05/09/2019 às 09h18min - Atualizada em 05/09/2019 às 09h18min

PAPA: “É UMA HONRA QUE OS AMERICANOS ME ATAQUEM”

É UMA HONRA QUE ESSE CARA SEJA O PAPA!



No voo para Moçambique, Francisco sorri enquanto segura nas mãos um livro de capa listrada e estrelada, e de título eloquente: “Comment l’Amérique veut changer de Pape”, ou seja, “Como a América quer mudar o Papa”. O livro foi publicado nessa quarta-feira, 4, escrito pelo jornalista Nicolas Senèze, do jornal católico La Croix, na França e reconstrói as manobras realizadas no ano passado pela extrema direita católica americana para tentar pressionar o papa a renunciar e para orientar um novo conclave.
 
“Este livro é uma bomba”
O autor deu um exemplar para o Papa, que mostrou interesse: “Ah, ei-lo. Diziam-me que ainda não estava disponível”, e depois o entregou aos colaboradores para que o guardassem: “Isso é uma bomba!”. Apesar das exclamações bombásticas, Francisco caminhou serenamente até o fundo do avião e cumprimentou um a um os jornalistas que o acompanham na viagem.
 
Esclarecimento
É claro que a frase sobre os norte-americanos soou muito dura, tanto que, dali a pouco, o porta-voz do Vaticano, Matteo Bruni, especificou: “Em um contexto informal, o papa quis dizer que sempre considera as críticas como uma honra, particularmente quando vêm de pensadores de autoridade e, neste caso, de uma nação importante”.
No entanto, foi notável a atenção do papa a uma questão que se tornou evidente a partir da carta do arcebispo Carlo Maria Viganò, ex-núncio nos EUA, que em agosto do ano passado chegou a pedir a renúncia de Francisco, um ataque deliberado e organizado sobre o tema da luta contra a pedofilia. O texto foi divulgado por uma rede de blogs conservadores entre os EUA e a Itália, e foi apenas o começo.
 
Francisco e a “galáxia” da ultradireita
O livro de Senèze lista todos os ataques do ano passado e mostra a sua matriz comum em um mundo norte-americano não muito consistente, mas muito bem financiado e representado por personagens como Steve Bannon.
São várias as ações do Papa que incomodam a ultradireita: Igreja “pobres e para os pobres”; críticas ao neoliberalismo e à “economia que mata”; denúncia do tráfico de armas que prospera com as guerras; diálogo com a China; defesa do ambiente, da encíclica Laudato si’, para o próximo Sínodo sobre a Amazônia.
 
A viagem à África
A própria viagem de seis dias à África subsaariana desenvolve uma parte desses temas. Francisco aterrissou no fim da tarde em Maputo; nesta sexta-feira, voará para Madagascar e, na próxima segunda-feira, chegará às Ilhas Maurício, antes de retornar para Roma na terça-feira.
 
Em Moçambique, o Papa chegou para apoiar o processo de paz que começou com o acordo de 1992, mas também visitará um centro para crianças de rua e um centro médico para o tratamento dos pacientes com Aids, e também falará sobre a crise climática e a rapina de recursos em um país atingido pelo desmatamento e devastado pelos ciclones. No avião, o papa convidou a rezar pelas vítimas dos furacões nas Bahamas.
 
 
A partir de reportagem de Gian Guido Vecchi, publicada no Corriere della Sera, 04set2019, e traduzida por Moisés Sbardelotto.
Leia mais no IHU.

 
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