22/09/2019 às 16h21min - Atualizada em 22/09/2019 às 16h21min

SEPÉ FOI CANONIZADO

ERA O ÍNDIO GUARANI QUE FINGIA SER CATÓLICO


O índio guarani Sepé Tiaraju 
viveu de 1723 a 1756, sempre lutando em defesa dos 30 mil índios que o exército unificado dos reinos de Portugal e Espanha tentava remover de qualquer maneira.

Viveu uma época de reis e rainhas, mas, nas Missões, já vigorava a democracia com eleições anuais para o corregedor de cada aldeamento.
 
 Sepé foi corregedor de São Miguel (no noroeste riograndense), cargo muito além de um cacique, porque acumulava funções também do que hoje seriam os poderes Judiciário e Legislativo. Por isso, antes de morrer, disse: “Esta terra tem dono. Nos foi dada por Deus e São Miguel”. 
 
Para os religiosos de hoje, a canonização de Sepé é ainda um reconhecimento ao povo indígena, mesmo que tardio. Os guaranis também entendem como positiva a canonização, menos pelo viés católico e mais pela visibilidade que pode trazer às comunidades e suas demandas. 
“Significa muito para tirar o preconceito contra nós. Entender a cultura indígena é muito importante, somos filhos da natureza. Queremos ser valorizados, gostaríamos que entendessem mais nosso povo”, opina o cacique Anildo Romeu, 28, da aldeia guarani de Santo Ângelo, na região missioneira. 
 
“A canonização confirmará o que já é realidade junto ao povo. Sepé Tiaraju foi santificado praticamente desde a sua morte e há muitos anos já é chamado de São Sepé pelas pessoas. Tem cidade chamada São Sepé, rua, mercado...”, diz o padre Alex Kloppenburg, 65, da paróquia de dom Pedrito, cidade da região das Missões Jesuíticas, onde Sepé viveu —as ruínas das Missões são tombadas como patrimônio da humanidade pela Unesco.
 
Sepé deve ser transformado em santo não por operar graças e milagres, mas por ser considerado um mártir.
Os guaranis da época das missões também mantinham a própria religião, mesmo catequizados, explica a antropóloga Suzana Cavalheiro de Jesus, professora do curso de Educação do Campo, da Universidade Federal do Pampa (Unipampa).
“Enquanto Sepé dialogava com os jesuítas, os guaranis podiam manter sua própria religião. Sepé Tiaraju tinha esse papel meio de enganar os jesuítas porque a liderança dele dava condições para que conservassem sua cultura. Em nenhum momento a gente vê essa conversão plena”, diz a antropóloga. 

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