Vivemos o país dos altos contrastes, onde sonhos e pesadelos caminham lado a lado. O sonho das famílias de renda mais alta no pós-vacina concentra-se no entretenimento, na alimentação farta e sofisticada, em residências amplas e de luxo, seja no Brasil ou no exterior. Já as de baixa renda, se é que pode considerar que é renda...
O FGV IBRE (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas) concluiu que 70% dos consumidores com renda acima de R$ 9.600 pretendem gastar mais com viagens, transporte, restaurantes, cinema e atividades sociais após a ação mais ampla da vacinação. Mas, à medida que a faixa de renda vai reduzindo, esse percentual vai estreitando, ficando cada vez menor... menor... menor..., chegando a 12,5% entre as famílias com renda inferior a R$ 2.100 – que aliás é surpreendente que tenha chegado a tanto!
Entre consumidores na primeira faixa de renda, a expectativa é de aumentar o consumo de outros itens, como alimentos, bens duráveis e roupas, saúde e cuidados pessoais. Considerando a diferença entre o percentual de famílias que esperam aumentar e daquelas que esperam reduzir o consumo dos itens citados na pesquisa, o único aumento de consumo entre os mais pobres é com relação a alimentos.
“A gente observa que há uma propensão muito maior para gastar esses recursos, que algumas famílias conseguiram poupar, com toda aquela parte de serviços que está com dificuldade de recuperação durante a pandemia”, afirma Viviane Seda Bittencourt, superintendente-adjunta de Ciclos Econômicos do FGV Ibre. “A faixa de renda mais baixa diminuiu o consumo de alimentos, porque a gente teve redução dos benefícios emergenciais e um aumento nos preços.”
Em relação a bens duráveis e roupas, saúde e cuidados pessoais, os maiores percentuais de aumento de consumo estão concentrados também nas faixas de renda mais elevada.
Considerando todas as faixas de renda, o saldo entre aumento e redução de consumo mostra que cerca de 10% dos entrevistados esperam aumentar o consumo de duráveis e alimentos após o avanço da vacinação. Nos demais itens, o percentual é de 25%. A pergunta da sondagem replica um levantamento feito pelo Banco do Canadá. Nesse país do continente americano do Norte, os percentuais são menores que os do Brasil, sendo de 2% nos duráveis, cerca de 20% nos serviços de entretenimento e aproximadamente 10% nos demais itens.
Em relação às atividades de entretenimento que devem voltar com mais força, com a expectativa de controle da pandemia, os shopping centers, os bares e restaurantes e os hotéis e pousadas se destacam. Cerca de 65% afirmam que voltariam a frequentar esses serviços. Alguns com cautela, outros, sem restrições... Aviões, ônibus de viagem e praias aparecem com quase 60%. Cinemas e teatros, com 45%. Shows, com 30%. Praticamente todos os percentuais subiram em relação à pesquisa de janeiro, quando foi iniciado o programa de vacinação no Brasil.
Na pesquisa, foram ouvidos 1.610 consumidores em junho. A margem de erro da pesquisa é de 2 pontos percentuais e o grau de confiança de 95%.