10/09/2021 às 08h11min - Atualizada em 10/09/2021 às 08h11min

​BOLSONARO ENTREGOU OS DEDOS

PARA NÃO ENTREGAR OS ANÉIS - OU NÃO?


Bolsonaro descobriu que pode muito, mas não pode tudo. E descobriu isso quando percebeu que ele e seus filhos estavam nos chamados maus lençóis. Esticou a corda... esticou a corda... até que descobriu que não tinha corda para esticar. Foi fanfarrão. Foi arrogante. Agiu o tempo todo como um verdadeiro Senhor das Trevas. Até que surgiu uma pequena fresta de luz, talvez emitida por uma urna eletrônica, que funcionou como verdadeiro choque de consciência. E Bolsonaro teve que arregar. Descobriu que suas investidas contra o moinho eletrônico das urnas não passavam de quixotismo fora de época.

Sem saber como caminhar no meio das luzes, procurou outro Senhor das Trevas, que costuma agir sem entrar em foco, mais conhecido como Michel Temer, mais famoso ainda por ter conseguido, com ajuda de Eduardo Cunha, o afastamento de Dilma da presidência da República, que ele próprio passou a ocupar. Temer foi rápido no gatilho. Procurou ajuda de Alexandre de Moraes, que teria se tornado supremo ministro graças a sua indicação. Mas também mandou (provavelmente ele mesmo escreveu...) que Bolsonaro escrevesse uma carta à Nação, pedindo arrego.

Declaração à Nação

No instante em que o país se encontra dividido entre instituições é meu dever, como Presidente da República, vir a público para dizer:
1. Nunca tive nenhuma intenção de agredir quaisquer dos Poderes. A harmonia entre eles não é vontade minha, mas determinação constitucional que todos, sem exceção, devem respeitar.
2. Sei que boa parte dessas divergências decorrem de conflitos de entendimento acerca das decisões adotadas pelo Ministro Alexandre de Moraes no âmbito do inquérito das fake news.
3. Mas na vida pública as pessoas que exercem o poder, não têm o direito de “esticar a corda”, a ponto de prejudicar a vida dos brasileiros e sua economia.
4. Por isso quero declarar que minhas palavras, por vezes contundentes, decorreram do calor do momento e dos embates que sempre visaram o bem comum.
5. Em que pesem suas qualidades como jurista e professor, existem naturais divergências em algumas decisões do Ministro Alexandre de Moraes.
6. Sendo assim, essas questões devem ser resolvidas por medidas judiciais que serão tomadas de forma a assegurar a observância dos direitos e garantias fundamentais como previsto no Art 5º da Constituição Federal.
7. Reitero meu respeito pelas instituições da República, forças motoras que ajudam a governar o país.
8. Democracia é isso: Executivo, Legislativo e Judiciário trabalhando juntos em favor do povo e todos respeitando a Constituição.
9. Sempre estive disposto a manter diálogo permanente com os demais Poderes pela manutenção da harmonia e independência entre eles.
10. Finalmente, quero registrar e agradecer o extraordinário apoio do povo brasileiro, com quem alinho meus princípios e valores, e conduzo os destinos do nosso Brasil.
DEUS, PÁTRIA, FAMÍLIA
Jair Bolsonaro
Presidente da República federativa do Brasil

É uma carta obviamente falsa. A arrogância sempre foi a marca de Bolsonaro, herdada de Trump e do marqueteiro americano Steve Bannon. Mas serviria como pedido de desculpas não apenas a Moraes, mas a todo o STF, o TSE e ao pobre do cidadão brasileiro que tem aguentado heroicamente as suas idiotices. Serviria, se ela fosse honesta.

Horas depois de distribuir essa nota de aparente recuo, Bolsonaro lançou o recuo do recuo. Uma nota onde diz que as "palavras bonitas" do juiz Luís Roberto Barroso não convencem sobre urna eletrônica.
"Palavras bonitas, que sei que o ministro Barroso tem, dada a sua formação de jurista, diferente da minha, que tem palavrão de vez em quando, mas não convence ninguém", disse Bolsonaro nessa quinta-feira, 9, em transmissão nas redes sociais.
Em outro trecho da transmissão, quando afirmava que estava aberto ao diálogo com os Poderes, o presidente disse que pode conversar até mesmo com Barroso. "Ainda que hoje ele deu um cacete lá em mim", disse, referindo-se à fala de Barroso na manhã de quinta-feira. O presidente do TSE e ministro do Supremo chamou o Bolsonaro de farsante por investidas contra as urnas eletrônicas.
"Todas pessoas de bem sabem que não houve fraude e quem é o farsante nessa história", afirmou Barroso. “Quando o fracasso bate à porta, é preciso encontrar culpados", completou.
Bolsonaro ainda fez insinuações de cunho homofóbico ao comentar que Barroso anunciou a criação de comissão para tratar da transparência e segurança nas eleições.
"Se anuncia que está anunciando novas medidas protetivas por ocasião das urnas é porque elas têm brecha. É porque, Barroso, elas são penetráveis. Entendeu, Barroso? Ministro Barroso, entendeu? As urnas são penetráveis, as pessoas podem penetrar nelas", disse o presidente, em tom de deboche.
Bolsonaro também fez comentários homofóbicos em outro trecho da transmissão, quando citou fala do ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia, agora secretário de Projetos e Ações Estratégicas do estado de São Paulo.
"Maia me acusou de gay. Lógico, o Maia falando e um jegue relinchando é a mesma coisa, mas poxa, os argumentos dele: 'Ele é militar, tem vergonha de sair do armário, leva jeito'. Agora você vê a coincidência. Ele foi trabalhar com o Dória e começou a se interessar pela pauta LGBT. Ele quer agradar seu patrão. O gordinho quer agradar o patrãozinho dele", afirmou.
Bolsonaro também disse que "não é justo" desmonetizar páginas que defendem o voto impresso. O TSE ordenou que as redes sociais cortem os repasses a canais investigados por fakenews.
Bolsonaro ainda questionou a razão de Barroso ser contrário ao voto impresso "de forma tão contundente". "Democracia é contraditório. Eu posso gostar e tu não gostar (sic). Já imaginou se eu gostar da mesma coisa que o Barroso?", afirmou Bolsonaro.
Na mesma transmissão, o presidente minimizou pedidos golpistas feitos por apoiadores durante os protestos de 7 de Setembro.
"Não vi pedir fechamento de nada. Se bem que pedir fechamento... quanta gente fala 'fora Bolsonaro'. Escuto de motocicleta. Vou fazer o quê? Passar com moto em cima dele? Deixa ele falar", declarou Bolsonaro na transmissão.

Ele também disse que não há problema levantar bandeiras golpistas, como o uso do artigo 142 da Constituição ou AI-5. Na leitura distorcida dos apoiadores do presidente, o artigo seria base para legitimar uma intervenção militar, enquanto o segundo pedido faz referência ao ato mais duro da ditadura.
"Será que alguém levantou lá um artigo com a plaquinha artigo 142? Se levantou, parabéns. Quem fala em artigo 142, não tem problema nenhum. Nós devemos respeitar do primeiro ao ultimo artigo da Constituição", disse Bolsonaro.
"Quando alguém levanta AI-5, se levantou. Existe ato institucional? Não existe mais", afirmou.

O que se conclui de tudo isso é que é lamentável ter um presidente como Bolsonaro. O Brasil não merece tamanho castigo.


Leia também na Folha e no Brasil247.
Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »