Bolsonaro está certo quando chama a CPI do Senado de ‘CPI de Bandidos’. Essa é a ideia: Comissão Parlamentar para Investigar Bandidos. Será que isso explica também por que os auxiliares de Bolsonaro discutem nos bastidores como blindá-lo das recentes denúncias contra o seu governo em relação a contratos de vacinação?
O fato é que Bolsonaro está afundando nas pesquisas eleitorais. O respeitável público está abrindo os olhos para esse Bolsonaro sem blindagens e que está tendo que encarar a realidade nua e crua. As crises constantes têm atingido uma de suas bandeiras principais eleitorais, a de que não haveria irregularidades em sua gestão.
“Não conseguem nos atingir”, disse ele, deixando escapar com isso que foi atingido mortalmente. Ele ainda tenta reagir, atirando de volta: “Não vai ser com mentiras ou com CPI, integrada por sete bandidos, que vão nos tirar daqui. Temos uma missão pela frente: conduzir o destino da nossa nação e zelar pelo bem-estar e pelo progresso do nosso povo”. Bela missão. Por que não fez nada disso até agora? Mais de meio milhão de mortos gostariam de ter uma resposta convincente...
Aliás, parece que até os seus assessores criticam a sua demora em reagir a turbulências, principalmente as que surgem a partir da CPI da Covid no Senado. Por que será? A CPI está conseguindo realmente identificar o verdadeiro culpado por tamanha desgraça que desabou sobre o país? E por que esse Roberto Ferreira Dias da Diretoria de Logística do Ministério da Saúde foi afastado? Ele é mesmo o culpado de alguma coisa? A Folha publica que ele ficou “desgastado nas últimas semanas em razão das suspeitas em torno da compra da vacina indiana Covaxin”. Mas ele só foi exonerado após o representante de uma vendedora de vacinas afirmar à Folha que recebeu dele pedido de propina de US$ 1 por dose em troca de fechar contrato. O mesmo tem ocorrido em relação ao líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), apontado como um dos fiadores da indicação de Dias. Bolsonaro resiste em tirá-lo do posto, à espera de que o próprio deputado abra mão.
O agravamento da crise pela compra das vacinas teria forçado Bolsonaro a evitar até mesmo seus apoiadores, que às vezes o colocam em saia-justa com perguntas delicadas. Desde terça-feira, 29, os eleitores bolsonaristas não estão sendo autorizados a entrar no Palácio da Alvorada (talvez seja o caso de procurar o Palácio do Crepúsculo...). Ao mesmo tempo, Bolsonaro sofre pressão no Congresso. Para amenizar, passou a tratar os deputados como "amigos do Poder Legislativo". Não é uma gracinha? Ah, sim, e mais uma vez exaltou o apoio das Forças Armadas! Disse ele: “Só tenho paz e tranquilidade porque sei que, além do povo, tenho as Forças Armadas comprometidas com a democracia e a nossa liberdade. Pode ter certeza de que temos uma missão pela frente e vamos cumpri-la da melhor maneira possível." O problema é que esse ‘missão’ dele reza por outro Pai nosso...
Em Mato Grosso do Sul, Bolsonaro participou da inauguração da Estação Radar de Ponta Porã, com capacidade de detectar aeronaves com precisão a longas distâncias pela Força Aérea Brasileira e, logo que chegou, o seu esquema de segurança liberou o espaço para que apoiadores entrassem no local. Houve registros de aglomerações e muitos não usavam máscaras. Além da inauguração, participou de um almoço no Sindicato Rural de Ponta Porã. O ministro das Comunicações, Fábio Faria, veio a público para colocar em prática a estratégia traçada. "A respeito da denúncia sobre suposto pedido de propina pedido por um ocupante de cargo comissionado no governo, pontuo: o servidor foi exonerado prontamente porque a postura que ele teria tido, segundo a acusação, vai contra todas as diretrizes do governo, que abomina corrupção", escreveu Faria numa rede social.
Exonerado do cargo após as denúncias de propina à Folha, Dias já havia sido citado pelo deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) que, com o irmão Luis Ricardo Miranda, chefe do departamento de importação do Ministério da Saúde, denunciou suspeita de irregularidade no contrato de compra da vacina Covaxin. O deputado teria dito que esse Dias é quem dava as cartas na Saúde. Desde as denúncias feitas pelos irmãos Miranda, o caso virou prioridade da CPI da Covid no Senado. E na terça-feira, 29, Luiz Paulo Dominguetti Pereira, que se apresenta como representante da empresa Davati Medical Supply, disse à Folha que Roberto Ferreira Dias cobrou a propina em um jantar no dia 25 de fevereiro, em Brasília. Será que tem foto? Gravação? Jurou por Deus?
A empresa Davati teria buscado a pasta para negociar 400 milhões de doses da vacina da AstraZeneca com uma proposta feita de US$ 3,5 por cada (depois disso passou a US$ 15,5). De acordo com Faria, o contrato com a AstraZeneca e a Fiocruz — responsável pela produção no Brasil — foi assinado em julho do ano passado. "Portanto, não precisaria de intermediários em fevereiro deste ano para tratar de vacinas", afirmou, encerrando que "toda suspeita será investigada, com transparência e honestidade".
Nessa quarta-feira, 30, a Folha revelou emails que mostrariam que o Ministério da Saúde negociou oficialmente venda de vacinas com representantes da Davati Medical Supply. Um dos emails teria sido trocado às 8h50 do dia 26 de fevereiro deste ano, por meio do endereço funcional de Dias, "roberto.dias@saude.gov.br", e "dlog@saude.gov.br" (departamento de logística). E, na conversa, Luiz Paulo Dominguetti Pereira é citado como representante da empresa.
Enquanto isso, a CPI antecipava para esta quinta-feira, 1º, depoimento de empresário que denunciou propina bilionária no governo Bolsonaro.
São muitas as emoções provocadas pelo coronavírus do Planalto!