10/11/2019 às 09h29min - Atualizada em 10/11/2019 às 09h29min

​RODA VIVA CONTRA BOLSONARO

ZÉ CELSO ATRAVÉS DOS SÉCULOS


1968. A ditadura militar é morta, e Roda Viva começa a respirar. Chico Buarque tinha 24 anos, quando convidou José Celso para encenar seu primeiro texto teatral. Ele escreveu Roda Viva depois de assistir O Rei da Vela, o espetáculo de 1967 que revolucionou a encenação teatral no país e é considerado pela crítica como a primeira encenação essencialmente brasileira por colocar em sua montagem elementos anti literários da cultura nacional: circo, revista, literatura surreal, carnaval, a chanchada, a anarquia, o deboche.
 
Passaram-se os anos, cruzamos os séculos e assistimos os ares fascistas do passado chegarem até o nosso presente sob a direção de Jair Bolsonaro. Bastaria citar que há exatamente 4 dias Bolsonaro transferiu a Secretaria de Cultura (que foi criada após a extinção do Ministério da Cultura e ficava na pasta da Cidadania) para o Ministério do Turismo. Por trás disso, a sua declaração, ao vivo, de que o seu governo não vai financiar produções com temas LGBT. Ora, se ele estava decidido a atropelar a Cultura, deveria tê-la colocado no Ministério dos Transportes, em um Detran, algo por aí. O que sempre quis e continua pondo em cartaz é pregar uma peça no povo brasileiro e ofender a classe teatral. Por exemplo, Bolsonaro acaba de nomear como secretário especial da Cultura do Ministério da Cidadania Roberto Rego Pinheiro Alvim, que atuava como diretor do CEACEN (Centro de Artes Cênicas) da FUNARTE (Fundação Nacional de Artes). Ele tem sido bastante rejeitado pela classe artística nos últimos meses, principalmente por criticar (chamou de “sórdido”) um ensaio fotográfico da atriz Fernanda Montenegro em que ela aparecia vestida de bruxa e amarrada em cima de uma pilha de livros.
 
Bolsonaro obviamente está mais do que presente em Roda Viva 2019. Ninguém pode esquecer, afinal, que ele se recusou recentemente a assinar premiação (Prêmio Camões) concedida a Chico Buarque pelos governos de Brasil e Portugal. Chico não deixou por menos: declarou que pode esperar, se for preciso, até dezembro de 2026 – se é que Bolsonaro chega até lá...
 
Mas, voltando a respirar ares mais puros, o espetáculo é um transe em trânsito conduzido pelo gênio maluco do José Celso. Que não para um só segundo, mesmo quando está sentado na primeira fila. Assiste, dirige, senta, levanta, olha pra frente, olha pra trás, fala com o público, sorri para você, dirige o público, participa da peça no papel de tudo. No final, claro, Zé Celso conquista a plateia para também subir ao palco e ajudar a perpetuar o espetáculo em uma cena só. Contei o final de sempre? Isso é apenas o começo...

 
Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »