13/03/2022 às 07h49min - Atualizada em 13/03/2022 às 07h49min

“ÀS ARMAS, EMPRESÁRIOS!”

É O QUE PROPÕE RICARDO SEMLER.

 
Nada como um dia após o outro, um ano após o outro, um Bolsonaro após o outro... Um momento, por favor! Aí, já é demais! O povo não quer saber disso e, pior, os empresário$ também não querem. No seu artigo publicado hoje, 13 (epa!), o empresário Ricardo Semler – sócio da Semco Style Institute, fundador das escolas Lumiar, professor visitante da Harvard Law School e de liderança no MIT (Massachusetts Institute of Technology, EUA) – demonstra todo o desespero e arrependimento empresariais por terem ajudado a eleger Bolsonaro. Tadinhos...
 
Às armas, companheiros
Empresários, é hora de união para evitar o pior
12.mar.2022 às 21h00
Ricardo Semler
Empresário, sócio da Semco Style Institute e fundador das escolas Lumiar; foi professor visitante da Harvard Law School e de liderança no MIT (EUA)
"Quer passear de MIG, comigo pilotando?" Foi o convite que recebi de um oligarca russo, Oleg Deripaska, há muitos anos, em Moscou. Fui falar sobre empresa democrática (riram muito de mim). A ideia de visitar a fazenda dele na Sibéria era demais — declinei, covardemente.
Hoje não me surpreende Vladimir Putin querer refazer a União Soviética e se tornar o novo Stálin. Nem fico surpreso ao ver o Brasil citado como aliado passivo do líder russo —combina. O que espanta é ver colegas da elite não se mobilizando para terminar com o reinado em vigor.
Há alguns anos estava óbvio que a elite seria omissa, o que levaria a um Brasil humilhado, mais pobre e de baixo QI. A ideia de que Paulo Guedes, de pouca competência e alta vaidade, seria o porto seguro dos empresários já era risível.
Agora, a obstinada procura míope pela terceira via continua criando um risco substancial à nação.
Lula, PT, segue líder nas pesquisas, mas há sinais de que sua vitória pode estar em perigo. A jogada do Auxílio Brasil, obtida com ampla corrupção no Congresso, ainda não fez efeito — nem o fim da pandemia, com o aumento de empregos que virá junto.
Também as ondas da Ucrânia chegarão aqui. Em forma de inflação, mas também como inspiração de truculência ditatorial, tão atrativa ao nosso presidente Jair Bolsonaro (PL).
Parece difícil imaginar o Brasil dobrando o seu orçamento militar, mas a Alemanha acaba de triplicá-lo e será seguida por parte das maiores economias do mundo. Pergunto: é impossível imaginar Bolsonaro arrumando conflitos nas fronteiras com Argentina ou Venezuela? Ou se imaginando um autocrata eleito para ser beligerante? Está longe dos sonhos dele ser o "Putin das bananas"?
Se ele se reeleger, o Brasil vai para a categoria de "rogue country" — pária institucional, como já tem ocorrido na prática. Irá se juntar à Hungria, à Venezuela e às Filipinas como um "paiseco" que aguarda o fim da ditadura democratizada.
Empresários têm uma inteligência focada. São bons de dinheiro, mas pobres em inteligência emocional e afetiva. Haja vista Elon Musk, Bill Gates e Mark Zuckerberg, ou os fundadores de WeWork e Uber. Conheço alguns pessoalmente e posso afirmar que são gênios de business, mas completos babacas como humanos.
Talvez seja esta a explicação pela qual os empresários de peso deste país, e os novos fundadores de startups, estejam presos na balela de uma terceira via. Na prática, eles se abstêm de responsabilidades e derramam lamúrias em almoços na Faria Lima. Correm o risco de deixar o Brasil derreter numa segunda gestão bolsonarista desastrosa.
Repete-se a ladainha do perigo vermelho e outras posições ignorantes — ora, o PT nada mais é do que um socialismo brando europeu. A opção, aliar-se ao que o Brasil tem de mais corrupto e sórdido, o centrão, é miopia medonha.
Claro, o PT — em medida menor, mas também indesculpável — deixou grassar a corrupção que sempre definiu o Brasil, mas vale dar votos para que tenha havido um aprendizado. Da mesma maneira que uma Alemanha militarizada não me sugere novos nazistas, espera-se que um novo PT tenha se reformado. Os indícios não são ruins: nem Lula nem Dilma Rousseff tem ilhas secretas ou dinheiro em contas suíças — Putin, num país de economia menor, roubou algo como US$ 100 bilhões, e os nossos ACMs, Malufs, Quércias, Sarneys — todos terceiras vias apoiados pela elite econômica — foram acusados de desvios bilionários.
É hora de empresários importantes e as centenas de jovens milionários se associarem para evitar o pior. Chega de centrão, ou acreditar que a direita de baixo intelecto é uma solução para o país. É hora de negociar com Lula um Arminio Fraga, um Pedro Malan ou um Pérsio Arida. Hora de financiar um caminho saudável, manifestar-se contra a barbárie burra em que nos metemos por falta de visão.
Armemo-nos em favor do Brasil, usando as muitas inteligências que Deus nos deu. Em vez de pistolas engatilhadas por machões, vamos de tiros que vêm do tirocínio. A hora é esta.
 
Leia também na Folha e no Brasil247.
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