31/07/2021 às 08h22min - Atualizada em 31/07/2021 às 08h22min

BOLSONARO GERA TESTE DE ESTRESSE.

E QUEM SE ESTRESSA É O PAÍS...


Analistas políticos avaliam que Bolsonaro provoca um "teste de estresse" para as instituições democráticas do Brasil com suas acusações sem provas contra o sistema eleitoral brasileiro e que deve levar essa narrativa até a eleição presidencial do ano que vem.

Mas a sua insistência nesse discurso de fraude mostra que Bolsonaro e todo o seu governo estão acuados, apostando em uma retórica, como a que foi adotada em transmissão nas redes sociais na noite de quinta, 29, que na prática antecipa um eventual discurso de derrota eleitoral.

"De novo Bolsonaro antecipa esse processo eleitoral, fala que é possível haver o não reconhecimento do processo eleitoral, o que é o maior desafio que uma democracia pode enfrentar", disse à Reuters Leonardo Barreto, cientista político e diretor da Vector Análise.

"Ele gera um teste de stress institucional que vai até o processo eleitoral e tem, no pior cenário, o não reconhecimento de um resultado por um candidato que possa ter 30% dos votos. Acho isso um evento muito relevante para a estabilidade do processo político brasileiro", acrescentou.

Todos nós vimos Bolsonaro prometer que apresentaria provas de fraudes no sistema eletrônico de votação na transmissão que fez na quinta.  Mas o que vimos não foi isso. Não apresentou, reconhecendo que não tinha provas, mas tinha "indícios". Dá pra acreditar numa coisa assim?

Bolsonaro também aproveitou para bater no presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Luís Roberto Barroso, dizendo que ele contribuiu para a retomada dos direitos políticos de Lula. Insinua que Barroso teria interesse em uma vitória do PT, em mais um ataque contra o Judiciário – o que já se tornou uma constante.

Na avaliação dos analistas ouvidos pela Reuters, Bolsonaro resolveu apontar na direção do STF (Supremo Tribunal Federal) num momento em que conta com uma blindagem no Congresso Nacional, após apoiar a eleição de Arthur Lira (PP-AL) na presidência da Câmara dos Deputados e de colocar o líder do Centrão, senador Ciro Nogueira (PP-PI), no comando da Casa Civil.
Parece estar blindado também no front do Ministério Público, já tendo encaminhado ao Senado a indicação para recondução do procurador-geral da República, Augusto Aras (que tem se posicionado a favor de Bolsonaro) para um novo mandato de dois anos.
"Hoje, o melhor custo para ele é atacar o Supremo", disse o professor e cientista político do Insper Carlos Melo. "Onde ele não tem blindagem? No Supremo. O Supremo não pede impeachment, o Supremo não abre inquérito, o Supremo não tem instrumentos para reagir contra o presidente da República como a Câmara tem e como a PGR tem... O Supremo contém a ação dos outros Poderes, mas ele não consegue agir contra", explicou. Por outro lado, o Supremo já está por aqui e não está disposto a ser reduzido a saco de pancada.

"FILA DO OSSO"
Outro elemento importante desta estratégia de Bolsonaro de centrar fogo no Judiciário, o Poder que tomou várias decisões que contrariaram os seus interesses e vontades, é gerar uma distração para a parte mais aguerrida do bolsonarismo, tirando foco do apoio que buscou e conseguiu de figuras que criticava, como os parlamentares do Centrão.
"Isso é uma tática manjada de um certo tipo de político, sempre ter um inimigo", disse Melo, que, no entanto, avalia que a blindagem conquistada por Bolsonaro está longe de ser definitiva.

No caso do procurador-geral Aras, vai depender de como vai reagir, depois que tiver o segundo mandato assegurado, qual será sua independência em relação aos interesses de Bolsonaro, depois de ter sido preterido na escolha por uma vaga no STF. Com os membros do Centrão, dependerá da capacidade do governo de manter o fluxo de liberação de verbas para atender aos interesses políticos dos integrantes do grupo.
"Isso garante para Bolsonaro certa blindagem enquanto esses recursos estiverem sendo liberados. Depois que chegar na fila do osso... o Centrão não fica na fila do osso", disse Melo. "Não tem político que acompanhe o outro até a sepultura e se jogue junto", acrescentou.

Ao mesmo tempo, a tensão constante promovida por Bolsonaro com o Judiciário e a busca por colocar em dúvida o sistema de votação mais de um ano antes da eleição – e diante da provável derrota e sua tentativa de implementar o voto impresso – colocam uma sombra sobre a estabilidade política do país.

"É óbvio que Bolsonaro fará tudo que puder para permanecer no poder, inclusive levar a regra do jogo ao limite", disse o consultor político e CEO da Dharma Politics, Creomar de Souza. "Parece que gostaria que um pouco de tumulto fosse criado. Se esse tumulto resultar numa vitória eleitoral, melhor. Se esse tumulto resultar em uma permanência no poder, melhor", disse.
Para Creomar, a grande questão é: que apoio terão membros do governo vindos das Forças Armadas e que têm feito declarações dúbias sobre o respeito às regras do jogo democrático num eventual episódio de grande instabilidade.
"Na hora do vamos ver, esses indivíduos terão o apoio daqueles que estão na ativa? De que lado os homens armados estarão?"

Arme-se quem puder? Ou salve-se quem puder?

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