Enquanto a venda da imparcialidade era retirada de vez da maior casa da Justiça no Brasil e se esforçavam para não ouvir o depoimento do fundador do site The Intercept Brasil, jornalista Gleen Greenwald, ali pertinho no Congresso, reafirmando a veracidade das informações sobre as irregularidades nos processos da Lava Jato, o grito Lula Livre ecoava na emocionante noite que acontecia a 8.800 km de distância de Brasília. O Teatro Monfort, em Paris, lotado por franceses e brasileiros, ouvia 38 artistas lerem 80 das 22 mil cartas enviadas pelo povo ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, desde que foi preso em 7 de abril de 2018.
A iniciativa foi da historiadora francesa Maud Chirio. Ela fundou a Rede Européia pela Democracia que também criou um arquivo digital com os textos. O evento foi o primeiro de uma série de manifestações artísticas em parceria com o Instituto Lula. Para conservar e valorizar o material, especialistas traduzem os textos para o francês, inglês e espanhol. O conteúdo está disponível no site linhasdeluta.org. "Nós percebemos que havia grande importância em mostrar essas cartas, fazer com que elas fossem conhecidas no Brasil e no exterior, uma vez que a fala que está nessas mensagens, a trajetória de vida, a leitura por parte do povo – de gente de origem muito humilde – sobre a situação política no Brasil, é uma fala 'invisível' na mídia e no discurso público”, destaca a especialista em política do Brasil contemporâneo". A ex-vereadora carioca Marielle Franco, assassinada no Rio, também foi lembrada, com a apresentação do samba da Mangueira, em francês. A prefeitura de Paris vai dar o nome de Marielle a um espaço público na cidade. Emocionada , a atriz e cineasta portuguesa Maria de Medeiros leu uma das cartas e reforçou a resistência. "É muito importante mostrar a injustiça que se está vivendo no Brasil com a prisão do presidente Lula é algo que ultrapassa muito o Brasil. Há uma manipulação mundial que faz uma lavagem no cérebro das pessoas e isso me parece um dos grandes perigos atuais", alertou. "“Nós nos sentimos como porta-vozes dessas pessoas. Nas cartas, elas contam suas trajetórias, seus percursos, como a política mudou a vida delas, demonstram gratidão aos programas dos governos de Lula e Dilma, apontam erros e também fazem críticas construtivas para ajudar a esquerda a se reinventar depois de tudo o que aconteceu recentemente no Brasil”, resume o dramaturgo Thomas Quillardet, responsável pelo espetáculo. A resistência brasileira mostrou a sua força com a participação do compositor e cantor Chico Buarque, a filósofa MarciaTiburi e o ex- deputado federal Jean Wyllys, auto exilados após sofrerem ameaças dos simpatizantes do governo Bolsonaro. Chico Buarque, amigo pessoal do ex-presidente , leu a carta de um homem nordestino e "filho da pobreza" como Lula. Ao sair, disse "foi lindo, muito lindo". O ex-deputado Jean Wyllys leu a última carta, falando do exílio. "Um não lugar", mas "ainda melhor do que a prisão". E concluiu: "Quero te ver livre, meu guerreiro". E uma emocionada plateia também mandou recado para o Brasil e para o mundo. " Lula Livre! Lula Livre!" Veja mais RFI