho. E aquele chanceler, que acredita que a terra é plana, saiu de férias...
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