Primeiro, Mourão disse que investigações sobre tortura durante a ditadura militar não são necessárias, porque os envolvidos “já estão todos mortos” – esqueceu de dizer que a tortura deve ter ‘influenciado’ nessas mortes.
Mas Mourão, filiado ao Republicanos, foi além. Relembrou aquele tenebroso período como uma “revolução democrática”. É verdade que, em 1964, ele tinha uns 11 anos. Mas certamente foi informado sobre o que acontecia. Sabemos que nossas forças armadas têm bons motivos para serem glorificadas, como ele mesmo cita: “O Exército, com uma história de vitórias, desde Guararapes, quando índios, brancos e negros combateram os holandeses, passando pela Guerra do Paraguai, pela Segunda Guerra Mundial...”. Até aqui, tudo bem. Mas logo em seguida ele trata o golpe de 64 como ‘Revolução Democrática de 1964’. E ainda acrescenta: “Até os dias atuais, preserva a soberania e contribui com o Brasil. Parabéns ao Exército Brasileiro”, disse Mourão em uma publicação no Twitter.
Mourão com certeza sabe que o seu querido regime militar matou, torturou e sumiu com cerca de 500 pessoas. Na segunda-feira, dia 18, quando foi questionado por jornalistas sobre áudios revelados pela colunista Miriam Leitão, onde os ministros do STM (Superior Tribunal Militar) debocham da prática de tortura na ditadura militar, Mourão riu e disse que o caso não precisaria de investigação, pois os atores já haviam morrido. “Vai apurar o quê? Os caras já morreram tudo. Vai trazer os caras do túmulo de volta?”, disse. “Isso é história, já passou. Mesma coisa que a gente voltar na ditadura do Getúlio, né? São assuntos já escritos em livros e debatidos intensamente. É passado. Faz parte da história do país”, continuou. Como é que um general do Exército Brasileiro, vice-Presidente da República, é capaz de uma barbaridade dessas?!?!
Mourão ainda defendeu que, ao relembrar o episódio que matou e sumiu com ao menos 500 pessoas entre 1964 e 1988, deve-se ouvir os “dois lados”. “Tem que conhecer a história. A história sempre tem dois lados a ser contados, né? Então, vamos lembrar: aqui houve uma luta, dentro do país, contra o Estado brasileiro, por organizações que queriam implantar a ditadura do proletariado, que era um regime que na época atraía uma quantidade grande da juventude brasileira e também parcela da sociedade, mas que perderam essa luta”, declarou.
Como assim “tem dois lados a ser contados”? A tortura da ditadura conta ou foi descontada?
A reportagem de Miriam Leitão, que foi uma das vítimas de tortura pela ditadura de 1964, traz 10 mil horas de gravações feitas durante os 10 anos em que as sessões do STM foram registradas, inclusive as secretas. As audiências ocorreram entre 1975 e 1985. O historiador Carlos Fico teve acesso aos documentos em áudio, e Miriam Leitão os publicou. Leia aqui.
Trechos inéditos mostram os ministros do tribunal falando sobre torturas. Será que Mourão ouviu? Se não ouviu, não seria o caso de ouvir, antes de falar o que não sabe ou não quer saber?
Os militares derrubaram João Goulart e, em seguida, iniciaram um regime ditatorial que durou 21 anos — considerado um dos períodos mais obscuros da história brasileira, com saldo estimado em milhares de pessoas mortas por discordarem da gestão federal.
Será que o Mourão foi aprovado em História? Deve ter colado... e da pessoa errada!
