19/11/2019 às 16h06min - Atualizada em 19/11/2019 às 16h06min

MULHERES BOLIVIANAS VÃO À LUTA

CHOLAS SÃO O SÍMBOLO DA RESISTÊNCIA



Com as saias coloridas e rodadas, tranças e a wiphala na mão, elas surgem de todos os cantos para lutar contra o golpe de estado que tirou o ex-presidente Evo Morares do poder e levou a Bolívia ao caos, à beira do estado de sítio. Os índios e os camponeses têm uma certeza: “Mulher de saia e trança, é esperança”. Pode ser nas ruas de La Paz, Cochabamba, El Alto, ou longe de casa, como os bolivianos que pedem a volta da democracia na Praça de Maio, em Buenos Aires ou na Avenida Paulista.
As palavras de ordem são as mesmas: “Somos os filhos das mulheres de saia, dos camponeses, somos Evo! E reforçam o apoio ao ex-presidente exilado no México, desde as ameaças de morte feitas pelos golpistas. "Desde Evo não olhamos para baixo", lembrando os 13 anos que a Bolívia teve um índio como presidente da República. Durante esse período, as Cholas reafirmaram sua força, mas ainda falta muito para a igualdade entre os homens. As Cholas são mulheres indígenas da Bolívia Andina que usam seus cabelos em duas longas tranças, chapéu-coco, uma manta, um aguayo tradicional que as permite carregar coisas nas costas, e saias plissadas com camadas de anágua por baixo.
Com o agravamento da crise política na Bolívia, as mulheres indígenas gritam contra os golpistas, tentam segurar a barra dos manifestantes e choram os filhos e maridos mortos pelas forças policiais e militares. E reagem. Como a mãe de militar que dá bronca e pede ao filho militar que não participe mais do massacre do seu povo. 


 
As Cholas choram, se desesperam e recuperam as forças para lutar contra os que entregaram a soberania do seu país. Como a boliviana que perdeu o marido nos ataques dos últimos dias.  “Meu companheiro foi morto como um cachorro. Darei minha vida por minha pátria”, reafirma a disposição para a luta.




Qual é o lugar da Chola na Bolívia? Como são mostradas as Cholas bolivianas na mídia? Desde 2015, quando publicou o blog “Chola Bocona”, agora também um canal no YouTube, a Chola feminista Yolanda é taxativa: “Ser Chola está na moda”. Mas também garante que a caminhada ainda é longa. "Querem tratar as Cholas como ornamentos”, relata em vídeos como a imagem da Chola vem se tornando popular ao mesmo tempo que sua filosofia de vida continua sendo desmerecida. “As Cholas são convidadas a participar da vida política, mas suas opiniões ou projetos não são considerados. Sua imagem serve apenas para passar a imagem de políticas progressistas e validar candidaturas. Yolanda enfatiza que, para ela, o verdadeiro significado de ser Chola é lutar. No campo e nas ruas, as Cholas mostram que estão na luta e que de nada adianta um ministro do autoproclamado governo dizer, orgulhoso, em rede nacional na TV : “Graças a Deus, temos uma presidenta com as calças compridas bem vestidas”, se referindo à autoproclamada presidenta Jeanine Añez.  As saias coloridas e rodadas, as tranças e o chapéu pretinho, cada vez mais, se firmam nessa jornada de luta pela renúncia de Añez e pela volta da democracia na Bolívia.

Opendemocracy
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