22/08/2019 às 11h51min - Atualizada em 22/08/2019 às 11h51min

500 MIL HECTARES DE VEGETAÇÃO NA BOLÍVIA VIRAM FUMAÇA

QUEM SE QUEIMA É EVO MORALES



É o maior incêndio da história recente boliviana. Pelo menos 500 mil hectares já foram consumidos pelo fogo na Amazônia boliviana. A nuvem de fumaça que sai de Roboré, município do departamento de Santa Cruz, já chegou até cidades brasileiras perto da fronteira. O presidente Evo Morales, que está em campanha eleitoral, rejeitou o apoio internacional para controlar as chamas e a oposição aproveita para criticar ainda mais.

Os primeiros focos do incêndio foram detectados há 16 dias. O fogo já atinge uns dez povoados do município Roboré, no sudeste do país, quase na fronteira com o Brasil. A cidade abriga um dos mais emblemáticos parques do país, onde há uma rica fauna e flora. Nas imediações também está a Chiquitanía, como são chamadas as Missões Jesuíticas na Bolívia.

Há suspeitas de que as queimadas, promovidas pelos agricultores com a justificativa de preparar a terra para a lavoura, tenham saído do controle e alastrado o fogo. Dados não-oficiais apontam que o fogo devastou uma área equivalente a 500 mil campos de futebol. O clima seco e os ventos fortes típicos desta época do ano podem ter ajudado a espalhar as chamas.
Não há perdas humanas por causa do incêndio, mas os animais estão sofrendo. Ainda não se sabe quais são exatamente os danos materiais. Em alguns locais os moradores tiveram que ser deslocados. As aulas foram interrompidas. A fumaça afeta, inclusive, regiões do Brasil e do Paraguai que ficam perto da fronteira boliviana. Não há previsão de quando será possível extinguir o incêndio.

E Morales?
O presidente Evo Morales rejeitou a ajuda internacional. Mas tratou de alugar um Boeing 747-400. É uma imensa aeronave-tanque, chamada de “Supertanker”. Consegue transportar até 150 mil litros e será usado no combate ao fogo. Mas precisa de uma pista de 2.400 metros de comprimento para operações de pouso e decolagem e, na Bolívia, apenas o Aeroporto Internacional de Viru-Viru, na cidade de Santa Cruz de la Sierra, localizado a 30 minutos de voo do foco do incêndio, oferece essas dimensões. O governo boliviano sabiamente escolheu uma base em Corumbá, no Mato Grosso do Sul, município brasileiro a poucos quilômetros do foco da queimada.

Aeronaves de porte menor também participam dos trabalhos de combate ao fogo. Além disso, mais de mil integrantes das forças de segurança do Estado foram para Roboré participar das operações de combate ao fogo. Pelo menos cem profissionais ajudarão no resgate de animais afetados pelo incêndio.
Evo demorou?
Os bolivianos, sobretudo os do departamento de Santa Cruz, estão muito comovidos com a situação. A sociedade também reclama que o presidente Evo Morales demorou a reagir ao incêndio. Civis resolveram agir por conta própria e organizaram pontos para arrecadar produtos que serão enviados a moradores da região afetada pelo incêndio. Para as doações são solicitados colírios, soros, galões de água, lanternas, alimentos não perecíveis e outros itens.

As pessoas também fizeram uma vaquinha e alugaram um avião. A aeronave de pequeno porte, geralmente empregada na fumigação das áreas agrícolas, está sendo usada para jogar água sobre os focos de incêndio.
Gustavo Castro, assessor imobiliário, um dos pioneiros da iniciativa, contou à RFI porque tomou esta decisão. “Somos cidadãos e atuamos como voluntários para ajudar. Não pertencemos a nenhuma instituição, a nenhum partido, nada. Somos civis e é isso que as pessoas têm que entender: nenhum governo vai cuidar das suas coisas como nós mesmos.”
Incêndio na corrida presidencial
O incêndio também entrou para o debate político. Os opositores a Evo Morales visitaram a região de Roboré. Entre eles, o ex-presidente Carlos Mesa, do partido Comunidad Ciudadana, que está em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto.
Mesa questionou por que o governo demorou mais de uma semana para tomar uma atitude sobre o incêndio. Evo Morales sobrevoou o local das chamas na segunda-feira (19).

Críticos afirmam que a ampliação da fronteira agrícola, que permite a plantação em áreas que antes eram de preservação, influenciou neste desastre ambiental (é bom que Bolsonaro preste bem atenção a esse detalhe, porque é exatamente o que se pretende fazer em terras brasileiras, destruir nossa região amazônica). Integrantes do partido Movimiento al Socilaismo (MAS), do qual Morales faz parte, fazem (com toda razão) apelo para que o incidente não seja politizado. Aliás, esse apelo também pode ser feito a Bolsonaro.

Nessa quarta-feira (21,) diversos departamentos da Bolívia aproveitaram para protestar contra a reeleição de Morales. Apenas Santa Cruz de la Sierra, que é a capital econômica da Bolívia e principal reduto da oposição, decidiu não participar da greve geral em respeito aos afetados pelo incêndio.
Evo Morales bateu o recorde de permanência ininterrupta na presidência do país. Embora não seja permitido pela Constituição, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) abriu espaço para ele buscar a quarta reeleição. è bom que ele se ele se reeleja - antes que consigam um Bolsonajo...

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