19/10/2019 às 12h47min - Atualizada em 19/10/2019 às 12h47min

BOLSONARO AJUDA A POLUIR.

MANCHA O PAÍS!


Foi o Governo Bolsonaro que extinguiu comitês do plano de ação de incidentes com óleo. Nada mais natural, portanto, que a Procuradoria tenha acusado o governo de omissão diante do maior desastre ambiental no litoral brasileiro. Foi em abril que Bolsonaro extinguiu dezenas de conselhos da administração federal, o que deu fim a dois comitês que integravam o Plano Nacional de Contingência para Incidentes de Poluição por Óleo em Água (PNC), existentes desde 2013. Nada mais natural, também, que Ministério Público Federal tenha pedido que a Justiça Federal obrigue a União a colocar o PNC em ação em 24 horas. Segundo a Procuradoria, a União não está adotando as medidas adequadas para responder à emergência.
 
Até a sexta-feira (18), 187 locais de 77 municípios do Nordeste tinham sido atingidos por manchas de óleo, segundo o Ibama. O MPF afirma que 2.100 km nos nove estados da região foram afetados desde o fim de agosto, quando as primeiras manchas de óleo foram avistadas na Paraíba. No Ministério do Meio Ambiente, no Ibama e em ONGs, segundo fontes da Folha, a extinção dos conselhos pode ser parte da explicação para a demora e a desorganização do governo no combate às manchas de óleo.
 
O PNC foi instituído pelo governo Dilma com o objetivo de preparar o país para casos como esse. Também prevê a organização de diferentes órgãos do governo e a definição de procedimentos para atuação conjunta de agentes públicos na resposta a incidentes de poluição por petróleo ou combustíveis em águas brasileiras. Mas Bolsonaro, que se acha muito esperto, extinguiu conselhos, comissões, comitês, juntas e outras entidades criadas por decretos ou por medidas administrativas inferiores no primeiro semestre. Foram mantidos apenas aqueles criados na gestão atual e os criados por lei.
 
Na estrutura do PNC havia dois comitês que foram extintos: o Executivo e o de Suporte. Ambos eram compostos por Ministério do Meio Ambiente, Ministério de Minas e Energia, Marinha, Ibama, Agência Nacional do Petróleo, entre outros.
Seria do Comitê Executivo a atribuição de elaborar simulações e treinamento de pessoal e de manter recursos para a resposta a emergências. Era dele também a responsabilidade de elaborar o manual de resposta a emergências. Já ao Comitê de Suporte cabia a indicação de recursos humanos e materiais para ações de resposta a incidentes com óleo e liberar a entrada de profissionais ou equipamentos importados no país.
 
Conforme prevê o plano, o governo criou um grupo de acompanhamento e avaliação, composto por representantes da Marinha, do Ibama e da ANP, que analisa a situação e define prioridades na atuação da Petrobras. Mas pesquisa nos arquivos da Marinha e do Ibama mostra que as poucas ações compreenderam a participação e ou realização de seminários sobre o tema. Em um deles, na semana passada, coube à Petrobras simular sozinha o combate a uma emergência.
Segundo o decreto, a liderança do Plano Nacional de Contingência é da autoridade nacional, representada pelo Ministério do Meio Ambiente. Mas, até o momento, os trabalhos de limpeza e contenção do petróleo vêm sendo feitos pela Petrobras, embora a empresa não seja apontada como responsável pelo derramamento, sob coordenação do Ibama.  Em nota, o instituto diz que realiza a avaliação do impacto e direciona as ações de resposta, enquanto a estatal responde pela contratação de mão de obra e organização das frentes de trabalho.
A Petrobras diz ter mobilizado cerca de 1.700 pessoas para a limpeza das áreas impactadas e mais de 50 empregados próprios para planejamento e execução da resposta.
A estatal acionou os centros de defesa ambiental e estruturas de emergência em suas unidades operacionais. Ainda não se sabe quem pagará os custos da operação. O Ministério do Meio Ambiente ainda não respondeu questões sobre o acionamento e funcionamento do Plano Nacional de Contingência.
 
A extinção dos comitês do PNC é uma parte do problema, agravado por deficiências nos quadros do MMA, segundo Anna Carolina Lobo, coordenadora do Programa Mata Atlântica e Marinho da WWF-Brasil. Tem ainda a complexidade do vazamento enfrentado, já que ainda não se sabe sua origem ou se tamanho real (o que dificulta possíveis medidas de contenção) e o fato da mancha de óleo normalmente se mover abaixo da superfície do mar, o que dificulta a detecção por satélite.
 
O Grupo de Acompanhamento e Avaliação é o mais importante braço de ação do Plano Nacional de Contingência para Incidentes de Poluição por Óleo em Água (PNC), segundo um especialista em petróleo que preferiu não se identificar.
Com isso, diz o especialista, a extinção dos comitês não deveria ter, a princípio, prejudicado a resposta do governo, já que esses serviam para assessorar o grupo.
 
Além da ação mais recente do MPF, a Justiça já foi acionada duas vezes para determinar que o governo agisse na crise do óleo.
Em Sergipe, a União foi obrigada a implantar barreiras de proteção nos rios São Francisco, Japaratuba, Sergipe, Vaza-Barris e Real.
Nesta sexta (18), a Justiça Federal do estado da Bahia determinou a criação, em até 48 horas, de uma força tarefa, composta por um representante do MPF da Bahia, um da União, um da Marinha, um do Ibama, entre outros, para desenvolver uma plataforma de compartilhamento de informações para reduzir os danos ambientais e monitorar as áreas afetadas.
Na decisão, a juíza federal Rosana Kaufmann afirma que é “possível perceber que diversas providências estão sendo adotadas isoladamente sem a necessária coordenação e compartilhamento de informações”. O primeiro relatório de atividades deve ser encaminhado em cinco dias, afirma a sentença.
 
As reações de Bolsonaro sobre o assunto centraram-se em suposições sobre suposta ação criminosa - sem provas - e críticas a ONGs. Ele também sugeriu que as organizações estivessem ignorando o derramamento de óleo.

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