04/09/2019 às 12h36min - Atualizada em 04/09/2019 às 12h36min

FRANÇA SAI EM DEFESA DA VIDA DAS MULHERES

FEMINÍCIDO CAUSA MAIS DE 100 MORTES EM 2019


Uma mulher liga angustiada para a sede da Central de denúncias de violências domésticas em Paris. Pede ajuda porque os policiais se recusavam a dar proteção para que ela pudesse entrar em casa para pegar os pertences. O marido violento estava lá dentro. O que a mulher não sabia é que o seu pedido de socorro estava sendo ouvido pelo presidente da França, Emmanuel Macron. Foi a maneira simbólica que Macron encontrou para marcar o lançamento, nessa terça-feira, da campanha nacional contra a violência doméstica na França que, só em 2019, foi responsável por mais de 100 mortes de mulheres. Sem avisar à imprensa e com o máximo de discrição, ele chegou para acompanhar as chamadas recebidas através do 3919, número para as denúncias das mulheres que se sentem ameaçadas pelos maridos ou ex-companheiros. 
Sem intervir, Emannuel Macron pôde ouvir diversas denúncias de violência doméstica. Entre os vários testemunhos, três mulheres que relataram a luta que travam entre policiais, juízes e associações para se libertarem de um cônjuge que as espancou; em alguns casos mulheres denunciavam homens que tentaram matá-las.
Macron ouviu até um policial da força nacional que se recusava a ajudar uma mulher em perigo. Em seu pequeno escritório, Elena, que atende chamadas de mulheres em perigo há 20 anos, respondia calmamente à sua interlocutora de 57 anos, e 40 anos de casamento. Como muitas outras, ela esperou que seus filhos crescessem para decidir deixar o marido que a agredia. “Você está na delegacia? Você está em perigo, seu marido está em casa. Os policiais podem acompanhá-la", tranquiliza Elena. No entanto, do outro lado da linha os policiais recusam categoricamente, segundo o relato da vítima. Neste momento, o presidente francês, que ouvia a conversa se irrita e mostra descontentamento com a cabeça. A funcionária insiste: "eles devem ajudar as pessoas em perigo". “Eles não querem”, a esposa em perigo responde. Elena lança um olhar interrogativo a Macron, e reforça o apelo.  "O coronel está disposto a falar comigo? Ah não, ele acabou de sair?" Um policial pega o telefone. "Olá senhor, você pode levá-la para casa?", pergunta a atendente do 3919. “Não”, ele responde: "você precisa de uma ordem judicial, isso não está no código penal". Macron fica mais indignado. 
Elena insiste: "Mas é sua missão, ajudar os que estão em perigo. Esta senhora está ameaçada de morte, você está esperando que ela seja morta? Não, eu não estou surda!”.  Irritado, o presidente francês  escreveu argumentos que poderiam convencer o policial, que não cede. “Está com má-vontade”, finaliza a funcionária, enquanto direciona a vítima a uma outra associação.
“Isso acontece sempre?”, perguntou Macron à Elena, a atendente do 3919. “É cada vez mais frequente”, responde ela. “Ele não foi agressivo”, diz o presidente francês sobre o policial, “mas acho que é um problema de formação e de percepção do perigo”, finalizou.
O governo está sendo cobrado a tomar atitudes para reduzir os casos de feminicídio. Essa visita de Macron à central do 3919 deve provocar uma maior visibilidade do serviço que é gerenciado pela Federação Nacional de Solidariedade da Mulher, desde 1992. 
A divulgação de medidas para combater a violência doméstica já está dando resultado. A central recebia em média 250 ligações por dia e só na manhã desta terça-feira foram 220 ligações nas duas primeiras horas. A expectativa é que até o final do dia chegue a 2000 pedidos de ajuda.
No Brasil, nem o crescimento alarmante dos casos de feminicídio no primeiro semestre de 2019, fez o governo Bolsonaro tomar medidas urgentes e concretas para defender as mulheres ameaçadas  pela violência doméstica. 
O Congresso até que está se movimentando com audiências públicas para encontrar soluções. O presidente da Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH), senador Paulo Paim (PT-RS), ressalta que o problema não afeta só às mulheres, mas toda a sociedade. 
“Em  76% dos casos de feminicídios, os agressores são o atual ou o ex-companheiro das vítimas, motivados pelo inconformismo com o fim do relacionamento. Os dados são alarmantes e até pedi confirmação da assessoria para saber se é isso mesmo, porque é muito preocupante: a cada dois segundos, uma mulher é agredida no país, e isso se refere a todo tipo de violência — lamentou o senador. Pelo menos, três mulheres são assassinadas no Brasil, todos os dias, vítimas de feminicídio. Só nos primeiros meses de 2019, o crescimento de casos em São Paulo foi de 76%. Em todo o país, os registros também são muito preocupantes. 
O que faz a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, além de querer determinar a cor da roupa que deve usar a menina ou o menino?O que faz o ministro da Justiça, Sergio Moro, além de justificar parte da violência contra a mulher porque o homem se sente intimidado diante do “crescente papel da mulher em nossa sociedade”? E o presidente Jair Bolsonaro que reduziu drasticamente a presença da mulher no alto escalão do governo? No início da semana, o tentar justificar porque não manteria Raquel Dodge como procuradora-geral da República, Bolsonaro teria utilizado um argumento machista: “Mulher não”.
O que esperar desse governo para defender a vida das mulheres? Em janeiro, depois da posse, aliados de Bolsonaro chegaram até a falar em acabar com a Lei Maria Penha que desde 2006 existe para punir os responsáveis pelas agressões e mortes de mulheres. Como a palavra destruição faz parte do manual do governo, tudo é possível. 



RFI  Agência Senado
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