Portugal vai às urnas neste domingo (dia 6), e vai impulsionado pelo bom desempenho da economia nos últimos quatro anos, conduzido pelo premier António Costa, do Partido Socialista (PS), de centro-esquerda - favorito para sua reeleição. O PS tem 9 pontos de vantagem sobre o Partido Social-Democrata (PSD), de centro-direita, com o candidato Rui Rio, ex-deputado e ex-prefeito do Porto.
Os portugueses preferem os socialistas por um motivo bem forte: a retomada econômica. Mas não foi nada fácil sobreviver até aqui. Foi preciso combinar medidas de alívio da austeridade que foram impostas após a crise financeira de 2008 com uma alta carga de impostos (35,4% do PIB) e uma disciplina fiscal que levou Portugal a ter o menor déficit orçamentário em 45 anos.
Esse aperto, por outro lado, sofre críticas de sindicatos e dos aliados à esquerda de António Costa. Mas Isabel David, cientista política e professora do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa, já dizia: — O governo foi capaz de acertar as contas e melhorar a qualidade de vida. Não me parece possível Costa perder .
Ânimo com emprego Portugal começou a ressurgir dos estragos de 2008 somente em 2015, quando teve que pedir ajuda financeira ao trio formado por FMI, Banco Central Europeu e Comissão Europeia. Em 2016, Costa reverteu alguns dos cortes nas aposentadorias e salários impostos no auge da crise, adotando medidas de incentivo ao consumo, aos investimentos e ao turismo. O salário mínimo, que era de 505 euros (2.250 reais) há quatro anos, está em 600 euros (2.675), mas ainda é um dos mais baixos da Europa.
Certamente o segredo socialista está na a taxa de desemprego, que, em agosto, foi de 6,2%, a mais baixa dos últimos 17 anos. Há pouco mais de 300 mil desempregados — em uma população de 10,3 milhões —, a menor quantidade em 28 anos e cerca de 40 mil a menos que no mesmo período de 2018. Na Espanha, outro dos países mais atingidos em 2008, a taxa é de 13,8%.
Os professores Francisco Veiga e Pedro Goulart (pesquisador do Centro de Administração e Políticas Públicas da Universidade de Lisboa) fizeram um estudo onde descobriram o óbvio: “na esmagadora maioria das eleições em Portugal, se o desemprego diminuía, o governo era reeleito”.
Em 2017, por exemplo, o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) passou de 2,8% para 3,5%. Foi quando entrou em campo a estrela do governo do PS: Mário Centeno, ministro das Finanças e presidente do Eurogrupo, formado pelos ministros econômicos da zona do euro. Foi ele que anunciou a revisão dos números. — É uma revolução da qual muitos ainda nem se deram conta — disse Centeno, candidato ao Parlamento por Lisboa e que também é conhecido como “Cristiano Ronaldo das finanças”, apelido dado a Centeno pelo ex-ministro da Economia da Alemanha, o ortodoxo Wolfgang Schäuble.
— Ser chamado de Cristiano Ronaldo das Finanças pelo alemão teve impacto muito positivo para Mário Centeno e para o governo. O povo português teme aventuras econômicas, o PS percebeu e joga com a carta da responsabilidade — explicou Isabel David.
Rui Rio tentou confrontar o seu possível ministro das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento, ao atual. Sugeriu um debate entre os dois e disse que também tinha um “Mário Centeno” para escalar. Mas António Costa respondeu: — Não troco o meu pelo seu. E os portugueses também não trocam.