09/08/2022 às 12h27min - Atualizada em 09/08/2022 às 12h27min

BOLSONARO ESTÁ NO DESESPERO.

ATÉ O NY TIMES PERCEBE.



“Estou deixando os canalhas saberem”, disse Bolsonaro a apoiadores no ano passado. “Nunca serei preso!”
Falou gritando. Mas em seguida fica animado quando fala sobre a perspectiva de prisão. “Por Deus lá de cima”, declarou ele a uma plateia de empresários em maio, “nunca serei preso”. Como passa “mais da metade” de seu tempo lidando com ações judiciais, ele certamente se sente bem armado contra a prisão. Mas há desespero em seu desafio. O destino da ex-presidente boliviana Jeanine Áñez, que foi recentemente condenada à prisão por supostamente orquestrar um golpe, paira no ar.
 
Para Bolsonaro, é uma história de advertência. Antes das eleições presidenciais de outubro, que ele está prestes a perder, Bolsonaro está claramente preocupado que ele também possa ser preso por, como ele disse com um eufemismo incomum, “ações antidemocráticas”. Esse medo explica suas tentativas enérgicas de desacreditar a eleição antes que ela aconteça – como, por exemplo, reunir dezenas de diplomatas estrangeiros para fulminar o sistema de votação eletrônica do país.
 
Por mais absurdo que seja o comportamento – e forçar os embaixadores a assistir a uma diatribe enlouquecida de 47 minutos certamente está no extremo maluco do espectro – o motivo subjacente faz todo o sentido. A verdade é que Bolsonaro tem motivos de sobra para temer a prisão. Está ficando difícil acompanhar todas as acusações contra ele e seu governo.
Para começar, há a pequena questão de uma investigação da Suprema Corte sobre os aliados de Bolsonaro por participarem de uma espécie de “milícia digital” que inunda as redes sociais com desinformação e coordena campanhas de difamação contra adversários políticos. Bolsonaro está sendo investigado por (nas palavras de um relatório da Polícia Federal) seu “papel direto e relevante” na promoção da desinformação.
 
As irregularidades de Bolsonaro dificilmente se limitam ao mundo digital. Escândalos de corrupção definiram seu mandato e a podridão começa em casa. Dois de seus filhos, que também ocupam cargos públicos, foram acusados ​​por promotores estaduais de roubar sistematicamente fundos públicos embolsando parte dos salários de associados próximos e funcionários fantasmas em suas folhas de pagamento. Acusações semelhantes, relativas ao seu período como legislador, foram dirigidas ao próprio Bolsonaro. Em março, ele foi acusado de improbidade administrativa por manter uma funcionária fantasma como sua assessora parlamentar por 15 anos. (A suposta assessora era, na verdade, uma vendedora de açaí.)
 
Acusações de corrupção também envolvem membros de alto escalão do governo. Em junho, o ex-ministro da Educação do Brasil, Milton Ribeiro, foi preso sob acusação de tráfico de influência. Bolsonaro, que é mencionado Milton Ribeiro em clipes de áudio comprometedores, foi firme na defesa do ministro. “Eu colocaria meu rosto no fogo por Milton”, disse o presidente antes da prisão, explicando depois que só colocaria a mão no fogo. Ele sustenta, contra todas as evidências disponíveis, que não há “corrupção endêmica” em seu governo.
Depois, há o relatório condenatório da comissão especial do Senado sobre a resposta do Brasil ao Covid-19, que descreve como o presidente ajudou ativamente a espalhar o coronavírus e pode ser responsabilizado por muitas das 679.000 mortes no Brasil. Recomenda que Bolsonaro seja acusado de nove crimes, incluindo uso indevido de fundos públicos, violação de direitos sociais e crimes contra a humanidade.
 
Como o presidente responde a essa folha de acusações? Com ordens de sigilo. Essas liminares, ocultando evidências por um século, foram aplicadas a todos os tipos de informações “sensíveis”: as despesas detalhadas do cartão de crédito corporativo de Bolsonaro; o processo disciplinar do Exército que absolveu um general e ex-ministro da Saúde por ter participado de uma manifestação pró-Bolsonaro; e relatórios fiscais da investigação de corrupção contra seu filho mais velho. Isso está muito longe do homem que, no início de seu mandato, se gabava de trazer “transparência acima de tudo!”
Se o sigilo não funcionar, há obstrução. Bolsonaro tem sido frequentemente acusado de tentar obter informações privilegiadas de investigações, ou bloqueá-las completamente. No caso mais notório, o presidente foi acusado pelo próprio ex-ministro da Justiça de interferir na independência da Polícia Federal. É uma cobrança credível.
 
Enfim, o NYTimes não deixa pedra sobre pedra nas acusações que, nós, brasileiros, estamos cansados de saber. Isso tudo nos enche de vergonha e de raiva. Bolsonaros nunca mais!
 
Leia no The New York Times.
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