Com a queda de Morales, Trump e sua principal linha auxiliar na América do Sul, ganham motivação no cerco à Venezuela e, de quebra, quem sabe, à Argentina. Na sua estratégia de conquistar a Bolívia, trataram, primeiro, de dividir o país em dois. Ocuparam a capital, Sucre, e isolaram La Paz, a sede do governo. Estrangularam a Bolívia, forçaram a renúncia de Morales. Provavelmente, não avançam mais sobre a Venezuela, primeiro, porque a resistência contaria com alto poder de fogo; segundo, porque China e Rússia estariam mais presentes.
A Bolívia tem a segunda maior reserva de gás natural na América do Sul (dados de 2008). Sua economia deve registrar agora em 2019 o maior crescimento da América do Sul. E a última projeção do Fundo Monetário Internacional (FMI), divulgada em outubro, aponta um avanço de 4% do Produto Interno Bruto (PIB). Essa não é exatamente uma situação nova. Na última década, o país vem crescendo em média a 5% ao ano. E esse ciclo, que já foi chamado de "milagre econômico boliviano", começou em 2006, quando Evo Morales chegou ao poder.
Uma das primeiras e principais medidas de Evo Morales foi a nacionalização do petróleo e do gás natural. Parte das empresas privadas foi transferida para as mãos do Estado. As multinacionais tiveram que renegociar os contratos com a estatal Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos para continuarem operando no país e passaram a pagar mais para explorar jazidas. Mais de uma década depois, naturalmente, o cenário foi redesenhado. O primeiro índio presidente sofreu ataques de toda parte. Uma das principais fontes de renda do país, o estanho, infelizmente, teve forte queda nos preços na última década. Crise econômica, Trump, crise política, uma coisa levou à outra.
Para tentar aliviar a tensão, Morales havia anunciado a convocação de novas eleições na manhã do domingo, depois que o secretário-geral da OEA (Organização dos Estados Americanos), Luis Almagro, pediu a anulação das eleições na Bolívia, após auditoria realizada na apuração dos votos. Mas não teve jeito. Ele declarou: "Me dói muito que nos tenham levado ao enfrentamento. Enviei minha renúncia para a Assembleia Legislativa Plurinacional".
Dói muito à América do Sul.
NOTA: Notícias mais recentes dão a entender que Evo Morales prepara-se para reagir ao golpe.
