29/12/2019 às 18h26min - Atualizada em 29/12/2019 às 18h26min

​E NÃO ERA BLEFE...

ERA O AVANGARD RUSSO


Saiu na mídia a notícia do novíssimo míssil hipersônico russo, Avangard, que supera todas as defesas norte-americanas. Essa formidável arma tinha sido anunciada em 2018, mas foi tratada pelo governo americano como “blefe” de Putin.

Vê-se agora que não foi blefe e que a defesa americana terá de correr atrás do prejuízo.

Desde que Putin começou a modernizar o exército herdado da União Soviética, no começo dos anos 2000, e dotá-lo de tecnologia de ponta, a Rússia conquistou a dianteira dos americanos no tocante à tecnologia militar, invertendo a situação havida durante a Guerra Fria.

Mas com o fim da União Soviética a economia da Rússia ficou do tamanho da brasileira. Nessas condições, Putin mudou a estratégia de defesa, pois sabia que não poderia mais contar com uma força militar quantitativamente tão poderosa quanto a americana, que tem bases nos quatros continentes e em todos os oceanos.

Optou por desenvolver novos modelos tecnologicamente mais avançados de mísseis, aviões, submarinos, tanques e drones.

Apenas para citar algumas das armas mais avançadas em operação ou em fase de teste temos, além do míssil hipersônico Avangard, o torpedo especial Poseidon. Na realidade é um drone submarino com poderosa cabeça nuclear (50 megatons), que pode atravessar oceanos a uma profundidade de 1 km e velocidade de 200 km/h. Tem poder para provocar destruidoras tsunamis nas regiões costeiras ou afundar toda uma esquadra. Por isso Poseidon é chamado de “torpedo do Juízo Final”.
 
No plano defensivo se destaca o até agora insuperável sistema antimíssil de longo alcance S-400, com a nova geração dos S-500 entrando em fase de teste em 2020. O governo americano sabe que os S-400 anulam toda a sua vantagem aérea, por isso impõe sanções àqueles países que ousam comprar esses mísseis russos, como é o caso da Turquia.

Além dessas armas de alcance estratégico ofensivo e defensivo, os russos produzem os submarinos mais silenciosos de todos e o caça de 5ª geração SU-57, que deixou para trás o caro F-35 americano. Para a guerra tática, foi lançado o mais avançado tanque do mundo, o T-14 Armata, altamente protegido e automatizado, com a torre e o canhão movidos por controle remoto.
 
Esse avanço da tecnologia de defesa, em vários pontos superior ao americano, só foi possível pela reestruturação profunda da antiga indústria bélica soviética, com a formação de consórcios do Estado com modernas empresas privadas russas e um corpo de técnico e de pesquisa com muito conhecimento acumulado e bem remunerado. Foi assim que, em cerca de 10 anos, Putin criou o punho de superioridade tecnológica da defesa russa.

E fez tudo isso sem deixar de modernizar gradualmente o conjunto das forças armadas, com a meta para atingir 70% de modernização em 2020. Com o número de efetivos muito mais reduzido e nova estratégia de emprego, o exército russo se transformou numa força profissional altamente treinada, como provou com a superioridade conquistada na guerra civil da Síria.

Caberia aqui a conclusão, muito ao gosto da mídia americana, de que se Putin desenvolveu todo esse poder destrutivo é porque representa uma séria ameaça ao mundo ocidental. Aparentemente pertinente, essa conclusão é equivocada. Na verdade, a suposta ameaça russa é premeditadamente fabricada pelos governantes americanos, como uma fake news visando seus interesses geopolíticos.
 
O pacto militar da OTAN foi criado com a justificativa de enfrentar a ameaça da União Soviética socialista. No entanto, depois do fim desta e de sua transformação num país capitalista, seria de se esperar a dissolução desse oneroso bloco militar. Mas não foi isso o que aconteceu. Mais 12 novos membros foram incorporados, principalmente países do Leste europeu que fazem fronteira com a Rússia. Desse modo, a OTAN expandiu sua força militar em torno da Rússia e ainda criou parceiros em outras regiões, como a Austrália e a Nova Zelândia, por exemplo, que nada têm a ver com o Atlântico Norte.
 
Ficou claro que a OTAN não passa de uma estratégia de hegemonia militar americana para ameaçar a Rússia e a China e ainda colocar a Alemanha e toda a Europa subordinada ao seu interesse econômico e geopolítico.

A Rússia reagiu à altura, tanto do ponto de vista militar - como vimos acima -, como no campo econômico e diplomático, sempre defendendo parcerias com países europeus e a renovação dos Tratados de Limitação de Armas Nucleares, contra a vontade do complexo industrial-militar americano, que busca aumentar as tensões.
 
Vivemos, portanto, uma situação internacional muito mais perigosa do que nessa época da confrontação bipolar. A crescente e inexorável perda de hegemonia para a China faz dos Estados Unidos uma fera ferida disposta a retaliar em todos os campos, inclusive no perigoso campo militar. Ainda bem que o mundo conta com um político responsável e equilibrado como Putin.
 
Val Carvalho
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