12/09/2019 às 14h08min - Atualizada em 12/09/2019 às 14h08min

​LULA NO LE MONDE:

“A AMAZÔNIA NÃO É DO MUNDO” E “A VERDADE SEMPRE VENCE”

 
O jornal Le Monde desta quinta-feira, 12 de setembro, publicou uma entrevista exclusiva com Lula, concedida na sala de imprensa da sede da Polícia Federal de Curitiba. Lula diz que está se sentindo bem (tanto moralmente quanto fisicamente), reafirma a sua inocência e se diz otimista sobre sua saída da prisão. Lula defendeu o presidente francês, Emmanuel Macron, dos insultos que recebeu de Bolsonaro e membros do atual governo brasileiro, mas também reafirmou a soberania brasileira sobre a Amazônia.
 
“Sempre tive excelentes relações com todos os presidentes franceses, tanto de esquerda como de direita, tanto Chirac, quanto Sarkozy e Hollande. Sou solidário a Emmanuel Macron, depois dos insultos contra sua esposa. Foi uma grosseria injustificável, e isso não tem nada a ver com o povo brasileiro. Mas é importante destacar que a Amazônia é propriedade do Brasil. Ela faz parte do patrimônio brasileiro. É o Brasil quem tem que cuidar dela”.
Lula lembrou, no entanto, dirigindo-se obviamente a Bolsonaro e seu desgoverno, que “isso não quer dizer que é preciso ser ignorante, achar que a ajuda internacional não é importante”. Ele destacou que “a Amazônia não pode ser um santuário da humanidade. Lembro que 20 milhões de pessoas vivem lá, precisam comer e trabalhar. Devemos também cuidar deles, levando em consideração a preservação do meio ambiente”, disse.

Para Lula, é preciso que os brasileiros reajam e se mobilizem pela defesa da natureza. Lembra que durante seu governo foram criados fundos, financiados pela Alemanha e a Noruega, para proteger a floresta, além de 144 zonas naturais protegidas, permitindo diminuir o desmatamento ilegal. “Não podemos esperar nada de Bolsonaro e seus ministros sobre essa questão”, avalia.
 
"Governo de destruição"
Ao ser questionado sobre Bolsonaro, foi cáustico, afirmando que ele destrói a educação, os direitos dos trabalhadores e a indústria brasileira. “É um governo de destruição, sem nenhuma visão de futuro, sem programa, que não é qualificado para o poder. É por isso que Bolsonaro diz tantas besteiras, é por isso que insultou a esposa de Macron e Michelle Bachelet, é por isso que ele briga com Maduro. É a loucura total. E, ainda por cima, ele se submete totalmente a Trump. Nunca vi disso!"
 
Lula minimizou a vitória de Bolsonaro nas últimas eleições, avaliando que discursos reacionários sempre atraíram eleitores. “Bolsonaro é, antes de tudo, o resultado de uma rejeição da política. Nesses momentos da história, nos quais a política é tão odiada, as pessoas se apegam ao primeiro monstro que encontram. É lamentável, mas aconteceu”, disse.

Lula não acha que o PT tem de fazer autocrítica. Apesar do intenso antipetismo, o partido chega em primeiro ou segundo lugar a cada eleição há vinte anos. “Fernando Haddad obteve 47 milhões de votos. É muito! Sim, perdemos uma eleição, é verdade. Mas perder é normal na democracia. Não podemos ganhar sempre. No Brasil, há muitos antipetistas, mas há também muita gente que acredita no partido, e outros ainda que precisam ser convencidos”, afirma.
 
Ao comentar sua esperança de sair da prisão, Lula não poupou críticas a Sérgio Moro, a quem acusa de se articular com procuradores e mentir à Suprema Corte. Está convencido de que um dia deixará a prisão e “que um dia as pessoas serão responsabilizadas sobre o que aconteceu neste país”.
Lula também afirma que não teme por sua vida, caso seja libertado. “O Brasil é um país de paz, com um povo que ama a vida. (…) Quero sair da prisão e falar com o povo. Sou um homem sem espírito de vingança, sem ódio. O ódio queima o estômago, dá dor de cabeça, dores nos pés! E eu estou bem, justamente, porque estou do lado da verdade. E, no final, é sempre ela que ganha”, conclui.

 
RFI
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