14/02/2022 às 08h21min - Atualizada em 14/02/2022 às 08h21min

BOLSONARO BATE RECORD

. É A MAIOR TAXA DE DESEMPREGO EM ANO ELEITORAL!

 

Neste ano eleitoral de 2022, a crise econômica deve levar mais de 1 milhão de trabalhadores brasileiros para a fila do desemprego. As novas vagas que poderão ser geradas não serão suficientes para absorver quem está tentando entrar no mercado. É a mais alta taxa em ano eleitoral das últimas sete eleições.
 
Vejam o exemplo de Nelton Laurindo Pinto, de 30 anos, que procura emprego com carteira assinada há quatro anos. É morador da Cidade Estrutural, comunidade localizada a 20 quilômetros da Praça dos Três Poderes, em Brasília. Estava arrumando pequenos serviços em obras para garantir o sustento da mulher e dos dois filhos, de 2 e 3 anos. Mas até isso ficou difícil.
 
— Eu mando currículo para empresas para todo lado, procuro na internet, mas nunca me chamaram. Nunca trabalhei com carteira assinada. Vou em obra porque é o recurso que sobra, mas agora deu uma parada — conta.
 
Neste ano eleitoral, a lenta recuperação do mercado de trabalho, com inflação e juros altos, deve dominar os debates. Tiago Tristão, economista da Absolute Investimentos, estima que ao fim de 2022 serão 13,4 milhões de pessoas desempregadas, 1 milhão a mais do que no fim do ano passado, mesmo com a expectativa da geração líquida de 400 mil vagas neste ano. A geração de vagas simplesmente não vai conseguir atender ao aumento da procura por trabalho.
 
— O desemprego não vai cair de 12% para 8% em um ou dois anos. Vamos conviver com taxa de desemprego elevada por alguns anos. Quem assumir o governo, do ponto de vista da narrativa econômica, não tem problema, porque, se a economia voltar ao potencial ao longo do tempo, tem quatro anos para uma recuperação. O problema é para quem está no governo agora — diz Tristão.
 
É uma situação que não deve se alterar na próxima década, na avaliação de Lucas Assis, analista da Tendências Consultoria. Ele diz que a taxa de desemprego deve ficar em dois dígitos nos próximos dez anos, apesar de prever para dezembro um número de desempregados menor do que Tristão: 12,7 milhões.
 
— A incerteza gerada pelo ciclo eleitoral doméstico limita o dinamismo econômico e gera consequências para a retomada do emprego. O cenário para 2022 está bastante deteriorado e é desafiador, com destaque negativo para a queda do rendimento médio dos trabalhadores — explica Assis, lembrando que os impactos poderão ser duradouros. — Isso gera uma perda de capital humano muito grande, afetando a produtividade:
 
Taxa pode chegar a 13%
Nelton Pinto não é o único desempregado na casa em que vive com família e divide com outros parentes. Sua cunhada, Maria Marta Santiago da Cruz, de 22 anos, está há dois anos sem trabalhar. O marido dela, vidraceiro, é o único na casa com carteira assinada. Maria Marta, que já trabalhou com reciclagem, em restaurantes e como doméstica, também busca um trabalho formal. Candidatou-se a uma vaga de auxiliar de cozinha, sem sucesso.
 
— Agora é procurar, mas desanima demais, ainda mais quando a gente chega no lugar e o pessoal diz que não tem mais vaga, que acabou. Mas não pode perder a esperança — diz a jovem, que tem dois filhos.
 
FANTASMA DA FOME RONDA O NATAL
 
Jane Siquieira mostra a geladeira de casa vazia. Com dois filhos, Sabrina, de 15 anos, e Enzo Gabriel, de 9 meses, ela deve passar o Natal com a sogra
 
Natália Soares da Silva, moradora de Vila Americana, em Nova Iguaçu, tem quatro filhos e nenhum auxílio do governo. Vive com sua família dos biscates do marido e não tem nenhuma perspectiva de ter ceia e presentes de Natal para as crianças, Camille, 11 anos, Samile, 9, Samanta, 7 e Rael, 9 meses
 
Andréia, com filho de colo, em Rio das pedras, não tem auxílio emergencial, e tenta o novo benefício, Auxílio Brasil.
 
Ivânia Cabral, 62 anos, com o pouco dinheiro que tem, prefere comprar o que dá de
cenoura, batata e chuchu em vez de remédios para tratar de febre e tosse intensa, sintomas que vem sentindo há mais de dois dias.
Moradora de Rio das Pedras, Ivânia parou de receber o auxílio emergencial e está sem nenhuma renda, mas sonha em comer um arroz com frango na ceia de Natal.
 
Essa economia estagnada — o mercado projeta crescimento de apenas 0,3% do PIB (Produto Interno Bruto) este ano — vai afetar a decisão dos eleitores, dizem especialistas. Bancos e consultorias estimam que o desemprego pode fechar 2022 entre 11,8% e 13%, acima dos registrados em outros anos eleitorais.
 
Na reeleição de Fernando Henrique Cardoso, em 1998, a Pesquisa Mensal do Emprego (PME), do IBGE, hoje extinta, mostrava taxa de desemprego em dezembro de 6,32%. Em 2002, quando o PT ganhou as eleições do PSDB, o índice, ainda medido pela PME, mas com nova metodologia que captava melhor o desemprego, era de 10,5%.
 
Índice em ano eleitoral
Quando o país reelegeu Lula em 2006, a taxa de desocupação era de 8,4%. E na eleição de 2010, quando ele conseguiu fazer de Dilma Rousseff a sua sucessora, o índice estava em 5,3%.
Em 2014, a crise econômica, que então começava no mercado de trabalho, ainda não havia se refletido nas eleições. Na época, a PNAD Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio) mostrou que a taxa de desemprego fechou o ano em 6,6%, uma das menores da série, e Dilma foi reeleita.
Desde então, com dois anos de recessão (2015 e 2016) e a pandemia, esse indicador só aumentou. Na última eleição, em 2018, a taxa média de desemprego no ano ficou em 12,3%. O indicador fechou o ano em 11,7%.
 
O problema é mais grave para os jovens, que, sem experiência, têm mais dificuldade para entrar no mercado de trabalho em crise, o que compromete a sua renda futura:
— A vida do jovem é difícil, principalmente para quem está entrando no mercado no momento de recessão. Estudos mostram que, quando se entra no mercado num momento em que a economia está mais dinâmica e gerando mais oportunidade, mais rapidamente as pessoas são realocadas em postos mais produtivos. Na depressão, as oportunidades são menores, e as chances de realocação, mais difíceis. Além disso, a renda, ao longo do ciclo de vida laboral, tende a ser menor — aponta Tristão.
 
O economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, avalia que a recuperação vigorosa de 2021 não vai se repetir este ano. O mercado de trabalho, diz, continuará precário, sustentado por ocupações que exigem baixa qualificação e informais, com o agravante da inflação, que corrói a renda do trabalhador e já caiu 11%, frente ao ano passado.
— São dois pontos que geram insatisfação: para quem está procurando, é não achar o emprego de qualidade; e para todo mundo, é a inflação corroendo a renda, mesmo de quem está empregado e no mercado formal — diz Vale.
 
E O PRESIDENTE?
 
O presidente? Perguntou pelo presidente? Ah, o presidente!
Vamos mudar de assunto...
 
 
Leia também no Globo e no Brasil247.

 

 
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