12/08/2019 às 10h07min - Atualizada em 12/08/2019 às 10h07min

AUGUSTO ARAS AINDA NÃO É O PROCURADOR DE BOLSONARO

MAS JÁ COMEÇOU A OFENDER O SUPREMO


O subprocurador-geral Augusto Aras, 60, está sendo apontado como favorito de Bolsonaro para assumir a Procuradoria-Geral da República em setembro, no lugar de Raquel Dodge. E o dizquemediz faz sentido, porque já anda afirmando que pretende montar uma equipe de perfil conservador.
Ele andou recebendo críticas de bolsonaristas nas redes sociais por causa de discursos antigos que, segundo ele, foram retirados de contexto para associá-lo à esquerda. Mas aqui entre nós parece mais armação dele mesmo, só para ter chance de demonstrar que seu rumo aponta forte para a direita. Basta ver como ele respondeu a essas “acusações”:
 
"Se eu fosse do MST, como disseram, eu estaria sentado no Supremo Tribunal Federal". Disse que é de direita e ainda aproveitou para bater no Supremo. E foi mais longe. Em entrevista à Folha neste domingo (11), criticou o julgamento do STF que criminalizou a homofobia, chamou de inaceitável a "ideologia de gênero" — expressão não reconhecida pela academia — e defendeu o pacote anticrime de Sérgio Moro. Quer dizer, só falta falar taoquei e andar de moto por Brasília, dando tirinho aqui e ali.
 
 Augusto Aras avança na bajulação, declarando que, se for indicado, começaria por convidar para ser secretário-geral o colega Eitel Santiago de Brito Pereira, que já se candidatou pelo PP a deputado federal pela Paraíba e apoiou o candidato Bolsonaro e foi quem fez um dos discursos mais inflamados contra o famoso atentado à faca.
"Ele é um homem maduro, um homem católico, um homem que, quando havia ainda alguma distinção entre direita e esquerda, poderia ser enquadrado num viés de direita. Eu o teria do meu lado e seria muito honroso que isso acontecesse", disse.
 
Pode ser que as declarações de Aras sejam porque simpatizantes do governo andaram criticando por causa de uma entrevista concedida à TV Câmara de Salvador em 2016, resgatada pela Folha:
"Essa política do medo tem consequências desastrosas, que é o crescimento de toda [...] uma doutrina de direita, uma direita radical", disse Aras na ocasião.
 
Segundo o subprocurador-geral, aquela entrevista não traduziu a posição ideológica dele, mas sua explicação da doutrina da lei e da ordem, sobre a qual havia sido indagado por ser professor na Universidade de Brasília (taoquei...).
Ainda segundo Aras, a ciência política moderna superou a dicotomia entre direita e esquerda. Questionado se hoje ele enquadraria o governo Bolsonaro na "direita radical" que criticou em 2016, Aras respondeu que não.
"Não enquadro por uma razão simples: uma coisa é se fazer um trabalho ideológico de radicalização, outra coisa é se fazer um trabalho, ainda que seja partidário, de defesa da segurança pública e da segurança nacional. Entendo que o presidente Bolsonaro vem buscando a segurança pública e a segurança nacional como valor essencial", disse.
 
Questionado se reconhece o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) como um movimento social, Aras pegou pesado. Disse que reconhece "todo e qualquer movimento social pelo seu conteúdo, um conjunto de pessoas em torno de uma ideia manifestada", mas que, “se representantes ou adeptos desses movimentos cometem crimes, atentam contra o patrimônio privado de qualquer pessoa, essas pessoas devem ser punidas civil e criminalmente. Podem até, no plano das invasões, serem repelidas pela legítima defesa da propriedade, que é uma excludente de criminalidade e pode eximir, no caso de morte, aquele que defende sua propriedade de eventual invasão e de qualquer cometimento de crime", acrescentou.  Ou seja, defendeu atirar para matar os invasores do MST.
 
Aras ainda saiu em defesa de declarações polêmicas e de viés preconceituoso de Bolsonaro, de forma meio enviesada. Disse que "essas edições são uma velha prática que no Brasil é tida como ilícita. O próprio presidente tem sido vítima dessas edições. Ele disse recentemente que no Brasil não tinha fome, e, na verdade, ele quis dizer, e ele disse, o contexto era no sentido de que o Brasil produz alimento para que ninguém passe fome. No entanto, o presidente sofreu uma edição dessa matéria", disse Aras.
 
Sofreu o quê?
Em café da manhã com jornalistas no Palácio do Planalto no dia 19 de julho, Bolsonaro disse que não existe fome no Brasil porque o país é “rico para qualquer plantio”.  Tuitou também, citando Osmar Terra, ministro da Cidadania:
“Da série João 8:32 - EXISTE FOME NO BRASIL? "Somados Bolsa Família, BPC e Aposentadoria Rural, há uma massa de R$ 200 bilhões que vão p/ o bolso dos mais pobres todos ano. Logo, se você entender a fome como sistêmica e endêmica, o Brasil não a tem."
 
Será isso mesmo? Esse valor significa mais ou menos 300 reais por mês, 10 reais por dia. E um quilo de fraldinha está em torno de 11 reais. Ou 1,10 real para 100 gramas. Ou seja, tão de brincadeira!
 
Mas Aras não se cansa de bolsonarear. Resolve justificar o “paraíba” dito por Bolsonaro:
"O presidente também tem tido edições maledicentes em torno de outros assuntos. O caso em que ele, num contexto de informalidade, num contexto mais largo, fala de 'paraíba' foi um desses outros exemplos de malsinadas edições de falas do presidente", acrescentou. Como assim? Falou, sim, de forma pejorativa ao se referir ao povo nordestino.
 
Aras simplesmente não se cansa de tentar garantir o seu filé de Procurador-Geral. Quem tiver estômago, pode continuar aqui...
 

Folha
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