10/11/2019 às 12h45min - Atualizada em 10/11/2019 às 12h45min

STEVE BANNON SOBRE LULA:

“É O MAIOR ÍDOLO DA ESQUERDA GLOBALISTA DO MUNDO”


Steve Bannon é o ex-estrategista-chefe do governo Trump e consultor eventual dos Filhos de Bolsonaro (ao lado do astrólogo de Virgínia, Olavo de Carvalho). Foi ele que criou a retórica nacionalista que ajudou a eleger o presidente americano. Ofende o Brasil chamando nosso maior líder popular, Lula, de "cínico e corrupto". Sugere que o seu retorno significará a "volta da corrupção" ao Brasil – como se ela não estivesse agindo a todo vapor sob as asas do atual governo.
Como estrategista dos Bolsonaros e o principal articulador da nova direita internacional, é natural que ele diga essas barbaridades. Mas Steve Bannon classifica Lula como "o maior ídolo da esquerda globalista do mundo" desde a saída de Barack Obama do governo dos EUA, e afirma que sua volta às ruas trará "enorme perturbação política ao Brasil". Esqueceu de dizer que isso é excelente notícia para um país que procura se ver livre da direita fascista que tomou conta do Planalto.

Em entrevista exclusiva à BBC News Brasil, o diretor-executivo da campanha de Donald Trump à presidência e ex-estrategista-chefe de governo do republicano parte para o ataque a Lula:
"Agora que está livre, Lula vai virar um ímã para a esquerda global se intrometer na política brasileira. Ele é o 'poster boy da esquerda globalista'".
Como bom piadista, Bannon avalia as investigações sobre o uso de laranjas no PSL e o suposto caixa 2 na campanha de Bolsonaro à presidência como "puro non-sense" e uma tentativa do establishment de boicotar o governo. "Aconteceu o mesmo com Trump". A que ponto chega um “estrategista” como esse!
 
Bannon cancelou recentemente viagens ao Brasil, à Inglaterra, à Itália e à Austrália para estruturar uma força-tarefa contrária ao processo de impeachment de Trump, nos EUA. Mas não esqueceu dos seus bons negócios no Brasil e resolveu ofender o STF e declarar que  é "bastante evidente" que o Supremo Tribunal Federal agiu para atrapalhar Bolsonaro ao decidir que réus só devem ser presos após se esgotarem as possibilidades de recursos - o que permitiu a libertação de Lula da carceragem da Polícia Federal, em Curitiba, na última sexta-feira (8).
Não contente com isso, resolve surfar nessa maionese política e declarar repetidamente que "o Brexit, a eleição de Donald Trump e a eleição de Bolsonaro são fatores intrinsecamente ligados". Diz que "essas coisas (o impasse sobre a saída do Reino Unido da União Europeia e o impeachment de Trump) mostram a ordem estabelecida se recusando a reconhecer o poder desse movimento populista e nacionalista".
Foi questionado sobre se esses revezes, somados à volta da esquerda na Argentina e a derrota do aliado Matteo Salvini, na Itália, representariam a derrocada da onda da direita nacionalista populista. Bannon reconhece que são "obstáculos no caminho", mas joga a culpa na imprensa.
"Isso é ilusão. Nós ainda estamos nos primeiros passos, isso é uma revolução", diz.

Por outro lado, ele acredita que a liberdade de Lula pode ajudar a consolidar a base de apoio de Bolsonaro em torno da aprovação de reformas da mesma forma que pode unificar a esquerda em torno de Lula.
"Mas não ache que isso não vá vir sem um preço", alerta.
 
Leia a seguir os principais trechos da entrevista.

BBC News Brasil: Como estão as coisas com o processo de impeachment do presidente Donald Trump nos EUA?
Steve Bannon: Criamos um portal e estamos fazendo transmissões diárias, com notícias 24 horas, podcasts. Começamos há duas semanas porque nada estava sendo feito, não havia um local centralizado, e é preciso ter para dar respostas às fake news, teorias de conspiração e de caça às bruxas. Ela (Nancy Pelosi, líder do Partido Democrata na Câmara dos EUA) está dando uma aula magna em guerra política. Então é preciso organizar as forças para contrapor. Isso vai ser grande, bem grande.
BBC News Brasil: A ideia nessa entrevista é ouvi-lo também sobre Bolsonaro, Lula e o que está acontecendo no Brasil.
Steve Bannon: Veja, o Brexit, 2016 (eleição de Donald Trump) e até Bolsonaro são fatores intrinsecamente ligados. Brexit e 2016, definitivamente conectados, e Bolsonaro de forma decorrente. Você vê as mesmas coisas acontecendo. É irônico que no Halloween, em 31 de outubro, eles votaram para formalizar o processo de impeachment nos EUA no exato mesmo dia em que o Reino Unido não deixou a União Europeia como previsto, três anos depois (do referendo sobre o Brexit).
E o voto da nova eleição geral do Reino Unido, em 12 de dezembro, vai provavelmente acontecer a poucos dias do voto do impeachment contra Trump. Acabam de definir que vai ser em meados de dezembro. Então, essas coisas mostram a ordem estabelecida se recusando a reconhecer o poder desse movimento populista e nacionalista.
E Bolsonaro, Lula e o Judiciário permitindo que Lula saia da prisão, isso vai fortalecer Bolsonaro. Acho que os seguidores dele verão a importância de continuar empurrando a agenda dele com um senso extra de urgência. Mas acho que isso vai causar uma perturbação enorme no Brasil, potencialmente enorme.
BBC News Brasil: Por quê?
Steve Bannon: Acho que Lula é um dos políticos e indivíduos mais cínicos e corruptos no mundo. Obama se referiu a esse cara como "o cara". Literalmente, entre aspas, "o cara", e ria....
Lula é o esquerdista mais celebrado da história do mundo. O que eu chamo reino do terror financeiro e da corrupção. Foi Lula que fez essa roda girar em conchavo com um bando de políticos corruptos brasileiros. Lula é uma figura trágica. Dado de onde veio e sua ascensão política, havia muitas, muitas coisas boas que ele estava fazendo. Mas ele é alguém que foi corrompido por dinheiro e poder. É evidente, e, para mim, isso agora vai causar uma enorme perturbação política no Brasil.

Foi o que aconteceu no Reino Unido e nos EUA. Nos EUA, Nancy Pelosi e as forças da esquerda e da ordem estabelecida forçaram os EUA a uma crise constitucional neste fim de ano, junto à temporada de feriados. No Reino Unido, há uma crise constitucional no Reino Unido. Essencialmente, haverá um segundo referendo sobre o Brexit. As forcas antidemocráticas ganharam, elas tiraram as pessoas do caminho.
A mesma coisa no Brasil, isso vai levar o Brasil a uma crise constitucional, porque agora há um líder ativo da oposição, que deveria estar preso, agora solto e pronto para dar fôlego a seu grupo e tentar impedir tudo o que Bolsonaro está tentando fazer.
 
BBC News Brasil: Quando o senhor fala em enorme perturbação, está falando de que exatamente? 
Steve Bannon: Tentar parar o movimento de reformas de Bolsonaro, que claramente se contrapõe a muito da corrupção que emanava no escândalo da Lava Jato e outros. A reforma da Previdência, toda a reestruturação financeira e a retirada da corrupção do sistema.
Segundo, acho que Lula vai tentar criar problemas sobre a Amazônia. O que ele traz consigo é uma rede da esquerda marxista e cultural. Traz os recursos, os globalistas, e traz na forma de um populismo de esquerda. Mas ele é um globalista e eles sempre o apoiaram. Particularmente nesse momento sensível, as forcas globalistas vão tentar interferir nos direitos absolutamente nacionais da população brasileira, que tem o direito de tomar conta da Amazônia.
 
BBC News Brasil: O senhor acha que este cenário permitiria ao presidente Bolsonaro eventualmente escalar a repressão policial ou militar?
 
Steve Bannon: Não, de jeito nenhum. Acho que Lula vai fortalecer as forças populistas de Bolsonaro para dizerem "Temos que fazer essas reformas o quanto antes". Acho que isso é um tiro que ajuda a consolidar o controle de Bolsonaro e colocar um senso de urgência a seus seguidores.
Agora que está livre, Lula vai virar um ímã para a esquerda global se intrometer na politica brasileira. Ele é o "poster boy da esquerda globalista". Entre todos no mundo, ele é o maior ídolo, agora que Obama está fora da política. E até Obama se referiu a ele. Com Lula, toda a corrupção antiga vai voltar.
BBC News Brasil: Para muitos analistas, a saída de Lula da prisão aumentaria a polarização no Brasil e isso poderia ser positivo para o presidente Bolsonaro, já que ele enfrenta problemas dentro do seu próprio partido.
Steve Bannon: Espere, espere. Previ a vitória de Bolsonaro quando ele tinha 5% das intenções de voto e disse que ele ganharia quase no primeiro turno. Acho que é positivo por mostrar que é preciso haver urgência e consolidação em torno de Bolsonaro e de seu projeto, mas não acredite que isso não vá vir sem um preço.
A razão de ser preciso mostrar urgência em ajudar seu programa é o fato de que ele agora vai ser desafiado por um "rockstar" internacional da esquerda globalista. Não vai ser tranquilo.

Olhe para o Reino Unido e para os EUA, os dois países estão passando por terremotos. Acho que o processo de impeachment pode potencialmente fortalecer o presidente Trump e acho que a eleição pode fortalecer o movimento de saída do Reino Unido da União Europeia, mas é um teste, é desestabilizador, e ninguém sabe no que isso vai dar. Ninguém pode prever nada, cada dia agora é importante.
 
BBC News Brasil: O senhor falou em corrupção. O PSL, partido de Bolsonaro, é investigado nesse momento por mau uso de recursos durante a eleição e no pagamento a assessores.
 
Steve Bannon: Também aconteceu com o presidente Trump. Isso é non-sense, tudo o que está acontecendo é tangencial às mesmas coisas que aconteceram com Trump. Lula é corrupto. É por isso que ele é tão hipócrita. Ele veio da pobreza e em algum momento foi idealista. Ele é a trágica figura da modernidade, que é corrompida pelo poder, dinheiro e influência. Lula foi corrompido e estava preso por sua corrupção e por essencialmente permitir que todos fossem corruptos no governo Dilma. Mas isso (investigações contra Bolsonaro e o PSL) vai ser rapidamente contestado.
 
BBC News Brasil:  Mas, diferentemente do que acontece com o presidente Trump, Bolsonaro está tendo problemas sérios com seu próprio partido. Ele teve discussões duras e públicas com o presidente do partido.
 
Steve Bannon: Isso não é verdade, isso não é verdade.
 
BBC News Brasil: Mas o próprio presidente admitiu que pode deixar seu partido.
 
Steve Bannon: Trump teve enormes problemas com seu próprio partido. Outro dia, (o ex-senador republicano) Jeff Flake disse que, se o voto fosse secreto, 35 senadores republicanos votariam pelo impeachment. O establishment do Partido Republicano tolera Trump, não apoia Trump. E lembre-se que Boris Johnson e Nigel Farage (líder do Partido Brexit) apanharam do establishment do partido Conservador, os manda-chuvas do partido não querem um partido nacionalista populista. O mesmo establishment está fazendo isso com Bolsonaro. Tudo está intrinsecamente ligado. Há uma revolta populista nacionalista em escala global em nações individuais, e uma ordem de demônios da ordem estabelecida vai lutar até a morte porque entende que, se nós ganharmos, vamos colocar os corruptos fora do jogo.
 
BBC News Brasil: Mas o que o senhor está propondo? Se, nas suas próprias palavras, os partidos dos políticos que o senhor defende são ruins e corruptos, qual é a saída?

Steve Bannon: É preciso haver reformas contínuas. Transparência contínua.
 
BBC News Brasil: Centralização do poder?
 
Steve Bannon: Sou o primeiro a dizer que deve haver reformas enormes em Washington (EUA). Há o termo "drenar o pântano", que não uso porque acho meio etéreo demais, mas é preciso tirar da classe política os lobistas. O mesmo no Brasil e no Reino Unido. Lembre-se que a razão pela qual o Brexit não aconteceu foi porque os políticos não quiseram.
 
BBC News Brasil: Para muitos, a onda da direita nacionalista populista estaria se desfazendo mais rápido do que se imaginaria, a partir de todos estes eventos que o senhor cita.
 
Steve Bannon: Eu digo a você que as mesmas pessoas me falaram isso quando eu comecei. Isso é ilusão. Nós ainda estamos nos primeiros passos, isso é uma revolução global. Você vê isso ficando mais e mais forte.
Nem teremos todas as vitórias. Salvini vai voltar. Vamos ter obstáculos no caminho, tivemos obstáculos no caminho com o Brexit, tivemos obstáculos no caminho com o impeachment de Trump, tivemos obstáculos no caminho quando deixaram Lula sair da prisão.
 
BBC News Brasil: Mas e na Argentina (com a eleição de Alberto Fernández)?
 
Steve Bannon: Tudo bem. Tudo bem. Aliás, as pessoas agora, e você vê isso, estão prestando atenção na diferença entre nacionalistas e globalistas a cada eleição. As mesmas pessoas que não nos deram crédito no começo estavam erradas naquela época e estão erradas agora. O grupo que diz que o movimento está enfraquecendo é o mesmo grupo de defensores da ordem estabelecida que estavam errados no começo. Eu sei que BBC, The Economist, Financial Times, New York Times iriam todos amar ver o movimento acabar. Mas não vai acabar. Vai ficar mais forte todos os dias.
 
BBC News Brasil: O cenário que o senhor está descrevendo, e não eu, é de desafios para os principais líderes do que o senhor chama de movimento nacionalista populista. Se eles ficarem isolados, isso pode resultar em uma escalada em autoritarismo? O senhor deve ter acompanhado o que aconteceu com Eduardo Bolsonaro.
 
Steve Bannon: Você pode descrever assim, porque você é o partido da imprensa opositora. Entendo que vocês vejam (o líder húngaro Viktor) Orban, Trump e Bolsonaro caminhando para a repressão, mas as pessoas do nosso lado não veem assim.
 
BBC News Brasil: Não, eu quero trazer um exemplo prático, me deixe completar. Eduardo Bolsonaro, o senhor o conhece muito bem...
 
Steve Bannon: Muito bem, sim.
 
BBC News Brasil: Eduardo Bolsonaro mencionou o AI-5, que foi um dispositivo usado na ditadura militar no Brasil para fechar o Parlamento, tirar mandatos de políticos, caçar ministros da Suprema Corte, usar tortura contra inimigos políticos como uma ferramenta possível no caso de a esquerda se radicalizar ou voltar ao poder.
 
Steve Bannon: Mas você está usando um exemplo extremo.
 
BBC News Brasil: Não, o exemplo foi usado pelo filho do presidente, não eu.
 
Steve Bannon: Mas você está interpretando de forma extrema. O que eu acho que ele está dizendo é que eles não vão permitir que essa eleição seja derrubada por meios não democráticos e que certamente não vão deixar o Judiciário, junto a Lula, tentar por meios não democráticos reverter as eleições.
Não há nada de anormal no que ele diz, ele está apenas afirmando um fato básico, e acho que Eduardo Bolsonaro está 100% correto, como Trump está: as forças antidemocráticas, as forças fascistas são as do establishment contra o Brexit, do impeachment contra Trump, e agora vejo o mesmo no Brasil. Deixar alguém corrupto dos pés à cabeça sair da prisão para essencialmente ameaçar Bolsonaro. É o que vai acontecer. Isso é antidemocrático. Nós tivemos eleições e a ordem estabelecida perdeu. Mas eles se recusam a deixar que a voz das pessoas seja respeitada.
 
BBC News Brasil: No Brasil, esta foi uma decisão da Suprema Corte. Uma decisão de 11 juízes. O senhor está dizendo, então, que a Suprema Corte brasileira trabalha contra o presidente Bolsonaro?
 
Steve Bannon: Acho que é bastante evidente. Que a Suprema Corte está tentando ajudar a reverter o mandato que Bolsonaro tem com uma vitória arrebatadora em 2018. Não tenho dúvidas sobre isso. Não sou brasileiro, mas como um observador externo, não há dúvida de que Lula é corrupto e deveria ficar muito tempo preso.
 
BBC News Brasil: O senhor foi convidado para falar no Congresso brasileiro e recuou.
 
Steve Bannon: Eu estava indo, queria ir e estava honrado em ir. Tenho ideias muito fortes sobre a Amazônia e o manejo brasileiro sobre seu território, mas a razão pela qual não pude é porque eu comecei um trabalho intenso e diário contra o impeachment, então simplesmente não dá.
Eu cancelei idas a Inglaterra, Roma, Ásia, Austrália e ao Brasil. Cancelei todas as minhas viagens por causa do impeachment. Os únicos lugares a que estou indo são Hungria e Taiwan, mas tive que cancelar tudo porque estão tentando remover Trump do governo. Mas quero muito ir assim que a nossa crise constitucional ficar para trás.
 
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UOL (**).
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