13/11/2019 às 08h41min - Atualizada em 13/11/2019 às 08h41min

​EXEMPLO PARA O BRASIL:

A QUARTELADA BOLIVIANA...

 

O sociólogo Marcelo Zero sabe muito bem o que diz. É sociólogo, especialista em Relações Internacionais e membro do Grupo de Reflexão sobre Relações Internacionais (GR-RI), além de colunista do Brasil Debate. Aliás, parece ter o dom da premonição. Foi só ele escrever esse texto e tivemos na manhã de hoje a agressão à embaixada da Venezuela em Brasília. Ele diz que o Brasil bolsonarista já tem um exemplo civilizatório a seguir: a Bolívia. Ou será o contrário?

Leia seu alerta aterrorizante.
 
Com efeito, assiste-se lá a uma típica e sangrenta quartelada, que honra a tradição democrática da antiga Bolívia de oligarquias fascistas e racistas.
Nada de golpes brancos, travestidos com a diáfana legitimidade de sistemas jurídicos partidarizados, como o que aconteceu no Brasil. Não, lá as coisas são mais cruas e mais “verdadeiras”. Não há máscaras jurídicas e políticas. A força bruta, justificada pela religiosidade neopentecostal, se revela em toda a sua aberrante violência.
Lá, as milícias neopentecostais de “Macho” Camacho, a polícia partidarizada e, agora, as Forças Armadas estão fazendo o que Bolsonaro sempre recomendou: exterminar fisicamente os opositores ou levá-los ao exílio.
 
Incendiaram as casas de ministros e políticos ligados ao MAS e a Evo Morales e sequestraram pessoas para violentá-las e humilhá-las publicamente. Foi o caso de Patricia Arce Guzmán, prefeita de Vinto, departamento de Cochabamba. Por ser do MAS, ela foi sequestrada, brutalmente golpeada, teve seu cabelo cortado e seu corpo pintado de vermelho. Depois, foi obrigada a andar por horas de pés descalços, sempre golpeada e humilhada, num espetáculo que lembrou muito a perseguição aos judeus na Segunda Grande Guerra. A polícia a tudo assistiu fazendo cara de paisagem. Só interveio quando ficou evidente que ela iria ser morta.
 
Esse não foi um caso isolado. A ONU se refere a mais 300 casos semelhantes de sequestros, incêndios de casas, e humilhações cometidos pelas hostes religiosas-fascistas de “Macho” Camacho, o Klaus Barbie de Santa Cruz, a região afluente e racista da Bolívia, que odeia os indígenas do Altiplano. Curiosamente, eles se autodenominam “cívicos”. “Cívicos” virou eufemismo para milícias fascistas.
 
Em contraste, Evo Morales, ante a crise instalada, fez todas as concessões possíveis: convidou a OEA para fazer a auditoria das eleições, chamou os opositores para o diálogo e até concordou em realizar um novo pleito, sem a sua presença. Mas “Macho” Camacho e Carlos Mesa mantiveram-se intransigentes em rejeitar qualquer diálogo e em perseguir o objetivo autoritário de derrubar o governo Evo Morales a todo custo.
O triunfo da força bruta e do racismo foi aqui aplaudido. Os “cívicos” tupiniquins ficaram alvoroçados. Houve procuradora que considerou o papel das Forças Armadas na Bolívia como um exemplo a ser seguido. O Ministro da Defesa do Brasil considerou o golpe violento como um “avanço da democracia”. A nossa grande imprensa, seguindo sua notável tradição, também apoiou o golpe racista.
 
Nada de se estranhar.
A característica principal das oligarquias brasileiras e latino-americanas de um modo geral é sua falta de compromisso real com a democracia e sua incapacidade de conviver com processos significativos de distribuição de renda, de combate à pobreza, e de ascensão social e política das camadas da população historicamente excluídas dos benefícios do desenvolvimento.
 
No Brasil, como na Bolívia, governos que ampliam a democracia real, ampliam oportunidades e direitos, e permitem a ascensão dos historicamente excluídos provocam uma paúra extrema nas oligarquias acostumadas, no máximo, a uma democracia restrita e excludente, que não ameace seus interesses de classe ou seu domínio tradicional sobre o sistema político.
O grande crime de Evo Morales e do MAS foi ter promovido a ascensão econômica, social e política das grandes massas indígenas e miseráveis do Altiplano boliviano, historicamente excluídas de cidadania e odiadas pela “Medialuna” mestiça e racista, cujo centro geográfico é a Santa Cruz de “Macho” Camacho.
 
Com Evo Morales, a pobreza na Bolívia foi reduzida de cerca de 60% para ao redor de 35%. Já a pobreza extrema passou de 38,2% para 15,2%. O analfabetismo passou de 15% para 2,4%, e o desemprego em caiu de 9,2% para 4,1%.
 Saliente-se que tal evolução social surpreendente foi conseguida com uma taxa de crescimento econômico que é a maior da América do Sul. Nos últimos 10 anos, a Bolívia cresceu a uma média anual de cerca de 5%, muito superior à do Brasil e a de muitos outros países. Mesmo com a grande crise recente das economias latino-americanas, a Bolívia continuou crescendo. No ano passado, cresceu 4,2 %, algo que faria o ultraneoliberal Guedes salivar de contentamento.  Até o conservador e sisudo FMI elogiou a performance econômica do governo do MAS.
 
O maior crime de Morales, no entanto, foi ter criado uma nova ordem político-constitucional, que deu voz e participação ativa aos indígenas miseráveis da Bolívia, historicamente submetidos ao tacão autoritário de uma oligarquia mestiça e racista, que agora se vinga de forma violenta.
A vingança, contudo, pode voltar-se contra toda a Bolívia. O golpe submergiu nosso vizinho em violência e total anomia. Não há comando, não há governo. Só há o ódio das ruas. E há a reação das massas indígenas que apoiam Morales. Vive-se um clima de guerra civil.
O golpe brutal na Bolívia, que foi insuflado pela OEA, a qual contestou os resultados eleitorais antes da realização de qualquer auditoria, serve de advertência contra um otimismo excessivo gerado pelas revoltas populares ocorridas no Equador e no Chile.
 
O Império e as oligarquias locais apostam alto em regimes conservadores que reimplantem o modelo neoliberal e recoloquem os países da região na órbita geoestratégica dos EUA.
Para esse grande objetivo, vale tudo. Até mesmo violentas quarteladas milicianas.
Os “cívicos” estão salivando.
 
Leia no Brasil247.
Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »
Daqui&Dali Publicidade 1200x90