19/01/2022 às 07h12min - Atualizada em 19/01/2022 às 07h12min

REDE RACHOU

RANDOLFE EM UM PUNHO E MARINA NO OUTRO



Randolfe e Marina não aprenderam nada sobre nó de rede. O resultado foi esse, a Rede se dividiu.  
Sob o punho de Marina, uma ala da sigla defende apoiar Ciro Gomes (PDT).
Sob o punho de Randolfe, outra ala defende apoiar Lula (PT).
E há ainda uma ‘variação de punho’, digamos assim, que defende que Marina seja a vice de Ciro (PDT) – mas há resistência de parte do partido, claro.
Carlos Lupi, presidente do PDT, sabiamente tem conversado com Marina e já disse que ela seria um bom nome para vice.
 
Por seu lado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP) chegou a procurar a presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PR), para saber se o partido estaria disposto a abrir diálogo a respeito de aliança na eleição.
"Se tiver essa possibilidade, o PT quer conversar. A gente tem interesse de conversar com a Rede. Na eleição de 2020, estivemos juntos em alguns municípios", disse Gleisi à Folha.
 
O contato foi feito após o jantar do grupo de advogados Prerrogativas, em São Paulo, em dezembro passado, que reuniu Lula e Geraldo Alckmin (sem partido) e do qual o próprio Randolfe participou.
"Hoje, de fato, a Rede está dividida. Boa parte do partido defende apoio a Lula já no primeiro turno. Tem resistência, mas boa parte quer isso. Tem a sugestão de liberar o voto, tanto em Ciro como em Lula", diz o senador.
 
O PT trabalha para formar uma federação partidária com PSB, PC do B e PV.
Já a Rede trabalha para se federar ao PSOL, o que tende a acontecer. O encaminhamento, segundo Randolfe, não inviabiliza conversas com o PT sobre aliança. Ele defende que a Rede faça a federação com o PSOL e discuta uma coligação com o PT no primeiro turno, mas sem proibir o voto em Ciro Gomes. Ou seja, o ‘em cima do murismo’ oficializado.
 
Dentro do PT também tem os dois lados. Uns defendem construir um diálogo mais profundo com a Rede por agregar valor simbólico. Existe inclusive quem defenda que a sigla seja uma opção de filiação para Alckmin ser vice de Lula, o que tem chance remota de ocorrer e nem sequer foi discutido na Rede.
 
A porta-voz da Rede, a ex-senadora Heloísa Helena, diz que, diante das divergências na sigla, a tendência majoritária do partido, hoje, é liberar a militância.
"Alguns dos nossos mais queridos parlamentares, como Randolfe e Túlio Gadêlha (PE), querem apoiar Lula. Eu e outros queremos dar apoio ao Ciro. Então vamos ter muita paciência revolucionária de não criarmos problemas internamente, pois a nossa unidade interna é infinitamente mais importante diante da duríssima batalha que vamos enfrentar", afirma a ‘revolucionária’ Helena.
Além da divisão no partido, integrantes da Rede apontam que um entrave para que Marina seja candidata a vice-presidente ao lado de Ciro é o fato de João Santana ser o marqueteiro do pré-candidato. Explica-se: ele foi o responsável pela campanha de Dilma Rousseff em 2014, marcada por ataques a Marina, que acabou em terceiro lugar na disputa. A candidata derrotada chegou a dizer que enfrentava uma "campanha desleal" do PT.
Helena diz que já foi vítima do "marketing da pistolagem", mas prefere "não esquecer o nome dos mandantes que pagam e se beneficiam politicamente desses crimes".
"Sobre a presença de Santana, não discuto, pois compreendo que Marina e Ciro certamente conversarão sobre o tema. Sobre o conteúdo programático caberia aos partidos e o faríamos se a chapa fosse composta."
 
Segundo a porta-voz da Rede, no final do mês haverá um cenário mais claro sobre federação partidária e composição de chapa.
Enquanto isso, o partido quer trabalhar nas prioridades da sigla, como eleger os dois candidatos a governador que serão lançados: Randolfe no Amapá, e o ex-deputado Audifax Barcelos no Espírito Santo.
Além disso, o objetivo é ultrapassar a cláusula de barreira, elegendo mais de dez deputados federais e atualizar o plano que Marina apresentou para a campanha de 2018.
 
Tanto Helena como Marina têm histórias conturbadas com o PT. Ambas tiveram o partido como ponto de largada na trajetória política.
Helena foi eleita senadora pelo PT em 1998, e em 2003 foi expulsa da sigla por divergir de orientações da legenda e votar contra projetos de interesse do partido.
Depois, a ex-senadora migrou para o PSOL, onde ficou até ajudar a fundar a Rede, que foi registrada em 2015.
Já Marina, filha de seringueiros e natural do Acre, foi ministra do Meio Ambiente de 2003 a 2008, no governo Lula.
Ela deixou o PT em 2009, filou-se ao PV e candidatou-se à Presidência pela sigla. Em 2013, quando já tentava fundar a Rede Sustentabilidade, filiou-se ao PSB e assumiu a candidatura à Presidência pelo partido em 2014, depois da morte de Eduardo Campos (PSB-PE). Ela terminou em terceiro lugar.
Já em 2018, candidatou-se de novo ao Palácio do Planalto, mas acabou a corrida nas últimas posições.
 
Essa Rede ainda tem muito o que balançar...
 
Leia também na Folha e no Brasil247.
Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »
Daqui&Dali Publicidade 1200x90