09/10/2021 às 13h36min - Atualizada em 09/10/2021 às 13h36min

O GOLPE PASSOU RASPANDO

ALLAN TENTOU, MAS BOLSONARO NEGOU


Quem apontou foi a própria Polícia Federal. O tal do influenciador bolsonarista Allan dos Santos, dono do canal Terça Livre, teria tentado influenciar Bolsonaro e os parlamentares da sua base a darem um golpe de Estado durante as manifestações antidemocráticas realizadas entre abril e maio de 2020. As informações estão contidas nos autos do inquérito das milícias digitais, relatado pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal).

“A partir da posição privilegiada junto ao Presidente da República e ao seu grupo político, especialmente os Deputados Federais Bia Kicis, Paulo Eduardo, Martins, Daniel Silveira, Caroline de Toni e Eduardo Bolsonaro, dentre outros, além e particularmente do Ten-Cel. Mauro Cesar, ajudante de ordens do Presidente da República, a investigação realizada pela Polícia Federal apresentou importantes indícios de que Allan dos Santos tentou influenciar e provocar um rompimento institucional”, relata o inquérito.

O inquérito das milícias digitais foi aberto em julho do ano passado para investigar a atuação de uma organização criminosa que atuaria nas redes sociais com o objetivo de produzir, publicar, financiar e distribuir conteúdo político que atenta contra as instituições democráticas.

A investigação da PF mostra que durante as manifestações em apoio ao governo Bolsonaro, realizadas nos dias 19 e 26 de abril e 6 de maio de 2020, Allan dos Santos enviou mensagens ao ajudante de ordens de Bolsonaro frisando a “necessidade de intervenção militar”. A conversa termina com a declaração de que “as FFAA (Forças Armadas) precisam entrar urgentemente”, pois “não dá” mais para aceitar decisões do STF citadas na conversa. O relatório da investigação divulgada não cita se houve resposta.

No dia 19 de abril (aliás, Dia do Índio), Bolsonaro discursou durante um ato em Brasília em frente ao Quartel General do Exército com milhares de manifestantes defendendo a intervenção militar e o fechamento do STF e do Congresso. “Nós não queremos negociar nada. Nós queremos é ação pelo Brasil. O que tinha de velho ficou para trás. Nós temos um novo Brasil pela frente. Todos, sem exceção, têm que ser patriotas e acreditar e fazer a sua parte para que nós possamos colocar o Brasil no lugar de destaque que ele merece. Acabou a época da patifaria. É agora o povo no poder”, disse Bolsonaro, com objetivo obviamente golpista.

O discurso dentro e fora do governo é alvo de várias investigações. O procurador-geral da República, Augusto Aras, abriu, no mês passado, uma apuração preliminar contra o ministro da Defesa, Walter Braga Netto, por ter ameaçado a realização das eleições em 2022. O Estadão, em julho, revelou que o ministro pediu a um interlocutor para enviar um recado “a quem de direito” com a mensagem de que não haveria eleições no ano que vem, se não houvesse impressão dos votos e contagem pública dos resultados. Em outras palavras, ‘vamos dar o golpe e não se fala mais nisso’.

O tal do interlocutor foi falar com o presidente da Câmara, Arthur Lira.  A PGR apura “possível infração político-administrativa” cometida pelo ministro.

Sigilo ou não sigilo, eis a não questão
Os documentos do inquérito das milícias digitais foram divulgados na íntegra por conta da expiração do prazo da investigação da PF. A delegada Denisse Dias Rosas Ribeiro encaminhou os autos ao ministro Moraes para que ele avalie se é necessário fixar um novo prazo para terminar a apuração.
A PF relata que laudos preliminares identificaram ataques sistematizados às instituições e a opositores do governo. Segundo os autos, as redes sociais são utilizadas como instrumento de “agressão, propagação de discurso de ódio e de ruptura ao Estado Democrático de Direito”.
A delegada também enviou ao STF questionamento sobre a duração do inquérito que tem Bolsonaro como alvo. Ele foi incluído em uma investigação já aberta após disseminar informações falsas a respeito das eleições em uma “live” no Palácio do Planalto em julho deste ano. Na época, Moraes atendeu a um pedido do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e determinou a instauração de investigação contra o presidente em razão das alegações sobre fraudes nas urnas eletrônicas. O caso foi autuado à parte, mas distribuído por prevenção ao inquérito das fakenews. A parte que envolve Bolsonaro, porém, está sob sigilo.

Allan dos Santos e o Palácio do Planalto teriam sido procurados, mas não se manifestaram...

Leia também no Estadão e no Brasil247.
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