A Polícia Federal faz operação de busca e apreensão, nesta sexta-feira, no Rio de Janeiro, nas empresas Lachmann Agência Marítima e Witt O ‘Briens’s. Elas são ligadas à Delta Tankers, a proprietária do navio de bandeira grega Boubolina, suspeito de ter sido o responsável pelo derramamento de toneladas de óleo que atingiram toda a costa nordestina do Brasil. A autorização foi dada pela 14ª Vara Federal Criminal de Natal, no Rio Grande do Norte. O derramamento deve ter ocorrido entre os dias 28 e 29 de julho. Com o uso de técnicas de geointeligência e cálculos oceanográficos, foi possível identificar o único petroleiro que navegou na área suspeita. O levantamento foi feito a partir da mancha inicial.
O óleo começou a chegar às praias em agosto e, desde então, mais de 280 localidades foram atingidas. O Governo Federal demorou a agir e milhares de voluntários começaram a retirar o óleo com as próprias mãos. Muitos passaram mal e foram parar no hospital. Agora, essa é a preocupação dos especialistas da Fundação Oswaldo Cruz. Nos próximos dias, eles vão monitorar o impacto das manchas de óleo na saúde da população. Um dos pontos considerados prioritários pela equipe é rastrear o risco para pescadores e marisqueiras que, além de um contato direto com material contaminado, têm no pescado sua principal fonte de alimentação. "Temos de ter um cuidado redobrado com esse grupo", afirmou o pesquisador da Fiocruz, Guilherme Franco Neto. A estimativa é de que cerca de 164 mil pescadores e pescadoras atuem no litoral do Nordeste.
Uma das maiores preocupações é o benzeno, componente do petróleo com uma conhecida capacidade de provocar danos ao sistema de defesa do organismo. Pessoas expostas a níveis expressivos do componente têm maior risco, por exemplo, para leucemias. O controle vai ser feito através de exames. Os especialistas também vão dar uma atenção especial às grávidas da região para identificar eventuais consequências nos fetos. Uma das estratégias já avaliadas é rastrear níveis de benzeno no organismo destes trabalhadores, por meio de exames.
Outra frente de ação, disse Franco Neto, é acompanhar de perto gestantes que vivam e trabalhem na região costeira e identificar eventuais danos aos fetos. "Há ainda muitas incertezas", afirmou o pesquisador Franco Neto. Uma sala de controle vai funcionar na Fiocruz, no Rio. A presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, observou, em nota, que os militares, integrantes da defesa civil e voluntários, também são expostos aos níveis de contaminação através da inalação, contato com a pele e ingestão.
O secretário de Aquicultura e Pesca do Governo Federal, Jorge Seif Junior, devia se informar com os especialistas no assunto para não repetir o vexame que deu, nessa quinta-feira, durante a transmissão ao vivo ao lado do presidente Jair Bolsonaro. Ao tentar explicar porque o ministério da Agricultura cancelou a proibição da pesca de camarão e lagosta nos estados de Pernambuco, Alagoas, Bahia, Piauí e Ceará, ele falou o seguinte: “O peixe é um bicho inteligente. Quando ele vê uma mancha de óleo ali, capitão, ele foge, ele tem medo. Então, obviamente que você pode consumir o seu peixinho, sem problema nenhum. Lagosta, camarão, tudo perfeitamente sano”. E ele ainda ocupa um cargo do alto escalão do governo. ...