14/05/2022 às 08h13min - Atualizada em 14/05/2022 às 08h13min

BOLSONARO E MILITARES NA MIRA DA PF.

É O INQUÉRITO DO STF SOBRE MILÍCIAS DIGITAIS.


 
Bolsonaro e militares integrantes do governo estão sob a mira da apuração sobre uma suposta organização criminosa investigada pela Polícia Federal por ataques às instituições e disseminação de desinformação.
Pelo tamanho da frase já deu pra perceber que não é coisa simples. E isso é porque ficaram vinculadas à apuração de uma live que Bolsonaro fez em 29 de julho de 2021 (seu maior ataque ao sistema eleitoral brasileiro) com o caso das milícias digitais. Essa vinculação foi ordenada por Alexandre de Moraes, que é o relator das apurações no STF (Supremo Tribunal Federal).

A Folha até já mostrou que a investigação da PF sobre a live aponta que o uso das instituições públicas para buscar informações contra as urnas vem desde 2019 e envolveu, além de Bolsonaro, o general Luiz Eduardo Ramos e a ABIN (Agência Brasileira de Inteligência), atrelada ao Gabinete de Segurança Institucional chefiado pelo também general Augusto Heleno.

Mais dois generais também entraram na mira da PF, o ex-diretor-geral da ABIN, Alexandre Ramagem, o ministro da Justiça, Anderson Torres, e o coronel do Exército Eduardo Gomes da Silva, responsável por apresentar as suspeitas de fraudes na live.
 
Moraes também ordenou que o caso das milícias digitais já havia sido abastecido com informações do inquérito das fakenews e com dados da investigação aberta para apurar o vazamento do inquérito sigiloso sobre o ataque hacker aos sistemas do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Foi incluído ainda o conteúdo do inquérito dos atos antidemocráticos de março de 2020, após pedido de arquivamento feito por Augusto Aras, Procurador-Geral da República indicado por Bolsonaro.
 
Com o material sobre a live em que Bolsonaro atacou sem provas as urnas eletrônicas, o inquérito é classificado por investigadores como principal anteparo contra possíveis investidas golpistas de Bolsonaro até a eleição e no período pós-eleitoral.
Além de servir como espaço para investigar possíveis novos ataques, o inquérito deve se debruçar sobre todos os episódios em que o presidente e seus apoiadores atacaram as instituições e disseminaram desinformação desde 2019.
Devem entrar também na mira do caso das milícias digitais o vazamento do inquérito sobre o TSE, quando se espalhou a desinformação sobre vacinas e tratamento precoce, e os preparativos para o 7 de setembro de 2021, quando Bolsonaro ofendeu Moraes e também fez manifestações de cunho golpista.
 
Cada um desses episódios é considerado um evento realizado pela mesma suposta organização criminosa investigada pela delegada Denisse Ribeiro. Ao indicar Jair Bolsonaro como figura central nos ataques às urnas, a delegada afirmou em um relatório que a rede investigada nesses casos, e agora unificada no inquérito das milícias digitais, tem entre outros objetivos "diminuir a fronteira entre o que é verdade e o que é mentira".
"A prática visa, mais do que uma ferramenta de uso político-ideológico, um meio para obtenção de lucro, a partir de sistemas de monetização oferecido pelas plataformas de redes sociais. Transforma rapidamente ideologia em mercadoria, levando os disseminadores a estimular a polarização e o acirramento do debate para manter o fluxo de dinheiro pelo número de visualizações", diz relatório da PF.
Segundo a investigação, "quanto mais polêmica e afrontosa às instituições for a mensagem" divulgada, "maior o impacto no número de visualizações e doações, reverberando na quantidade de canais e no alcance do maior número de pessoas".
"Aumentando a polarização e gerando instabilidade por alimentar a suspeição do processo eleitoral, ao mesmo tempo que promove a antecipação da campanha de 2022 por meio das redes sociais."
 
Na PF, a invasão do Capitólio pela turma trumpista, em 6 de janeiro de 2021, é utilizada para explicar o inquérito das milícias digitais e como ele pode servir para conter as investidas de Bolsonaro e de seus apoiadores.
Os investigadores afirmam que, no caso americano, o método de atuação utilizado pelos envolvidos na preparação, na mobilização nas redes e na invasão só foi entendido após o ocorrido - quando a polícia fez o caminho reverso para chegar aos responsáveis.
 
Aqui no Brasil, como o método dos bolsonaristas já foi mapeado nas investigações anteriores, o inquérito das milícias digitais servirá para investigar os novos eventos que possam ocorrer com a proximidade das eleições.
Eles lembram que, como organização criminosa é um crime permanente, o objetivo a partir de agora é identificar os casos para enquadrá-los e investigá-los como sendo eventos praticados pelo mesmo grupo.
Caso o presidente e seus apoiadores voltem a atacar as instituições, como o TSE, por exemplo, ou disseminar informações falsas, assim como fizeram sobre as urnas, o inquérito poderá servir para investigá-los.
Assim, o episódio da live de 29 de julho é visto como um dos mais emblemáticos, porque mostra como Bolsonaro se valeu das instituições para fins pessoais, atacando as urnas eletrônicas.
Além da Presidência, a Casa Civil, então chefiada por Luiz Eduardo Ramos, a Abin, o GSI, comandado por Augusto Heleno e o Ministério da Justiça atuaram para buscar informações utilizadas por Bolsonaro para levantar suspeitas falsas sobre a urna.
Anderson Torres tentou até mesmo utilizar a própria PF, ao levar peritos do órgão para uma reunião no Planalto.
Mesmo com os peritos afirmando que suas análises não apontavam para fraude, Torres participou da live e utilizou os relatórios.
A PF diz que, além de Torres, o general Ramos e a ABIN, sob tutela do GSI de Heleno, sabiam das fragilidades nas teses que seriam utilizadas e mesmo assim continuaram com a organização da live.
"Foram identificadas diversas inconsistências em pontos relevantes das declarações (depoimentos de Ramos, Ramagem e Torres), as quais convergem em apontar que houve vontade livre e consciente dos envolvidos em promover, apoiar ou subsidiar o processo de construção da narrativa baseada em premissas falsas ou em dados descontextualizados", diz a PF sobre a live.
Um dos exemplos citados pela PF é o do general Ramos, que ainda em 2019 procurou o técnico em eletrônica Marcelo Abrileri em busca de informações sobre uma suposta fraude nas eleições de 2014.
Para os investigadores, desde o início era possível ver que os fatos levantados por Abrileri não poderiam ser comprovados.
"Marcelo elaborou uma planilha com dados sobre a suposta fraude tendo como base exclusivamente dados que eram fornecidos pelo site de notícias G1, na tentativa de identificar padrões matemáticos, tendo como motivação o receio de que o ‘comunismo tomasse o Brasil’", diz a PF.
 
“Ils sont fous ces bolsonaristes!”, diria o Obelix...
 
Leia também na Folha.

 
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