05/08/2021 às 08h24min - Atualizada em 05/08/2021 às 08h24min

BOLSONARO RECLAMA

“MORAES ESTÁ ME CHAMANDO DE MENTIROSO”


Bolsonaro não gostou de ser tratado como mentiroso. Reagiu à decisão de Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), de incluí-lo no chamado inquérito das fakenews pelos repetidos ataques ao sistema eleitoral brasileiro. Para Bolsonaro, Moraes está acusando-o de mentir, o que é "gravíssimo", mas isso não o "intimida". Claro que não intimida, mas as fakenews intimidam o país.

Bolsonaro disse que "o ministro Alexandre de Moraes está me colocando no inquérito das fakenews... Não fala fakenews, não, fala inquérito da mentira, me acusando de mentiroso. Isso é uma acusação gravíssima, ainda mais em um inquérito que nasce sem qualquer embasamento jurídico. Ele abre, ele apura e ele pune?", questionou Bolsonaro em entrevista ao "Pingos nos Is", na rádio Jovem Pan.

Quais os limites da Constituição?

Bolsonaro ficou tão irritado que ameaçou reagir fora dos limites da Constituição, deixando dúvidas sobre se ele realmente sabe quais são esses limites.

"Está dentro das quatro linhas da Constituição? Não está. Então o antídoto para isso também não é dentro das quatro linhas da Constituição. Aqui ninguém é mais macho do que ninguém",  disse ele, quase dizendo ‘cospe aí, pra ver quem é mais macho’...

"Não vai ser o inquérito, agora na mão do senhor querido Alexandre de Moraes, para tentar me intimidar. Ou o próprio, lamento, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) tomar certas medidas para investigar, me acusar de atos antidemocráticos... Eu posso errar, tenho direito a criticar, mas não estamos errados."

Bolsonaro voltou a atacar o voto eletrônico, afirmou ter provas de irregularidades, chegou a citar um inquérito da Polícia Federal sobre uma ação de hackers ocorrida em 2018. Ele alega que, “quando tivemos eleições em que o código-fonte esteve na mão de um hacker, pode ter acontecido tudo, aperta 17 e sai nulo”. Mas o inquérito da Polícia Federal que investigou a suposta ação de hackers no TSE em 2018 não conclui que houve fraude no sistema eleitoral naquele ano ou que poderia ter havido adulteração dos resultados. O UOL chegou a procurar o TSE e a PF para pedir posicionamento sobre as acusações e perguntar sobre o inquérito de 2018, mencionado por Bolsonaro, e aguarda retorno. Se houvesse adulteração, será que Bolsonaro devolveria ao país os seus quatro anos de ‘governo’?
Mas o especialista Diego Aranha, da Universidade de Aarhus (Dinamarca), já declarou à Folha: “É naturalmente falso o argumento de que a posse do código-fonte é suficiente para provocar fraude”.

A Folha noticiou, momentos após a entrevista de Bolsonaro, que recebeu, na semana passada, o inquérito citado por ele e consultou diversos especialistas e uma pessoa envolvida na investigação, que foram unânimes: o inquérito não conclui que houve fraude no sistema eleitoral em 2018 ou que poderia ter havido adulteração dos resultados.

Com base na denúncia, Eduardo Bolsonaro (o filho deputado federal pelo PSL-SP), anunciou nas redes sociais que vai pedir a abertura de uma CPI das urnas eletrônicas.

Decisão de Moraes X Bolsonaro

No fim da tarde dessa quarta-feira, Moraes acolheu o pedido feito pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e incluiu Bolsonaro na investigação para apurar a disseminação de notícias falsas e ameaças contra ministros do STF, ataques repetidos à democracia e acusações infundadas de fraude nas eleições.

O ofício já foi encaminhado pelo presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso, e inclui o link para a live de Bolsonaro na última quinta, 29, em que ele reciclou mentiras para atacar a confiabilidade do voto eletrônico e não apresentou os indícios prometidos para as denúncias. A seu “favor”, durante a transmissão, ele acabou admitindo não ter provas.

Segundo Moraes, a conduta de Bolsonaro pode ser enquadrada em sete crimes: calúnia, difamação, injúria, incitação ao crime, apologia ao crime ou criminoso, associação criminosa e denunciação caluniosa. Será que ainda sobrou algum crime?

"Não há dúvidas de que as condutas do presidente da República insinuaram a prática de atos ilícitos por membros da Suprema Corte, utilizando-se do modus operandi de esquemas de divulgação em massa nas redes sociais, com o intuito de lesar ou expor a perigo de lesão a independência do Poder Judiciário, o Estado de Direito e a Democracia; revelando-se imprescindível a adoção de medidas que elucidem os fatos investigados", diz trecho da decisão, com esse jeito supremamente jurídico de falar.

Mais cedo, Bolsonaro respondeu ao pedido do TSE para esclarecer os ataques feitos ao sistema eleitoral, com dois dias de atraso. Ele teria afirmado que não tem questionado a segurança das urnas eletrônicas, mas, sim, defendido que o sistema seja ‘aprimorado’.
"Reitera-se, não se está a atacar propriamente a segurança das urnas eletrônica, mas, sim, a necessidade de se viabilizar uma efetiva auditagem", diz Bolsonaro em sua resposta ao corregedor-geral da Justiça Eleitoral, o ministro Luís Felipe Salomão. Como assim? Se não tem dúvidas com relação à segurança das urnas, por que toda essa agitação anti-urnas eletrônicas? Puro marketing eleitoral? Descobriu que está despencando nas pesquisas e quer bancar vítima para ver se consegue conquistar uns votinhos a mais? Desista, Bolsonaro. A urna eletrônica é segura e seus votos estão minguando a olhos vistos.
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Leia também em UOL, Folha e O Antagonista.

 
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