25/09/2019 às 10h29min - Atualizada em 25/09/2019 às 10h29min

​DÁ PRA ILUMINAR A PENEIRA COM O SOL

MAS NÃO DÁ PARA TAPAR A LUZ DO SOL COM A PENEIRA


Bolsonaro falou na Assembleia Geral da ONU, foi o primeiro a falar - já que representa o Brasi -, mas definitivamente ele não falou para os representantes internacionais que estavam ali. Ele falou para o público dele, somente dele, que poderia se orgulhar do ídolo capaz de chegar onde chegou e desafiar a maioria dos principais líderes que o mundo se acostumou a respeitar. Ao contrário do que disse Bernardo de Mello Franco, Bolsonaro não confundiu as Nações Unidas com sua audiência cativa no Facebook. Ele falou apenas para os seus seguidores de todas as mídias sociais e mídias tradicionais. Mentiu? Mentiu, mas isso não tem importância – seu eleitor não está preocupado com isso. Mentiu sobre as queimadas, sobre a ditadura militar, mentiu sobre tudo que pôde mentir. Exaltou o regime autoritário e ao mesmo tempo disse defender a liberdade e a democracia. Nada disso tem importância – ele agora faz parte da extrema direita internacional.

Fez também o que a direita e todas as ditaduras latino-americanas fazem: atacou Cuba. Mas defendeu a ditadura militar brasileira (que, lembremos, teve seus momentos de apoio popular). Fez algo de esperteza sórdida, associou socialismo a corrupção: “Meu país esteve muito próximo do socialismo, o que nos colocou numa situação de corrupção generalizada”. Com esse raciocínio, até o Papa será considerado corrupto.

Aproveitou para atacar o programa Mais Médicos, com médicos cubanos. Mas “esqueceu” de falar como era antes da chegada dos profissionais cubanos. O Brasil possuía 388.015 médicos (dois médicos para cada mil habitantes). Na Argentina, esse índice é de 3,2. Em Portugal, 4. Nos Estados Unidos, 2,6. Na Coreia do Sul, 1,9. No Japão, 2. Ou seja, o índice poderia ser considerado bom, se não fosse a distribuição desigual de médicos por região. Antes do Mais Médicos, 22 estados possuíam um índice inferior à média nacional e apenas 8% dos médicos estavam em municípios com população inferior a 50 000 habitantes, que somam 90% das cidades brasileiras. Os cubanos ocuparam os espaços vazios. Mas o compromisso anti-cubano de Bolsonaro está acima de tudo.

Não esqueceu de colocar os problemas venezuelanos na conta de Cuba, o que chega a ser patético. A direita, a serviço de grandes grupos econômicos, quer pôr as mãos no petróleo venezuelano e não consegue. Nicolás Maduro, do Partido Socialista Unido da Venezuela, é presidente do país desde 6 de março de 2013, tendo ocupado o cargo de presidente interino e depois eleito nas eleições presidenciais do mesmo ano, e obviamente precisa do apoio cubano. Apesar da rapidez em atacar Maduro, defende a ditadura militar brasileira.

Quando fala de ideologia, Bolsonaro é extremamente apelativo, dá nojo.
“Durante as últimas décadas, nos deixamos seduzir, sem perceber, por sistemas ideológicos de pensamento que não buscavam a verdade, mas o poder absoluto.
A ideologia se instalou no terreno da cultura, da educação e da mídia, dominando meios de comunicação, universidades e escolas.
A ideologia invadiu nossos lares para investir contra a célula máter de qualquer sociedade saudável, a família. Tentam ainda destruir a inocência de nossas crianças, pervertendo até mesmo sua identidade mais básica e elementar, a biológica”. Essa apelação é uma coisa nojenta de verdade. Típico de uma mente doentia.
 
Tem a coragem de dizer que a economia está melhorando, quando todos sabem que acima de tudo está a velha técnica do “aperta antes, libera para as eleições”. Fora isso, não há melhora, o desemprego continua alto. É verdade que diminuiu, mas continua alto. Ou pior, como destaca o IPEA: “Desemprego diminui, mas desigualdade aumenta no 2º trimestre de 2019”.
Houve aumento no número de profissionais com carteira de trabalho, mas trabalhadores informais também cresceram, enquanto sublocados ou por conta própria bateram recordes.

Isso talvez explique porque o rendimento médio habitual da população também caiu: ficou em R$ 2.290, 1,3% a menos do que no trimestre anterior e sem variação significativa com o mesmo período do ano passado.

Enfim, talvez não valha a pena falar de Bolsonaro. Mas temos o dever cívico de esclarecer, iluminar cada brasileiro, cada trabalhador, homens, mulheres, crianças de todas as idades para que percebam claramente a enganação que representa Bolsonaro.

Bolsonaros Nunca Mais!
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